CARTOGRAFIA
Terceira Parte
O astrolábio é um instrumento indispensável à navegação das naus portuguesas cuja sua utilidade é o de avaliar a posição dos astros e a sua altura acima do horizonte. Gil Vicente já o menciona na Capilaçam, fl.258 vs, ed. De 1562: <<> toda a hora>>.
O poeta dramático viveu na época do desenvolvimento e da expansão portuguesa e, há a necessidade, premente, de serem aperfeiçoados os astrolábios e que como se prevê: uma nova peça surgida, com outra inovação, a notícia corria célere em Lisboa e de que a Gil Vicente não poderia escapar.
Mas, melhor que nós e até porque somos leigos na matéria, António Estácio dos Reis da Academia da Marinha Portuguesa, escreveu dois excelentes trabalhos sobre os Astrolábios Portugueses e, publicados na não menos prestigiosa, publicação´(que ficou pelo caminho) “Oceanos” sobre a direcção de António Mega Ferreira nos números dois (Outubro de 1989) e sete (Julho de 1991), com os títulos genéricos
“Astrolábios Portugueses adquiridos em leilão na Christies” e “Viagem à roda de um astrolábio pintado”
No primeiro trabalho Estácio dos Reis dá conta de um leilão de salvados dos galeões, espanhois, “Nuestra Señora de Atocha”, “Santa Margarita” que naufragaram, em 1622, nas águas do oceano ao sul da América quando se dirigiam carregados de ouro, prata e bronze, para o porto de Sevilha.
É evidente que nesses galeões castelhanos, a mercadoria, nada tinha a ver com Portugal, mas só que os instrumentos, de navegação, onde se incluiam astrolábios, de fabrico português e, com isto havia a preocupação que os mesmos, não fossem parar a outras mãos e retornassem a Lisboa, donde tinham saído e com isto virem a enriquecer o espólio cultural, da época, dos descobrimentos. Assim foi procedida a arrematação, pelo telefone, do Palácio da Ajuda, durante um leilão que se efectuava na casa “Christie’s” de Nova Iorque. Três astrolábios e através das linhas de telefones foram arrematados por 30 mil contos, para figurarem no Museu da
Marinha e cujo o montante, da compra, bem se pode considerar uma excelente aquisição e investimento.
As novas tecnologias de submersão nas últimas décadas, fizeram com que fossem recuperadas grandes riquezas adormecidas no fundo dos oceanos onde repousam há alguns séculos.
Surgem, como é óbvio, os caçadores de tesouros.
Há centenas de naus afundadas devido a guerras, navais, com os piratas, temporais ou encalhes por todos os fundos dos mares dos oceanos.
Entretanto, para a quantidades de barcos naufragados, pouco tesouros foram trazidos à tona e recuperados.
Temos, por exemplo, a “Flor de la Mar” naufragada no Estreito de Malaca, capitaneada por Afonso de Albuquerque e perdida em 1511.
Desde há cerca de vinte anos, correm rumores, que a nau de Albuquerque foi localizada mas o certo é que não há a certeza que isso tenha acontecido. Mas ouçamos Estácio dos Reis:
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Segundo Estácio dos Reis o cartógrafo Diogo Ribeiro na fabricação dos seus astrolábios ter-se-ía inspirado num tábua com a pintura de S.Jerónimo onde junto a outros aparelhos de medição do tempo e certamente de ensaios quimicos se encontra pendurado numa prateleira de livros um astrolábio que se assemelha aos produzidos pelo Ribeiro na década de 1520.
Este planisfério apresenta, como particularidade importante, graduações de latitudes e de longitudes em todas as margens.
O prolongamento da carta pelo lado esquerdo permite apreciar a posição da China em relação à Califórnia e, pelo lado direito, representar completamente o Extremo-Oriente onde, a Costa da China, termina sob o meridiano dos 180º, por alturas de Chincheu. Numa das iluminuras surge o Imperador da China.
Na representação da Insulíndia nota-se, uma maior correcção, no desenho e
situação, da costa ocidental das Celebes do Estreito de Sunda e da ilha de Timor.
É o mais antigo planisfério português feito em Portugal após o de Cantino (1502) já que, o de Jorge Reinel c. 1519 e os de Diogo Ribeiro (quatro de 1525 a 1529) foram traçados em Espanha.
É a mais antiga carta em que o nome Japão vem registado, em ves do tradicional Cipango, e a sua primeira representação cartográfica não fantasiosa fruto das notícias enviadas pelos portugueses, para a Europa, a partir de 1543.
A Arquipélago Japonês surge como uma dupla correnteza de pequenas ilhas que começa na Formosa e que se dirige para leste e para norte até 41º onde está escrito ilhas de Miaco. No norte, junto a uma ilha maior, lê-se Japam.
A legenda de autor deste planisfério diz: “Lopo Homem cosmógrafo , cavaleiro fidalgo de El-Rei Nosso Senhor, me fêz em Lisboa, era de 1554 anos”.
Existe uma representação cuidada do litoral da China e da Península da Coreia. Pela primeira evz é registado o Liampo porto, possivelmente, em frente a Ningpo, usado como lugar de comércio dos portugueses ao longo da década de 40. Também Chinchéu (Ts’iuan/Tcheou(, escala portuguesa de com]ercio entre, principalmente, 1542 e 1549, na província de Fugian, é, pela primeira vez assinalada.
É a segunda vez que surge numa carta a palavra Japão. O arquipélago Japonês aparece ainda deformado como uma espécie de prolongamento da Península da Coreia.
O desenho e a toponímia desta carta são bastante ricos em especial, sobre os estabelecimentos comerciais dos portugueses no litoral da China, e formam um ponto de partida muito seguido, na segunda metade do século XVI, sobretudo, por Diogo Homem filho de Lopo Homem.
A cartografia conhecida de Diogo Homem data de 1557 e 1576 mas, em 1547, já era um conceituado cartógrafo em Inglaterra.
Trabalhando fora de Portugal, em Inglaterra e Itália (Veneza), a sua obra é, maioritariamente, composta por cartas da Europa e do Mediterrâneo.
“ Planisfério de André Homem, 1559. Blibliothéque National, Paris. A legenda de autor, em latin, diz: “André Homem, cosmógrafo lusitano, me fez em Antuérpia no ano de 1559”. Outra legenda diz: “Descrição completa de todo o orbe navegável, com todos os portos, ilhas, rios,promontórios, ancoradoutos, angras e baías, e ainda a medida muito certa dos graus, tanto de latitude como de longitude, de modo a nada faltar que apareça convir a um complexo tratado de cosmografia”.
Diogo Homem, em especial na representação da Ásia, África e América, reproduz a obra do pais, Lopo Homem, acrescentando uma abundante ornamentação.
” Representação dos finais do século XVI, de árvores, plantas e frutos orientais segundo Jan Huygen Van Linschoten na Histoire de la Navigation, Amesterdão, 1638.”
Sebastião Lopes (? – 1596) é um dos grandes mestres da cartografia portuguesa. A sua Primeira obra conhecida, uma Carta Atlântica, datada de Lisboa-1558 mostra que, ainda jovem, era já um cartógrafo consumado.
”Planisfério anónimo, c. 1583. Bibliothéque Nationale, Paris”
A partir de 1582 se não antes,encontra-se a trabalhar para o centro da cartografia portuguesa no Armazém da Índia sendo, ao mesmo tempo, professor examinador de outros cartógrafos, mais jovens, como por exemplo, Pedro de Lemos.
“ Homem observando com balestilha no Regimento da Estrela Polar com Balestilha. Anónimo Atlas português de 1 c. 1550-1560. National Museum, Greenwhich.”
Este planisfério é ocupadol por duas grandes massas terrestes bem definidas e inteiramente separadas: a América, e a Europa com a África e a Ásia. Existe uma
fantasiosa massa de terras árticas, que se estende ao longo da parte superior, formando, com o norte dos continentes asiático e americano as, então muito discutidas e procuradas, passagens do noroeste e do nordeste. Surge a mais antiga representação completa das Filipinas, correspondendo, mais ou menos, à realidade.
“Carta Universal, em projecção especial, na Cosmografia de Bartlomeu Velho, 1561. Bibliothéque Nationale, Paris.”
José MartinsFonte: Cartografia do encontro ocidente-oriente. Comissão Territorial de Macau para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses- Patrocinado pela Fundação Oriente em 1996.
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