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Capítulo 1 E, depois de tantas andanças, por África, durante 15 anos divididos por Angola,Moçambique e Rodhésia (Zimbabwe) e acidentalmente, em 1977, encontrei-me na Tailândia na cidade de Banguecoque. O espírito português dos homens quinhentistas apoderou-se de mim. Esse entrou no meu ser nos bancos da escola primária,que frequentei na minha aldeia, situada no sopé da Serra da Estrêla. Surgiu o 25 de Abril e após a independência de Moçambique, em 1975, a Rodhésia deixou de ser um lugar estável e seguro para o homem branco. Paredes conspurcadas com literatura política de "cordel", comícios dos partidos quase diários que me levaram a não me adaptar ao viver de momento.Os meus amigos chamaram-me homem de sorte porque após três dias de chegar a Portugal já estava empregado, como mecânico, numa empresa distribuidora de bebidas com um ordenado de 8 contos, mensal, lá para os lados de Ramalde, no Porto, junto à Via Norte que ainda só ligava o Porto à estrada da Circunvalação. O homem emigrante português tem dificil adaptação a Portugal quando este permaneceu anos no estrangeiro, mesmo que tivesse sido nas ex-colónias. Um dia o milagre aconteceu: uma empresa americana necessitava de mecânicos para trabalhar no deserto da Arábia Saudita.Logo nessa manhã respondi ao anúncio e passado seis mêses estava a tomar o avião da TAP,para Londres e daqui para Dahran, na Arábia Saudita e na costa do Golfo Pérsico. Salário convidativo 38 contos, acomodação e em cada 6 semanas de trabalho contínuo, duas semanas de férias em Portugal com viagens de avião pagas de ida e volta. Bem me lembro, numa tarde quente do mês de Abril, quando a porta do avião foi aberta a baforada de vento quente que entra no espaço dos passageiros a cheirar a petróleo. Depois das formalidades, rigidas no aeroporto em procura de bebidas alcoólicas e material pornográficos (sem ter conhecimento) entrei na terra de religião muçulmana com uma garrafa de whiskie que inocentemente tinha adquirido no aeroporto de Heatrow na Inglaterra. Fui perdoado,dado ao desconhecimento, de uma dose de vergastadas,uns meses no calabouço e direito a um bilhete de uma viagem de retorno a Portugal. Depois de uns 10 minutos de doutrinação, lá deixei, no Serviço da Alfândega, o whiskie de rótulo preto e as 15 libras estrelinas que levava comigo,para as primeiras impressões. Não houve tempo para vencer o "jetlag"! O deserto, esse mar imenso seco, esperava por mim. Um motorista paquistanês, transporta-me durante quase um dia inteiro,ao direcção à fronteira do Koweit, através dessa imensão árida e de areias em movimento onde pela primeira vez admirei a maravilhosas mirages que apenas as conhecia pelos livros. Estas existe e ao longe verifica-se a transpiração da areia que nos dá a visão de pedras polidas, negras, na àgua da corrente do rio. |
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Capítulo 2 Chegado, ao fim da tarde, ao acampamento denominado G6 onde 16 técnicos de várias nacionalidades e cerca de 200 trabalhadores, paquistaneses, indianos, Sri Lanka e filipinos se dedicavam à prospecção de petróleo, ao serviço da empresa multinacional, americana, Texas Instrumentos, onde eram usados os mais modernos e sofisticados aparelhos de sismica computorizados. Não existem privilégios de "compadrio" ou mesmo proteccionismo de nacionalidade perante o manejamento. Foi assim que durante os quase dez anos que servi a Texas Instrumentos e com uma ponta de vaidade fui dado como mecânico engenheiro supervisor em vários países e ordenador do funcionamento de "workshops mecânicos", com trinta e mais mecânicos, sob a minha gerência, vitais para a boa produtividade das várias brigadas que operavam em diversas partes do deserto, montanhas da Turquia ou nos terrenos, planos, dos olivais da Tunisia. |
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Capítulo 3 A magia de Banguecoque, das suas simples e atractivas gentes, fez que voltasse nas férias de 6 semanas seguintes. A capital tailandesa cativou-me. A poluição era práticamente nula. O centro banguecoquiano era atravessado, às dezenas, por veículos de três rodas e popularmente conhecidos por "tuk-tuk" e uma invenção, da imaginação fértil, do homem tailandês que adaptou, motores a dois tempos, japoneses, aplicados a bombas de àgua ou a pequenos e manuais tractores agrícolas para fazer face às necessidades de transporte urbano da cidade que hoje, no ano 2000, ronda os cerca de dez milhões de habitantes. O baptismo vem-lhe do motor de reduzido número de rotações e compassadas explosões que produziam o ruído: tuk,tuk,tuk e daí o nome do popular triciclo já famoso no Mundo. Carros japoneses, muitos já de chapa corroída devido à humidade ensalitrada que paira, constantemente, na atmosfera de Banguecoque, serviam de táxis, sem taxímetro, cujas corridas eram ajustadas,discutidas com o motorista, antes da corrida. Destinei para o dia seguinte visitar a Embaixada de Portugal. Não fazia minima ideia a sua localização. Meti-me num táxi Blue Bird e assinalei, com o dedo indicador, ao motorista, no mapa de Banguecoque o círculo onde a bandeira da quinas servia de símbolo a dar conta do sitio. Descemos a avenida Sukhumvit, na Ploenchit cortamos à esquerda para a Wireless Road onde a percorri debaixo de frondosas àrvores de Jacaranda e no lado direito a Embaixada de Espanha, a Residência do Embaixador dos Estados Unidos da América e mais abaixo, do lado esquerdo a Missão Diplomática americana. Pouco depois chegava a Rama IV e em baixo o Dusit Thani Hotel de construção arrojada de 20 e mais andares (tal como hoje se encontra) e, os seus proprietários, na época, apostavam num futuro promissor para o turismo, dos dias de hoje na Tailândia. O motorista tomou a direcção da Silom Road, um centro comercial importante, onde os edifícios não tinham, os mais altos, de uns 6 andares. Ao fundo encontramos um T onde terminava a Silom. Cortamos à direita para a New Road (Chalerm Krung), a primeira rua construida, na zona ribeirinha e nas proximidades de fazer 100 anos... Depois de passarmos o elegante edifício dos Correios Centrais, construido no princípio do século XX, e no reinado do Rei Chulalongkorn, na travessa seguinte estavamos na Captain Bush Lane, 26 e à minha frente o Escudo Português, imprimido numa chapa oval de esmalte branco. O 25 de Abril tinha pouco mais de 3 anos de existência. O meu patriotismo quedava-se dentro de uma enormidade exuberante que não conseguia saber e descobrir o porquê de tão grande entusiasmo encontrar-me em terras tão longinquas numa Ásia Portuguesa, que ainda o era, as 5 Quinas e os 7 Castelos. Fiquei triste, porque ao lado direito da cancela de vara de "sobe e desce" quedavam-se uns armazéns, barracões, degradados, que não futurei ser o solo, onde as paredes assentavam, também de Portugal. Acompanhou-me até a um velho edifício (a Nobre Casa), que o apreciei antes de me apromixar e logo me saltou à mente uma casa de linhas arquitectónicas coloniais muito familiares em Moçambique. Murmurei: isto é que é a Embaixada de Portugal em Banguecoque? Atendeu-me, o vice-cônsul Souza, friamente, o que feriu a minha sensibilidade de Português. Perguntou-me a razão do porquê que ali tinha ido. Respondi-lhe: visitar a nossa Embaixada em Banguecoque. Informei-o de onde vinha e aproveitava a pedir a emissão de um novo passaporte dado que o que possuia estava a expirar as folhas. O José de Souza (que mais tarde o teria como colega) ia-me dizendo-me: vá pedi-lo ao Consulado de Portugal no Bharén (do outro lado do Golfo da Arábia Saudita). Mas eu tenho o Bilhete de Identidade comigo e a Lei diz que o posso adquirir com este documento de identificação. Li isto há pouco nos jornais... |
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Capítulo 4
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