Thursday, July 1, 2010

CARTOGRAFIA

Dois mundos Fechados ao Universo Aberto

Nos finais do século XIV o conhecimento do Mundo é reduzido. As diferentes civilizações vivem numa descontínua e limitada comunicação e conhecimento. É a Idade dos Mundos Fechados, ou seja, o bloqueamento nas comunicações internacionais.

Então, as civilizações vivem, centradas sobre si próprias. As culturas exprimem uma atitude de isolamento e de fechos. As economias, predominantemente terrestes, são limitadas na quantidade e na variedade da produção e da circulação de bens.

A cartografia da Idade dos Mundos Fechados traduz a pouca informação existente sobre a Europa, a África e a Ásia. A imagem do mundo mistura atitudes etnocêntricas, das diferentes civilizações, com um imaginário que preenche os vazios de conhecimento verdadeiro.

No século XV os portugueses avançam no Atlântico e na costa ocidental de África.

A partir dos anos de 1420-1430 dá-se o povoamento da Madeira e das ilhas dos Açores. Em 1434 Gil e Eanes ultrapassa o Cabo Bojador limite tradicional das navegações no Oceano Atlântico. Nas décadas de 40 a 60 avança-se na costa africana da Guiné e na descoberta do arquipélago de Cabo Verde. Na década de 70 são descobertas as ilhas de Fernando Pó, S. Tomé, Príncipe e Ano Bom. Em 1483 o navegador Diogo Cão chega ao Congo-Zaire e em 1487-1488 dá-se a ligação Atlântico-Índico com o dobrar do Cabo da Boa Esperança por Bartolomeu Dias.

Nos finais do século XV, os portugueses estabelecem a comunicação marítima regular entre o Atlântico e o Índico, a Europa e a Ásia a partir da viagem de Vasco da Gama em 1497-1499.

A expansão dos portugueses no Mundo continua ao longo do século XVI. Na África Oriental, com expedições ao Monomotapa em 1512 e à Etiópia em 1520 e 1540.

Na América, em 1500, Pedro Álvares Cabral chega ao Brasil e os irmãos Corte-Real à Terra Nova. Em 1525, Estevao Gomes navega a Costa Oriental da América entre a Nova Escócia e a Florida e a Costa da Califórnia é conhecida, em 1542-1543, por João Rodrigues Cabrilha.

Na Ásia, os portugueses chegam a Malaca em 1509, às costas da China em 1513 e ao sul do Japão em 1543.

O conhecimento do Atlântico e da ligação com o Índico no século XV e a chegada ao Pacífico e ao Extremo-Oriente no século XVI permitem aos portuguese um conhecimento, global e objectivo, da terra.

As viagens marítimas dos portugueses revelam o essencial da Terra e da Humanidade contribuindo para a passagem de uma Idade dos Mundos Fechados a uma Idade do Universo Planetário Aberto.

A expansão dos portugueses no Mundo apresenta quatro categorias essenciais: Pioneirismo Temporal, porque antecendo em cerca se setenta a cem anos a expansão dos outros europeus; Dispersão Espacial, porque é a única expansão presente em todos os oceanos e continentes; Pluralidade Civilizacional, devido à capacidade de se organizar no mundo segundo duas grandes e diferentes modalidades a da intercomunicação, em África e no Oriente, e a da criação espacial, no Brasil; Universidade Cultural graças à caracteristica de adaptação e de comunicação com as diferentes civilizações.

A ÀSIA-PACÍFICO NOS PLANISFÉRIOS PORTUGUESES DO SÉCULO XVI

<<…Navega-se mais pela marinharia e boa estimativa que os pilotos têm do que pela que antigamente se descobriu..>>

DIOGO AFONSORoteiro de Navegação de Lisboa para a Índia, c.1535

<<…se sabe mais em um dia agora pelos Portuguese do que sabia em cem anos pelos Romanos...>>

GARCIA DE ORTA – Colóquios dos Simples e Drogas da Índia, Goa, 1563

O primeiro planisfério moderno é uma síntese dos conhecimentos e dos interesses do Ocidente e do Oriente.

“...é não só a mais valiosa relíquia da cartografia portuiguesa, mas talvez mesmo o mais precioso espécime da cartografia antiga existente hoje em todo o mundo...” A.Teixeira da Mota

Desenhada em Lisboa, em Setembro de 1502, é a primeira carta a representar as linhas do Equador e dos Trópicos. Apresenta uma apurada visão de toda a África, o mais, o mais antigo esboço cartográfico dos contornos do Novo Mundo (América) e a primeira representação não ptolomaica-tradicional da Ásia.

A novidade oriental reside, no Golfo de Bengala, na Península Malaia e na orla marírima da China. A cartografia destas regiões é acompanhada por uma abundante toponímia com dados sobre a latitude e as mercadorias de interesse. Por exemplo, a legenda junto a Malaca diz: “Malaca”. Em esta cidade há todas as mercadorias que vêem a Calecute. Ous seja, cravo, benjoim, linaloés, e sandalos, e estoraque, e ruibarbo, e marfim, e pedras preciosas de muita valia, e pérolas, e almisquer, e porcelanas finas, e outras muitas mercadorias. Todas na maior parte, vêem de fora contra a terra dos chins”.

Todas estas informações, existentes em Lisboa em 1512, foram obtidas na Ásia, a partir do contacto dos portugueses com a náutica, a cartografia e o comércio orientais.

Diogo Ribeiro (?-1533) é um dos mais célebres geógrafos portugueses. Cartógrafo dedicou-se, também, à construção de instrumentos náuticos e à invenção de uma bomba metálica para extracção de águas nos navios e nas minas. Foi, a partir de 1523, cosmógrafo-mor da Casa das Índias em Sevilha (Espanha).

Os seus planisférios são os primeiros a incluir motivos decorativos científicos e técnicos. Para além dos astrolábios náuticos e dos quadrantes surgem regras de navegação e abundante informação sobre as regiões.

No planisfério de 1525 surge o termo “CHINA” para designar o espaço até então chamado Cataio ou Índia Superior. Nos planisférios de 1529 é registada, pela primeira vez, a ilha de Tamão (Tunmen), na forma de “Ilha da Veniaga” lugar onde, em 1513, desembarcaram os primeiros portugueses na China.

Atenta representação do Sudeste Asiático e, muito em especial, da linha costeira da Península Malaia, de Samatra e das Molucas é umas das características dos planiférios de Diogo Ribeiro Continua........

(Informação e ilustração retirada (com a devida vénia) da “Cartografia do Encontro Ocidente-Oriente”, Comissão T. De Macau para as C. Dos D. Portugueses – sob o Patrocínio da Fundação Oriente, 1996)

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