Friday, January 29, 2010

A FEITORIA DE PORTUGAL EM BANGUECOQUE

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A NAU DA FANTASIA – RESQUÍCIOS DE UM PASSADO
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Se houveram, entre outras, figuras que me apaixonaram e geriram negócios de Portugal no Reino do Sião, foram: Miguel de Arriaga e Carlos Manuel da Silveira. Vamos ler, o que escreveu Isaú dos Santos:

“ Pouco tempo passado, a 23 de Dezembro de 1816, o Ministro siamês dos Negócios Estrangeiros agradecia a carta e os presentes, ao mesmo tempo
que manifestava grande interesse em que as velhas relações comercias e de amizade entre os dois territórios se restabelecessem.
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O Conselheiro Arriaga, satisfeito com o evoluir favorável dos acontecimentos, escrevia ao Barão de S. José de Porto Alegre, a dar-lhe esta boa notícia.
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Para garantir o reatamento de comércio e amizade em bases sólidas, o Vice-Rei da Índia enviava, a 30 de Abril de 1820, ao monarca siamês, o projecto de um tratado entre Sião e Portugal. com Sião. Foi seu portador Carlos Manuel da Silveira recém-nomeado cônsul e responsável da feitoria portuguesa em Banguecoque.
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Ao regressar a Goa, afirmou ter tudo corrido da melhor maneira. Aberto estava o caminho, pois, para as futuras relações. Silveira embarca na fragata “S.João Baptista”, com a missão de entregar ao Ministro dos Negócios Estrangeiros de Sião o esboço de um tratado de amizade, aliança e comércio, a ser negociado entre as duas nações e a servir de base para o novo relacionamento, tratado esse que nunca foi ratificado.
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O projectado tratado, corporizado em vinte e três artigos, focava três aspectos fundamentais: o reforço da amizade que sempre existiu entre os dois países, o estabelecimento do consulado e da feitoria e o relançamento de relações comerciais.
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A 21 de Agosto de 1821, Carlos Manuel da Silveira informava a Junta Provisional de Goa de que o rei de Sião pretendia a feitoria se estabelecesse o mais rapidamente possível e com ela o reatamento do comércio. A Junta Provisional não se mostrou muito empenhada neste processo. Silveira continuava, entretanto, sem saber o que fazer, mergulhado na mais extrema dificuldade financeira.
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Goa não parecia preocupada com a grave situação do representante português em Banguecoque e, por isso, o “statu quo” do consulado e da feitoria caminhava a passos de gigante para o descalabro.
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Definitivamente, a Junta Provisional não acreditava no sucesso das relações com o Sião e, daí, não ter hesitado em ordenar a extinção do consulado e da feitoria, através da sua portaria de 17 de Setembro de 1821.
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Macau e
ra de opinião contrária e tudo fez para que a presença portuguesa em Sião fosse uma realidade. Goa acabou por ver na manutenção daquela situação alguma utilidade, mas as coisas continuavam a ir de mal para pior.
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Silveira, acossado pela necessidade de sobrevivência, viu-se obrigado a contrair dívidas e mais dívidas, sem possibilidades de as saldar.
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Goa alertou o Senado de Macau para esta degradante situação, mas nada foi feito porque a edilidade macaense padecia, também, dos mesmos males.
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Isto não podia manter-se por mais tempo. Era a imagem do país que estava em jogo. Macau e Goa não podiam protelar a resolução deste problema. Por isso, o Governador da Índia, D. Manuel da Câmara, em 6 de Abril de 1824, ordenava ao Leal Senado que pagasse as dívidas do cônsul e de seu secretário para que as autoridades siamesas os deixassem regressar a Goa e perguntava-lhe, ao mesmo tempo, se a feitoria devia ser mantida ou abandonada.
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O Senado, após algumas sessões de esclarecimento, decidiu pelo pagamento das dívidas, pela manutenção da feitoria e pela substituição de Silveira”
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Nota: Texto de Isaú Santos, Director do Arquivo Histórico de Macau, em 1993, na sua “Nota Histórica” ao completar o seu trabalho de investigação histórica: “Relações entre Macau e Sião”, descreve que lhe passaram pelas mãos 1.253 documentos que inserem as relações entre Portugal e Sião de 1639 (era de Ayuthaya) a 1918.
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Um documento valioso, que o autor me ofereceu um exemplar durante uma visita que efectuou, em 1994, a Banguecoque. Vamos pois publicar alguns trechos desta sua magnifica investigação que contém a veracidade, oficial, daquilo que teria sido passado no relacionamento entre Portugal/Macau e o Reino do Sião.
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Que se compenetrem os investigadores que a história não é escrita só de elogios “doentios”, mas pelo lado dos factos que hajam sido passados.
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Os elogios enfermos só contribuem para nos enganarmos a nós próprios, satisfazer os interesses de alguns e, depois, deixar continuar a navegar a nau da fantasia, de leme partido, sem rumo.
José Martins

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