Thursday, July 22, 2010

TAILÂNDIA: RESQUÍCIOS DE MINHAS MEMÓRIAS

Conheci o Prof. Phuthorn Bhumadhorn em 1988.

Aconteceu durante a inauguração e exibição dos achados, arqueológicos, encontrados de quando das escavações, em 1984, na paróquia de São Domingos no Bangueportuguete (Aldeia dos Portugueses) em Aiutaá.

Evento que teve lugar no Museu Nacional de Lopburi e instalado no antigo palácio do Rei Narai, cognomizado de Grande (Sec.XVII) e do qual Phuthorn Bhumadhorn era o director.

A exibição foi inaugurada pela Princesa Real Maha Chakri Sirindhorn, filha de S.M. o Rei da Tailândia Bhumibol Adulyadej, Embaixador de Portugal José Eduardo de Melo Gouveia e, ainda como convidado especial o Embaixador de França Ivan Bastouil.

A fazer a cobertura televisa estiveram os jornalistas da TDM (Macau) e meus amigos de longa data Gonçalo César de Sá (hoje director da Lusa Brasil) e o Avelino Rodrigues.

Por anos e, porque estagnei as minhas actividades (dado a outros afazeres), culturais nos moldes independentes e absolutamente por “carolice” (sem nunca ter pedido subsídios nem faço tenção de os mendigar), para que divulgue a História da presença portuguesa no Antigo Reino do Sião dentro do contexto da lusofonia de mais de 200 milhões de pessoas, deixei de ver, por anos, o Prof. Phutorn Bhumadhorn.

Em Junho, passado, resolvi escrever sobre Lopburi (embora que na mais antiga cidade da Tailândia e carregada de história não haja relatos, significativos, da presença portuguesa portuguesa, a não ser de Maria Pina de Guiomar, luso/japonesa, esposa do grego Constantino Falcão e pessoa influente na Corte do Rei Narai e a senhora que legou à Tailândia a especialidade de doçaria mais popular na Tailândia os fios de ovos).

Hoje (embora poucos portugueses conheçam a história de Maria de Guiomar) o hotel “Lopburi Inn” dedicou em sua honra um espaço, para recepções no primeiro andar e lhe deu o nome “Sala Maria de Guiomar” .

Nas minhas saídas de Banguecoque, normalmente, ando nos locais onde os portugueses passaram.

Entro nos templos budista, quedo-me a olhar os murais onde os artistas se expressavam com pincel nessas paredes a vida dos siameses da época; as guerras, as vitórias, o humorismo caracteristico dessa gente remota que ainda hoje o conservam; e a presença de estrangeiros.

Ando assim à procura das pessoas de “narizes” compridos cujo este me dão a certeza que são ocidentais dado que os orientais os têm achatados.

Em Lopburi fui visitar o Museu Nacional na esperança de encontrar o Prof. Phuthorn Bhumidhorn e não o encontrei.

Perguntei a um funcionário por ele e desde logo obtive o seu número do telefone móvel.

Do hotel liguei ao académico e, pairava em mim a dúvida se ainda se lembrava de mim, dado que 15 anos era um tempo alargado.

Na noite desse dia estavamos a jantar os dois num restaurante, ao ar livre, entre os arrozais de Lopburi.

O Prof. Phuthorn trazia com ele 12 cartas, escritas, num português perfeito, em 1680 pelo Constantino Falcão e uma outra recebida do Embaixador Mello Gouveia , em 1988, que me ofereceu.

Durante a ceia ligeira o tema da nossa conversa foi em cima do Rei Narai, do Constantino Falcão, do General Siamês Petraj, que retirou o (Poder ao rei Narai, dado que correu o boato que o monarca tinha sido convertido ao cristianismo pelos Jesuitas franceses), dos diplomatas e jesuitas franceses durante as suas permanência em Lopburi a partir de meados do século VXII.

No dia seguinte, depois de terminar a sua ocupaçao às seis da tarde como professor de uma escola secondária de Lopburi, onde leciona arqueologia, saiu comigo e foi mostrar-me o lugar, campo na proximidade de um templo, onde Constantino Falcão foi degolado por alta traição sob as ordens do General Petraja.

Aproveitou, depois, levar-me a visitar as ruínas do palácio de verão do Rei Narai.

Lugares que não conhecia e, que vieram a enriquecer os meus conhecimentos sobre a história da Tailândia.

O Prof. Phuthorn é uma pessoa fascinante, dialogante e, o tema das suas conversas recaiem sempre sob a história da Tailândia e especialmente em Lopburi.

No dia 2 de Agosto estavamos novamente a jantar, agora no “Lopburi Inn” e depois de uma longa conversa, sobre história, fez questão que no fim da tarde do dia 4 fosse jantar a sua casa a 10 quilómetros, distanciada, de Lopburi na direcção de Saraburi ao este da Tailândia.

De facto, pensava, antes de chegar a casa do meu anfitrião que iria encontrar uma moradia, de ferro e cimento e dentro dela, utensilios modernos, uma televisão de ecran panorâmico, aparelhos de emissão de sons estereofónicos e outras “coisas e loisas” que o homem moderno inventou para o viver confortável.

Fiquei completamente extasiado logo que cheguei à entrada das casas do Prof. Phuthorno!

A cancela de entrada feita de bambú e visiveis, de fora, as crutas de duas casas envolvidas em folhagem de bambú e no estilo siamês secular.

Depois de ter entrado estou perante um complexo de cinco casas, antigas, que o Prof. Phuthorn recuperou e fez transportar, desarmadas, de vários lugares da Tailândia e, depois ali reconstituídas com toda a fidelidade.

Casas antigas com tendência a desaparecer, nos meios rurais, para dar lugar a outras de cimento e de traço arquitectónico moderno.

Mas além destas relíquias, dentro delas estão expostas peças de cerâmica, etnográficas, canoas com mais de 300 anos e que navegaram nos rios, uma biblioteca, bustos, montes de livros avulso e outros arrumados em estantes envidraçadas.

Nas paredes, pendurados quadros, velhos, onde retratam em pinturas e fotografias a vida dos tailandeses no passado.

No conjunto uma foto com S.M. o Rei da Tailândia durante uma visita que efectuou ao Museu Nacional de Banguecoque e ainda outra da Princesa Real Maha Chakri na visita a sua casa/museu.

E já amarelecido o Diploma que lhe confere a Ordem de Palma Académica do Ministro da Educação de França em 1988.

O Prof. Phuthorn vive só naquele espaço maravilhoso de um quilómetro de extensão e de cerca de quarenta metros de largura.

Um criado, toma conta das casas, da confecção das suas refeições e cuida do coqueiral que fica para além da sua casa/museu.

Todas as portas das casas não têm fechadura mas apenas um fecho que as mantém fechadas.

Perguntei-lhe se não tereia receio de ser roubado e lhe levaram as peças, valiosas que ali possuia isto porque vivia num lugar de certo modo isolado ...

Não tenho foi a sua resposta.

Prof. Phuthorn de facto não é, verdadeiramente, um eremita durante a vida do seu dia a dia na sala de aulas de arqueologia e história, em Lopburi.

Periódicamente leva os seus discipulos aos meus diversos pontos da Tailândia e, no local explica-lhes o que ali aconteceu no passado.

Mas o seu espaço de vivência é mesmo eremítico e por tal o consideramos um “Eremita Cultural”.

José Martins
Agosto/2003

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