Rei Chulalongkorn do Sião Visitou Portugal
(3ª Parte)
(Terceira e última parte)
O dia de hontem no Hotel Braganza – A Partida – outros pormenores
Sua magestade o rei de Siam recolheu ao seu quarto as 2 ½ horas da madrugada de hontem depois de tomar chá, conforme dissemos á ultima hora.
Segundo o programa devia o monarcha siamez partir hontem para Cintra, a convite dos reis de Portugal.
Devido porém ao seu mau estado de saude em consequencia da viagem e das sensações dos ultimos dias sua magestade siameza nao sahiu hontem do hotel, recusando-se a visitar a cidade ou quaisquer monumentos.
Tambem não foi a Cintra conforme o telegramma que publicamos, dirigido a ultima hora a el- Rei D. Carlos pelo marquez de Fronteira, traduzindo a vontade do monarcha oriental.
A este respeito uma folha da manhã faltou a verdade dizendo que o rei do Siam partia para Cintra ás 11 horas da manhã.
Em virtude d’esta informação muita gente se reuniu junto ao hotel Braganza para ver partir a magestade, mas ficaram só com o desejo de o verem.
O resto da noite passou-se no hotel sem a menor novidade, descançando tranquilamente o rei e a sua comitiva.
No Hotel Braganza
O sequito do rei de Siam levantou-se hontem as 9 horas da manhã, entregando-se ao doce entretenimento de fazerem e tomarem chá, para o que todos trazem os objectos necessários.
No quarto do monarcha siamez foi servido ás 11 horas um petit dejeuner, constando de carnes frias e chá.
Ao meio dia recebeu sua magestade o sr. coronel de engenharia Firmino da Costa, antigo governador de Macau e ministro em Siam, o seu filho, o sr. alferes de cavallaria Raul Costa, que foi addido militar n’aquella corte.
O almoço
Pouco depois da 1 hora da tarde, realisou-se o almoço a que assistiram os dignatários portuguezes, comitiva, officiaes da guarda, dirigindo-se todos para o salão nobre, onde a banda de infantaria, 5 a que a guarda pertencia toocou constantemente, executando o himno de Siam.
Era o seguinte o MENU
Hors d’Oeuvre
Langue a l’ écarlalo
Saucisson de Lyon
rufs bonnilles
Emmenthas
Noisette de veau ]a la Villeroy
Filet de boeuf
Roti
Pommes Poat Xeuf
Salada saison
Féves á la portugaise
Bread pudding
Duchesso Chantilly
Dessert
Bucellas, Collares, Porto, Chateu Lallift,
Champagne
Café et liqueurs
Terminado o almoço á 1 ¾ da tarde, o monarcha recolheu aos seus aposentos onde mais tarde recebeu a visita do sr. conselheiro Mathias de Cravalho, portador das condecorações para o rei, filhos, ministro, secretário e ajudante.O sr. barão de S.Pedro, chefe do gabinete do ministro dos estrangeiros, entrou pouco depois conduzindo as insignias das ordens conferidas á comitiva do rei de Siam.
Antes d’isso, o soberano siamez enviara cartas de despedida aos ministros portuguezes, corpo diplomatico, condes de S. Januario e de Sabugosa, presidente da camara municipal, marquez de Pombal e governador civil.
Durante o almoço, Chulalongkon disse ao sr. marquez de Fronteira que tinha gostado muito da capital de Portugal, o que sentia não poder permanecer em Lisboa, por causa dos seus negocios em Siam.
Disse ainda que estava encantado com a cordealidade do nosso povo, e referindo-se ainda á festa de Cascaes, achou a surprehendente e a melhor a que tinha assistido na sua viagem pela Europa.
No hotel estiveram tambem os srs. almirante Baptista d’Andrade, Custodio Borja e coronel Duval Teles.
A tarde decorreu com as visitas d’alguns personagens e empregando-se o soberano de Siam em dictar ao seu secretario particular cartas de despedida que a magestade assignava depois
Nesses documentos honrorosos para quem eram dirigidos, achavam-se inseridas as phrases mais dignas e levantadas, mostrando o monarcha siamez a sua gratidão pela forma como fora recebido e tratado.
O jantar
Eram 7 ½ quando foi servido o jantar na sala grande do hotel. Era delicadissimo o seguinte:
Menu
Purde sauloise
Ox-tail petit timbales Mosratite
Saumon du rhin sauce guevise Holladaise
Guissol do chevreial grande Veneur
Gabidella à la portugaise
Caisse de foie gras en belle vuo
Asperges sauce supréme
Chapon du Mana troflées Buinofe d’ecrevisses
Caroune de fruits voilée
Cassiés de Colombe
Coeur de Nougat Belem
Dessert vins
Champagne, café et liqueure
Assistiram ao jantar os principes, comitiva, dignatarios e officiais da guarda.
Á’excepção dos principes, que trajavam á paisana, o rei e a comitiva trajavam vistosos uniformes de gala, ostentando todos as veneras com que foram agraciados por el-rei D. Carlos.
O Jantar terminou ás 8,35 minutos, passando sua magestade e dignatarios a sala de fumar, onde estiveram algum tempo conversando.
O rei Chulalongkon e mais comitiva dirigiram-se para os seus aposentos, começando os preparativos para a partida. A banda de infantaria 5, sob a direcção do contramestre executou o seguinte programa:
Himno siamez – Recordações de Coimbra, variações de fado (nota: ilegiveis outras música para aqui serem designadas) e terminou com o hino do Sião)
Condecorações
Pelo monarcha siamez foram concedidas as seguintes condecorações; grã- cruz do Elephante Branco, ao sr. conselheiro Mathias de Carvalho; grã-cruz da coroa Siameza ao sr. barão de S. Pedro, chefe do gabinete do ministerio dos estrangeiros; commenda da ordem do Elephante Branco, ao presidente do conselho e mais ministros portuguezes, altos dignatarios e todos os officiais de cavalaria que fizeram guarda de honra, e ainda outras veneras para os seguintes officiaes portugueses: capitão António Maria de Lacerda Lobo, alferes Alves Peixoto, ambos de infantaria 16, alferes Francisco Paula Geraldes Barba, de caçadores 2; capitão Eugenio Candido Xavier, alferes Fernando Adolfo Costa, ambos de infantaria 5, e alferes Miranda de lanceiros 2.
Mercês portuguezas
São as seguintes as mercês offerecidas por el-rei D. Carlos ao rei do Siam e sua comitiva:
Banda das tres ordens a sua magestade Chulalongkon, banda das duas ordens ao principe real, e a grã-cruz da Torre de Espada aos dois principes restantes.
Ao ministro plenipotenciario de Siam acreditado em Paris, Madrid e Lisboa, gran-cruz da Conceição, ao camarista de Chulalongkon: e a gran cruz de Aviz ao seu ajudante commendas da Conceição e ao medico do monarcha siamez e ao secretario, sendo os restantes personagens que compoem o sequito do monarcha asiatico agraciados com commendas e habitos de Christo.
As respectivas insignias foram hontem entregues no Braganza pelo sr. conselheiro Mathias de Carvalho, ilustre ministro dos negócios estrangeiros.
Infante D. Affonso
A sua alteza o sr. infante D. Affonso, foi entregue ante-hontem pelo rei de Siam a gran-cruz da coroa siameza, cravejada de brilhantes e outras pedras preciosas.
Rainha D. Maria Pia
Sua magestade a rainha a sr.ª D. Maria Pia enviou hontem á noite ao rei de Siam, por intermedio do sr. marquez de Fronteira, tres photografias, com dedicatórias escriptas em ingles pelo seu proprio punho.
As photografias em varias poses foram tiradas quando a soberana tinha 23 annos.
Notas
- Alem das pessoas que acima mencionamos, que estiveram no Braganza, ha a mencionar os srs. conde de Sabogosa, D. João d’Alarcão encarregado de negocios da Belgica, ministro de Hespanha, nuncio de Sua Santidade, visconde de Villa Boim, etc..
- Hontem de tarde quando a banda d’infantaria 5 executava no jardim do hotel diversas peças de musica, o monarcha siamez mandou pedir que parassem, para poder repousar algum tempo.
- Uma das coisas que mais maravilhou o rei do Siam foi o gaz acytelene, propriedade do sr. J.P. Dumas, com estabelecimento na rua de S. Nicolau.
Aquelle cavalheiro, que é francez, esteve hontem falando com sua magestade Chulalongkon, a quem foi apresentado por sua alteza o principe Ghira, e com o qual conversou durante algum tempo.
- O sr. Dumas tratou com o monarcha siamez da instalação do gaz acetylene no reino de Siam, ouvindo-o sua magestade attentamente e dirigindo-lhe differentes perguntas ácerca do maravilhoso invento.
- Tendo o monarcha declarado que nunca vira luz tão brilhante e tão intensa, prometteu estudar o assunpto fazendo contudo, desde já, uma encommenda de um aparelho de 150 bicos e 2 aparelhos de 200 bicos para iluminação do seu palácio de Bangkok.
- As provas de consideração e ammabilidade do rei de Sião captivaram sobremaneira o sr. Dumas, que tambem ficou agradavelmente impressionado com a maneira como o principe Ghira o acolheu e tratou.
- Para o Kediva do Egypto, foi hontem expedido um telegrama participando a proxima chegada ali de Chulalongkon.
Ao mestre de ceremonias pedia que lhe reservasse aposentos.
- El-rei Chulalongkon presentiou hontem o sr. conde de S. Januario com um rico annel de brilhantes.
- O sr. Santos Junior, emprezario do Colyseu dos Recreios, entregou hontem de tarde ao sr. marquez de Fronteira, para sua magestade, o programma do espectaculo impresso a ouro em setim azul e branco.
- Até ás 9 horas da noite de hontem, tinham sido entregues no Hotel Braganza 367 cartas pedindo esmola constando-nos que o monarcha siamez deixará uma quantia avultada para tal fim, cuja distribuição será feira no governo civil.
A importancia dada á mesma guarda de gratificação foi de 21$340 reis.
- Sua magestade mandou hontem comprar sellos e estampilhas de todas as taxas do actual reinado, afim de colleccionar, á imitação do que tem feito em outros paizes.
O rei mandou tambem comprar uma grande porção de photographias de differentes pontos de Portugal, e dos mais curiosos monumentos, entre os quaes Cintra, Porto, Coimbra, Batalha, Lisboa, Jeronymos, etc..
Essas photographias foram adquiridas no estabelecimento do sr. Antunes na rua Garrett, frente aos Martyres.
- A guarda de hontem era commandada pelos srs. capitão Xavier e alferes Costa.
- O serviço de policia, como sempre, feito sob a excellente direcção do chefe Joaquim Pedro.
- Na rua Paiva d’Andrada conservou se sempre muito povo, durante todo o dia de hontem, não retirando d’ali apezar dos aguadeiros que caiam de vez enquando.
- As cartas dirigidas ao rei do Siam, pedido esmola, eram escriptas em inglez, frances e portuguez.
- Foi grande o movimento de telegrammas expedidos pelo rei do Siam e sua comitiva.
Um telegrama expedido hontem para Bangkok importou em 193$795 reis.
- Durante os dois ultimos dias tem estado uma pessoa a traduzir em inglez dodos os artigos publicados no Diario de Noticias, relativamente á viagem e a estada do rei de Siam em Portugal.
- Hontem, pelas 11 horas da manha, foi acommetido de doença repentina o 2º cabo nº 12 da 4ª companhia de infantaria 5, Manuel Colaço, que fazia parte da guarda de honra.
Foi conduzido ao hospital da Estrela onde ficou na enfermaria de cirurgia.
- O policia ás 2:30 de hontem encarregado de conduzir um magnifico album dourado, de Estoril e Cascaes, afim dos camaristas de suas magestades o fazerem assiginar pelos soberanos.
O album era do Rei Chulalongkon e contém assignaturas de todos os membros das familias reinates dos paizes que tem visitado.
A decapitação
Com bom fundamento podemos desmentir o que alguns jornaes teem affirmado acerca do descontentamento do rei de Siam com dois dos seus ajudantes.
A importancia do caso não e nenhuma, visto tratar-se apenas d’um simples castigo e não d’uma decapitação.
O caso é o seguinte:
Dois empregados de casa de Chulalongkorn, actualmente em Milão preparando os aposentos para o rei, incorreram n’uma falta, parece, divulgando a alguns jornaes francezes, do Gaulois e do Temps, pormenores da vida particular do seu soberano no seu harem de Bangkok.
Estes factos chegaram aos ouvidos do rei, que resolveu castiga-los, é verdade, mas nunca cortar lhes a cabeça!
A partida
A partida do rei de Siam e do seu sequito realisou-se como tinhamos dito ás 11 horas da noite com destino a Barcelona e Napoles, embarcando n’este ultimo ponto no seu hiat de recreio.
A’s 10 horas porém, ja na gare do Rocio se viam muitas senhoras e cavalheiros lembrando-nos dos seguintes nomes:
Presidente do conselho, Ressano Garcia, Augusto José da Cunha, Mathias de Carvalho, Barros Gomes, tenente coronel Moraes Sarmento commandante da policia, Elvino de Brito. D. Angel Ruala, ministro de Hespanha, dr. Zolimo Pedroso, marquez de Pombal, conde da Guarda, visconde de Grabella, Martinho Guimarães, D. João d’Alarcão, conde de S. Januario, generaes Gallhardo, Guerreiro, Menezes e Campos, D. Fernando Angeja, coroneis Alberto d’Oliveira, Aboim, Monteiro, Rodrigues da Costa e Prazeres, tenente coronel Sousa Machado, Serrão, Passos e Mendonça, majores Doria, Ribeiro e Barros, capitão Dias e Novaes, grande numero de officiaes de todos os corpos, funccionarios publicos, etc..
Tanto na estação como no vestibulo inferior a multidão era enorme apesar da noite chuvosa, sendo ali feita a policia por 60 guardas sob as ordens do sr. Teixeira, coadjuvado pelos chefes Ribeiro, Antunes e Amorim.
No largo do Carmo formava a guarda d’honra que era feita por infantaria 2, que mais tarde passou para a cal;ada do Duque.
A’ 10,40 minutos chegava a estação el-rei o sr. D. Carlos, trajando o grande uniforme de marechal general, sendo acompanhado pelos srs. marquez d’Alvito, major Chartres d’Azevedo, e capitão tenente Velez Caldeira.
Pouco depois chegava o sr. infante D. Affonso, com o uniforme de tenente coronel, d’artilheria, ia acompanhado pelo sr. D. Fernando de Serpa.
Finalmente ás 11 horas menos 5 minutos, dava entrada na gare o rei asiatico com a sua comitiva, trajando todos o uniforme da guarda real de Siam, ostentando todos as veneras portuguezas com que acabavam de ser agraciados.
Os dois monarchas, o infante e todo o sequito e estado maior, dirigiram-se para o comboio e parando junto ao salão, o rei Chulalongkon agradeceu ao sr. D. Carlos a recepção de que fora alvo, fazendo votos pelas venturas do soberano portuguez e de sua augusta familia.
Trocadas as despedidas, o rei siamez subiu para a carruagem, conservando-se Chulalongkon, na plataforma até o comboio partir.
Antes, porem, da machina arrancar, el-rei D. Carlos subiu ao estribo e apertou mais uma vez a mão ao regio viajante.
A’s 11 horas em ponto. hora mathematica, ingleza, a locomotive silvou e o comboio partiu levando o eregio hospede e a sua comitiva fazendo todos continencia ao rei de Portugal, que correspondeu de igual maneira.
El-rei D. Carlos e seu augusto irmão, retiraram depois para o caes do Sodré onde tomaram o comboio para Cascaes.
- Até á estação da Avenida foi o rei de Siam escoltado por uma força de cavalaria.
- O comboio real era composto de 3 fourgons para as bagagens de Chulalongkon, uma 1ª classe, 3 carruagens salão, um “coupé leito” e salão-cozinha, e era rebocado pelas machinas 0,92 e 0,80.
Seguiram no comboio os srs. Inspectores Dias e Brito.
- O regimento que fez a guarda de honra, retirou sempre debaixo de chuva torrencial, indo todos encharcados.
- Depois da partida do rei, do hotel Braganza, retirou a guarda para seu quartel.
Ficou porem ali uma força de 3 soldados e 1 cabo para guardar as barracas de campanha e utensilios militares.
Os bilhetes de visita do general Phya Scharàja são concebidos nos seguintes termos:
Le general major
Phya Schardja Tejo
Conseiller privé
Aide de champ de S.M. le Roi de Siam
E’ curioso que o appellido seja o nome do nosso rio Tejo, ou cousa que em siamez se escreva pela mesma forma.
Uma nota curiosa da soirée em Cascaes:
O rei de Siam apreciou muito os fios de ovos que lhe foram servidos, elogiando aquelle doce e fazendo notar a seus filhos, como sendo o que em Siam é de ha muito conhecido como portuguez.
Portuguezes no Siam
Segundo o ultimo relatorio do consul de Portugal no Siam, referente a 1891, existiam sob a protecção do nosso consulado de Bangkok, em outubro d’aquelle ano:
15 portuguezes
15 portuguezes de Macau, empregados do governo e de particulares:
40 portuguezes nascidos em Siam e vivendo quasi como siamezes, maiores e menores de ambos os sexos.
60 chinas protegidos, negociantes e artistas, mas pobres, com excepção de seis ou sete.
Dizia o consul:
Devo notar aqui, com satisfação, que os empregados portuguezes, ao serviço do governo siamez, são pessaos respeitáveis e honestas. Os empregados particulares são pacificos e contentam-se com modestos ordenados.
Relações commerciais
No relatório, a que acima nos referimos, diz que infelizmente Bangkok, não tem laços commerciais com Portugal ou suas colónias. Importar generos de Portugal em Bangkok é cousa impossivel. Exportar generos de Bangkok para Portugal é possivel desde a madeira de teca e o arroz que se vae comprar a Londres e a Bremen, podia levar-se directamente d’aqui.
Descarrilamento do comboio
O comboio que, ante-hontem a noite, saiu de Lisboa, com o rei de Siam e sua comitiva, ao passar entre as estações de Sacavem e Povoa de Santa Iria, mais proximo d’esta estação, apanhou um enorme jacto de agua acompanhado de areia, pedregulhos e arvoredo que fez descarrilar as rodas da frente da locomotiva, indo assim o comboio alguns metros.
O machinista empregou o freio automatico fazendo parar o comboio quasi instantaneamente.
A grande cheia occasionada pelas chuvas torrenciaes que cairam das 10 horas da noite em diante, havia inundado a linha ferrea de agua, pedras e pedaços de arvores. Pontos havia onde a espessura d’estes residuos convertidos em verdadeiros actritos era superior a meio metro.
Para isto concorreu tambem a maré ter aquella hora subido consideravelmente, espreguiçando-se por terra dentro.
O comboio esteve parado até que, chegados os soccorros de Lisboa, e sahidos da estação de Santa Apolonia, foi rebocado por uma machina até proximo de Sacavem, onde se conservou até ás 6 ½ da manhã, horas a que continuou a sua derrota.
O monarcha siamez, seus filhos e demais comitiva, deram pelo succedido pela paragem prolongada do comboio e sendo informados por mr. Couturier, inspector da companhia dos wagons lits, que acompanhava o comboio, trataram de cear, no restaurante car.
No comboio de soccorro, foram de Santa Apolonia os srs. engenheiros João Ferreira Mesquita, chefe do material e tracção da Companhia Real, e Guedes, sub-chefe do movimento.
O engenheiro de via e obras da mesma companhia, sr. Antonio de Vasconcellos Porto, que regressou da Beira Baixa, de visita de inspecção aquella linha, e nãopodendo passar da estação da Povoa, por causa do descarrilamento, saiu d’esta estação na locomotive,e veiu até ao ponto onde se achava o comboio descarrilado, tendo a marcha sido feita com todas as precauções.
Os socorros não se fizeram esperar, e um piquete numeroso de trabalhadores da via, sob a direcção do sr. Figueiredo, chefe da secção, tratou de desobstruir a linha, em quanto que outros carrilavam a locomotiva.
O trabalho foi executado debaixo de uma chuva copiosa, á luz de archotes e pharoes com dedicação e presteza.
Ao raiar do dia e, tendo acalmado a chuva, o rei, seu filhos e alguns dignatários, apearam-se do comboio e estiveram conversando com os engenheiros e vendo os destroços causados pelo temporal medonho.
O principe, informou-se com certo interesse do occorrido com o sr. engenheiro Vasconcellos Porto, procurando conhecer todos os pormenores e elucidando depois seu pae, o monarcha que attentamente o escutara.
Uma das cousas que impressionou os regios visitantes foi a imponente vista que o terreno apresentava e o denodo com que os empregados da via trabalhavam, enterrados n’aquelle mar de lama, completamente encharcados durante mais de cinco horas.
Depois de saberem que se podia porseguir na viagem ficaram muito stisfeitos e tomaram novamente os seus logares nas carruagens.
Felismente, nada ira a registar a não ser o estado em que ficou a linha.Entre Povoa e Alverca, a via ascendente ficou interrompida e, entre Alverca e Alhandra, a descendente.
Desde Sacavem até Azambuja, os prejuizos são grandes.
Hoje deve ficar o serviço restabelecido.
Por causa do descarrilamento, os comboios do Porto, Beira Baixa, Madrid e Badajoz chegaramm com atrazo de algumas horas a Lisboa.
O sr. engenheiro Porto, acompanhou até a estação do Entroncamento o comboio em que seguia o rei de Siam.
A empregados da via ferrea ouvimos dizer que ha muito não presenceavam noite tão medonha como a ante-hontem.
Recebemos os seguintes telegramas:
Povoa de Santa Iria, 24, ás 11 da m.
- O descarrilamento do comboio que conduzia o rei de Siam e sua comitiva deu-se entre o kilometro 14 e 15, proximo da fabrica de moagem de Santa Iria, sendo ali encontrado por um encarregado que da estação de Sacavem foi mandao pelo respectivo chefe, em consequencia da estação do Povoa demorar o aviso da passagem.
A machina ficou em parte fóra dos carris e todo o mais material nada soffreu.
Este incidente foi proveniente pela grande enxurrada que atravessou o linha ferrea e cubriu de entulho, pedras e terra. Logo que houve conhecimento do descarrilamento, que a principio se supunha ter occasionado desgraças, foi pedido para a estação de Lisboa pessoal e ferramentas que chegaram ás 3 ½ da madrugada. O comboio real depois de safo saío voltou á estação de Sacavem e passou a outra linha para seguir, saindo de Sacavem ás 7 horas da manhã.
Não só por a linha se achar interrompida naquele ponto como em outros, o movimento de comboios só teve começo depois das 8 horas da manhã.
Continuadas as chuvas e os campos estão alagados pelas cheias.
O comboio que saiu hontem ás 10 ½ da Avenida só pode seguir para o norte ás 8 horas da manhã.
Comunicações telegráficas
Povoa de Santa Iria, 24, m.
- A machine do comboio que conduz o rei de Siam descarrilou na estação da Povoa de Santa iria, não causando prejuizos além da demora na chegada dos comboios do norte e leste, que durou até ás 7 horas da manhã hora a a que o comboio real pode seguir a sua narcha a partiram para Lisboa os que vinham do norte e leste.
Madrid, 24.
- Passou na estação das Delicias ás 5,10 da tarde, em comboio expresso, o rei de Siam e a sua comitiva. Seguiram pela linha da circumvalação para a estação do Meio Dia em direcção a Barcellona.
(Correspondente).
Nota
O dinheiro que o rei do Siam deixou para os pobres de Lisboa foi um conto de reis, achando-se essa quantia já, ao que nos consta, nas mãos do sr. governador civil.
- Para os criados do hotel Braganza deixou o soberano asiatico um conto e seiscentos mil reis.
Estavam em maré de sorte estes serviçais.
- Os vinte e um mil réis que por ordem do rei de Siam foram distribuidos pela guarda, era diariamente e não por uma só vez como se poderia ter inferido da nossa noticia.
FIM
José Martins
P.S. Como nas partes 1 e 2 o material inserido, foi copiado, do “Diário de Noticias” de 22,23,24 2 25 de Outubro de 1897. As fotos inseridas foram copiadas, com a devida vénia, da publicação “ a Pictorial Record of THE FIFTH REIGN” editado pela “River Books Co. Ltd., em 1992 e distribuido pela “D.K. Book House Co., Ltd” Tel. 66 2 2455586
Fax: 66 2 2471033 (Bangkok – Thailand)
If you have any comment, contact me at maria@aquimaria.com
|
No comments:
Post a Comment