Thursday, June 3, 2010

SOLDADOS,ARMAS,A CRUZ E O AMOR

.


Soldados, Armas, A Cruz e o Amor


As armas, as especiarias, a cruz e o amor são factores importantes para a fixação do homem luso no Oriente.

Assimilou-se a outras etnias com facilidade. Não abandonou os filhos que mulheres lhe deram com quem casaram debaixo dos preceitos da Igreja Católica. Formaram comunidades luso/descendentes, que ainda estão vivas, em Malaca e Singapura, adaptaram-se ao meio que os acolheu. Foram amados pela magia da submissa mulher oriental.

O homem português na Ásia nunca esqueceu a pátria que os viu nascer. O berço que lhes tinha sido madrasto, aliás o tinha sido para os portugueses quinhentistas. Pela ironia do destino a migração continuou por séculos mas fica-lhe para sempre na mente e no coração o amor pátrio. Transmitiu o seu Portugal à família constituída. Estivesse no Sudeste Asiático ou no Japão.

Podemos tomar o exemplo de Venceslau Morais, no seu exílio nipónico que embora tivesse escrito e enviado dezenas de cartas e postais ilustrados a Francisca Palu, para Nelas (Beira Alta), nunca referiu a Francisca a intenção de regressar a Portugal. A memória do Consul de Portugal em Kobe, no longínquo país do Sol Nascente, ficou para sempre nos anais das relações culturais entre Portugal e o Japão, depois da sua morte.

Fernão Mendes Pinto, quando regressou a Portugal, pobre como um Jó, apelidado de mentiroso, quando apoquentado pela nostalgia do Oriente, quase no fim da sua vida, sentava-se na margem do Tejo, esperando as caravelas, de velas desfraldadas ao vento, com a Cruz de Cristo, para que as tripulações lhe transmitissem coisas do Oriente.

Pinto, o imaginário, "aldrabão" na mentalidade dos portugueses da época e acossado pela "gadanha" da censura, demolidora, da Santa Inquisição, reportou as realidades do Oriente como nenhum português, até hoje, as escreveu na sua Obra, em dois volumes a "Peregrinação".

Os portugueses chegados ao Sudeste Asiático, não fugiram à regra da época. São humildes, ordeiros, fiéis aos Reis que servem, como soldados mercenários, fossem estes do Sião ou do Pegú (Birmânia).

Lutaram homens lusos, irmãos de sangue, em campos adversos, embrenhados na poeira provocada pelas patas, as bestas de guerra, dos elefantes. Milhares envolvidos como se fossem tanques nas guerras contemporâneos...

Os gemidos desses portugueses, feridos na peleja, encontraram o apoio moral e espiritual do irmão, inimigo, no campo de batalha em Lampang. Passados 450 anos, da coragem dos soldados portugueses e talvez a única no mundo, o feito, ainda se encontra na memória dos lampanguenses.

A seiscentos quilómetros de Bangkok, os canhões portugueses, estão expostos em um jardim público na cidade de Lampang, no Norte da Tailândia, num fortim, no templo Budista, "Prakaew Dao Tao".

No museu, do mesmo templo, estão duas armas ligeiras da grande peleja... O templo, para a sua melhor defesa, foi murado e no cimo destes foram montadas as tradicionais e bem conhecidas ameias portuguesas que trazidas para a Banguecoque moderna; imortalizadas no Grand Palace, na Montanha Dourada, e em outros sítios que ficam para sempre: Monumentos de Portugal na Tailândia.

Há quinze dias estivemos em Lampang, onde ficámos debaixo de emoção que nos orgulha de sermos portugueses.Sente-se melhor a chama da pátria quando dela estamos afastados. Vem-nos à memoria a pequena e grande nação que tivemos. Um Portugal que transforma o mundo depois de 1500.O elo de ligação entre o Ocidente e o Oriente.
José Gomes Martins


Escrito em 1997 - Os canhões a que me refiro, desapareceram do Jardim Público em Lampang. Certamente transportados para outro local dado que na última vez que ali estive (Dez. 2008) os não encontrei. Dado que são peças de fogo grosso devem figurar em outro lugar que vamos procurar na próxima visita a esta simpática cidade do Norte da Tailândia.


No comments: