Saturday, January 29, 2011

ARQUIVO HISTÒRICO - O MEU SÁBADO EM PROCURA DA HISTÓRIA DE BANGUECOQUE

Escrito: em Monday, 17 August 2009

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Sábado, Domingo e os dias da nova semana que se seguem são todos os iguais para mim. Orgulho-me de ser o único reformado do Ministério dos Negócios Estrangeiros depois de ter servido a diplomacia, em nome de Portugal, na Tailândia, ter ficado por cá.
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No passado sábado, 15 de Agosto e o dia da veneração da Nossa Senhora de Assunção, em Portugal, estou em casa sem saber aquilo que irei fazer da parte de tarde. Não me apetece mexer uma palha nem bater tecla que valha porque estou sem inspiração nenhuma.





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Por devoção à Senhora de Assunção também não vou ser má língua e insurgir-me com os meus rivais, desta praça, que seguem demasiadamente cansados e com a cabeça feita em água de tantas investigações políticas e culturais dos seus dias e dias a passearem nos corredores das grandes superfícies comerciais onde a frescura do ar condicionado é de borla.
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Preguiçosamente inclinei o corpo para as costas do cadeirão que a minha mulher me comprou há uns cinco anos e tem se portado com resistência admirável na estrutura e nas quatro rodas na base.
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Fechei os olhos por um momento e quando me preparava para entrar nas brasas chegou-me à memória um templo ao ar livre e a história viva de Banguecoque depois de meados do século -XIX e princípios do XX.


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O lugar poderá ser macabro para alguns, dado que todo aquele espólio histórico está dentro de um cemitério, mas para mim não tem esse significado pelo amor à história e às coisas do passado.
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Trata-se do Cemitério Protestante, na Chalerm Krung Road e ali foram sepultadas as grandes figuras, estrangeiras, que elas se deve, hoje, a cidade de Banguecoque e o modernismo da Tailândia.
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Levanto-me do cadeirão pego na Nikon D70, verifico as baterias e toca a dirigir-me para a Chalerm Krung e verificar como as coisas se quedavam e o terreno, frequentemente alagado motivado pela subida do caudal do Rio Chão Prya. Estava seco o solo em alguns locais e outros ainda alagados mas com pé para se caminhar.
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Quando visitei Banguecoque, pela primeira vez, há 32 anos e viria a ficar para sempre, a cidade encerrava ainda muito daquilo que tinha sido havia 150 anos.


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Casas de madeira de teca, na moderna rua da Silom, nas avenidas Sathorn e Sukhumvit. Na zona ribeirinha, apenas o velho Oriental Hotel, os correios Centrais, a residência dos embaixadores de Portugal, uma casa velha, desabitada, sino portuguesa, na Captain Bush Lane (que nunca cheguei a descobrir que ali teria vivido) e a seguir os armazéns da empresa fundada pelo Louis Leonwens (filho da famosa escritora Anna Leonwens).
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O cemitério protestante da Chalerm Kkung está carregado de história e nele repousam as individualidades, estrangeiras, que contribuíram para a modernização da cidade de Banguecoque e a Tailândia.
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Quando a terceira capital, Banguecoque, foi transferida de Ayuthaya em 1782 entrou numa nova era. Já me referi, anteriormente, que a cidade cresce com as navegações a vapor que da Europa e dos Estados Unidos entram na embocadura do Rio Chão Praya em procura das muitas riquezas de um Reino do Sião rico. Foi o fim dos centenários juncos chineses.
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Seria longa a história e preenchia inúmeras páginas se aqui a fosse contar no seu todo. Vamos porém resumi-la. A partir da década 30 do século XIX, chegaram a Banguecoque os missionários protestantes americanos de que viriam a influenciar S.M. Majestade o Rei Mongkut, antes de ser entronizado Rei Rama IV, que viria não só a expressar-se fluentemente na língua inglesa com obter conhecimentos sobre os hábitos do
ocidente.



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Na década de 50, do século XIX, já existe uma comunidade, estrangeira numerosa em Banguecoque e foi aumentando até aos dias de actuais.
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Empresas estrangeiras estabelecem-se num quarteirão, não muito distante da margem esquerda do Rio Chão Prya e numa extensão de uns quinhentos metros que se situava entre o princípio do “China Twon” até bifurcação da Chalerm Krung com a Silom Road.
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Mas entre as pessoas, estrangeiras que geriam empresas ou exerciam suas actividades dentro das mesmas, há outras contratadas pelo S.M. o Rei Mongkut , para modernizarem o reino no estilo da administração ocidental. Porém dada a insalubridade de Banguecoque e a disposição da cidade em solo alagadiço estava a nova capital sujeita a pandemias como a febre tifóide e a cólera que não poupava classe étnicas e uma esperança de vida muito limitada e pouco além de meio século de vida.
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Onde há vida existe a morte e, com os hábitos das comunidades estrangeiras onde se incluem, a chinesa e muçulmana com a tradição de enterramento dos corpos, a Coroa siamesa doou-lhes terrenos para enterrarem os seus defuntos.
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As concessões são oferecidas conforme a etnia a que pertenciam. São assim implantados os cemitérios Protestante, na extensão da Chalerm Krung, o Católico, Ortodoxo e o chinês, na Silom Road em talhões separados. O três bairros portugueses; Senhora do Rosário, Santa Cruz e da Imaculada Conceição têm os seus próprios cemitérios paroquiais que desapareceu, o do Rosário e o de Santa Cruz sendo o terreno ocupado com construções para a Igreja Católica.
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O católico da Silom Road, também desapareceu e apenas ficou o talhão chinês e uns espaços, particulares, que pertencem a famílias chineses abastadas, que não consentem que naqueles espaços, bastante, largos a profanação do espaço onde dormem seus antepassados, praticamente desde a fundação de Banguecoque em 1782.
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Toda a história, viva, da fundação da cidade perdeu-se e difícil poder fazer-se um
inventaria dos que ali foram enterrados que foram um quinhão que contribuíram para edificar a grande cidade, de Banguecoque, que é hoje.
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Mas o Cemitério Protestante da Silom Road já está dado como monumento da cidade e vai ficar para sempre. Há uns quatro anos descobrimo-lo, fizemos umas poucas imagens, mas não podemos caminhar pelo meio das sepulturas dado que o terreno, que se afunda ano por ano, estava completamente alagado. O capim alto também dificultava para ler os nomes dos epitáfios que parte deles completamente apagados.


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Pelas arvores, com as raízes protegidas, estendidas pelo chão, me pareceu que aquele campo histórico vai ser transformado em Parque e os nomes, esculpidos no granito ou em mármore fina de Carrara, e trabalhava por artistas italianos que viviam em Banguecoque vão ser avivados e dar a oportunidade que sejam lidos os nomes das importantes figuras que ali dormem.
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O meu objectivo é o poder encontrar o nome de duas pessoas para que possa completar a investigação sobre suas vidas e obras.
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As fotografias inseridas bem dão conta das proeminentes figuras que ali foram enterradas entre elas o Almirante Bush, o nome da rua onde se situa a Embaixada de Portugal em Banguecoque.
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Digno de realce que pelos bons serviços que prestaram ao Reino Sua Majestade o rei Chulalongkorn mandava-me erigir um monumento como prova de gratidão aos seus bons serviços.
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Voltarei de quando aquele monumento nacional ao ar livre esteja transformado em parque, os nomes nos epitáfios avivados e continuar a minha investigação. Mas já recolhi vários nomes que me eram familiares, entre eles membros da família do médico Campbell e outras que deixaram nome em Banguecoque.
José Martins

Monday, January 17, 2011

CELESTINO XAVIER - PORTUGUÊS ILUSTRE NA CORTE DO REINO DO SIÃO

Escrito: Wednesday, August 29, 2007

CELESTINO XAVIER - Português Ilustre na Corte do Reino do Sião

Celestino Maria Xavier um luso-descendente ilustre no Reino do Sião no final do século XIX e princípio de XX.
Desempenhou cargos importantes na Corte do Rei Chulalongkorn desde, diplomata, Sub-Secretário de Estado a Vice-Ministro das Finanças.
Foi uma personalidade proeminente nos meios civis e oficiais da cidade de Banguecoque. Vamos assim
descrever a história de Celestino Xavier, que obteve da Corte o título honorífico Phya Paipat Kosa.
Há uns 25 anos entrei, por curiosidade, num cemitério na rua da Silom a cerca de 500 metros da "New Road"; a primeira via construída na capital do Sião e adjacente ao rio Chao Praya. A minha curiosidade seria se por lá haveria gente, sepultada, portuguesa e luso-descendente.

Na rua principal daquele campo de repouso e a uns 30 metros da entrada do portão principal erguia-se um mausoléu de enormes proporções. Um pouco abaixo da cúpula uma inscrição em letras largas: XAVIER.
Celestino Xavier, Phya Phipat Kosa (a) entre as personalidades, proeminentes, da Corte do Rei Chulalongkorn

Pensei desde logo que aquele nome deveria ser português e dentro estivesse gente, lusa, sepultada, emigrada de Goa, Macau ou mesmo de Portugal. Não ficou de fora a hipótese a certeza de pertencer uma "clã" de família. importante, de negócios de Banguecoque.



O Mausoléu da "clã" Xavier foi edificado no cemitério da Rua da Silom, possivelmente, na década de sessenta do século XIX e teria sido depois do falecimento de Lucia Phuang Xavier, em 1863, com a idade de 17 anos. A foto do lado direito é como hoje se encontra no cemitério, católico, da Santa Sé, na província de Nakhon Pathon e a uns 40 quilómetros do centro de Banguecoque. O mausoléu e as ossadas foram transladas em 2004.
NOMES DESIGNADOS NAS PLACAS DENTRO DO MAUSOLÉU
1. Joachim Maria Xavier (o patriarca) Nasceu em 1793 - Faleceu a 22.7.1881, com a idade de 88 anos e correcto o registo do assento de falecimento do Consulado de Portugal)
2. Catharina Ti Xavier - Nasceu em 1811 - Faleceu em 10.10.1876
3. Luiz Maria Xavier - Nasceu em 1840 - Faleceu em 15.2.19024.
4.Lucia Phuang Xavier -Nasceu em 1846 - Faleceu em 1863
5. Adeodato F. de Jesus - Nasceu em 1841 - Faleceu em 1885
6. Leopoldina Maria de Jesus - Nasceu em 1850 - Faleceu em 1890
7. Joachim Maria Xavier JR - Nasceu em 1857 - Faleceu em 27.2.1898
8. Luiz Maria de Jesus - Nasceu em 1879 - Faleceu em 1883
9. Julia Antonio de Jesus - Nasceu em 1883 - Faleceu em 21.10.1896
10. Joaquim Maria Xavier - Nasceu em 1901 - Faleceu em 1902
11. Henriqueta M. Xavier - Nasceu em 6.9.1908 e Faleceu em 28.04.19o9
12. Koon Ying Bairm - N. em 1 de Out. de 1871 - F. em 8 de Abril de 1912
13. Celestina Maria Xavier - N. em 7 de Julho de 1911 - F. em 8 de Janeiro de 1998
14. CELESTINO MARIA XAVIER (PHYA BIBADH KOSHA) - NASCEU EM 18 DE OUTUBRO DE 1863 - FALECEU EM 30 DE OUTUBRO DE 1922
"THY WILL BE DONE" (Transcrita fielmente a inscrição da placa)
15. KHUNING SRISAR VACHA (HARSARET LIN XAVIER) NASCEU A 25 DE MAIO DE 1868 (Ilegível a data do falecimento) - Aventamos a hipótese que Khuning Srisar Vacha. deveria ser a esposa de Celestino Maria Xavier, dado ao título honorífico que ostentava, só conferido a senhoras esposas de proeminentes figuras ligadas à Corte. Costume que nos dias de hoje se mantém.

No cemitério da rua Silom, há 20 anos, estavam por lá muitas sepulturas (iremos tratar, este assunto próximamente) bem cuidadas, flores, em jarras, frescas e lápides com nomes portugueses.

Entre essas duas abandonadas divididas por cerca de um metro, pertenciam a dois cônsules portugueses: Luis Leopoldo Flores e do Dr. Joaquim Campos.
Desde que as encontrei, pela primeira vez, nunca mais ficaram desprezadas. Encarreguei uma "mulherzinha" já velha que andava por ali a limpar sepulturas para, retirar os "cacos" partidos de jarras que se encontravam espalhados pelo chão e as ervas em redor. Com uma "mark pen" preta avivei as letras de seus nomes nas placas. Estavam por ali esquecidos os dois cônsules de Portugal e até deu para meditar:

"Tudo neste mundo existe enquanto há vida e depois de terminar vai-se a memória de vida, enquanto foram vivos, dos que partiram. Nem sempre a glória ou desaire da presença do Homem Português (já que mais não fosse o prestígio de ter ser sido português) na Ásia, lhe chegou depois da morte. Ficaram por aí esquecido e valha-nos, ainda, os poucos túmulos, com os epitáfios, existentes, para que alguém interessado na história investigue a vivência de sua passagem por terras do Oriente".
Voltei uns dias depois para fotografar as sepulturas com os nomes portugueses. A porta do mausoléu da Família Xavier estava segura por um arame, desengonceio-o e entrei dentro. Uma família completa, dormiam o sono eterno nos túmulos cavados no solo do mausoléu e cobertos com placas de granito.
Lápides apostas nas parede aparador de mármore sem jarros e há muito ninguém ali tinha colocado uma flor que fosse ou mesmo de matéria plástica.

Ontem quando o visitamos, mesmo murcha que fosse, não se quedava naquela mesa, uma flor e à sua volta apenas o ambiente de um silêncio sepulcral. Porém, fora daquele mausoléu e uma vaidade necrópole (porque não os vivos, enquanto vivem, se não devem orgulhar, do que hajam sido em vida depois da morte?), árvores, jacarandeiras, cuja ramagem chegavam à cúpula daquele pequeno palácio, do silêncio.

Porém na ocasião que o vi, em verdade, não liguei demasiada importância ao facto e, dentro, estaria, mais uma família portuguesa, ou lusa-descendente, extinguida numa cidade onde a esperança de vida era curta. A cólera a malária, a fraca qualidade de conservação dos alimentos terminava com a vida, das pessoas muito cedo.
A minha investigação em procura da procedência e raizes da família Xavier ficou esquecida por mais de duas décadas.

Tive conhecimento, entretanto, através da leitura que L. Xavier tinha sido proprietário de uma fábrica de descasque de arroz algures em Banguecoque e junto à margem do rio Chao Prya (Klong Kut Mai).

A informação chegou-me graças a um livro adquirido em 1994 "Twentieth Century Impressions of Siam: Its History, People, Commerce, Industries, and Resources" - Arnold Wright - Oliver T. Brakspear - Edição de 1908 e editado, há anos pela "White Lotus" ( www.whitelotuspress.com ) da cidade de Banguecoque.

Uma obra com interesse e muito útil a todos os investigadores interessados na história do antigo Reino do Sião, que recomendamos adquiri-la.
Para facilitar a informação aos historiadores e, para que a nossa tradução livre possa, inocentemente, deturpar a história, vamos transcrever o texto em língua inglesa e inserir as fotos relativas à fábrica de descasque de arroz.



L. XAVIER RICE MILL

"His Excellency Phya Phipat Kosa, The Permanente Under-Secretary of the State for Siam, is the head of one of oldest European families in the country. His ancestors came from Portugal do Bangkok upwards of a hundred years ago, and members of the family have held important posts under the Government almost continuously since that time. His Excellency´s father, Mr. Luiz Xavier - for Xavier is the family name, although the subject of this sketch is now generaly known by his official title of Phya Phipat Kosa - held the post od Deputy-Minister of Finance, and also that of honorary Consul of Portugal. After spending the best years of his life in the Governemnt service, he retired in orden to have more time to devote to his many private business interests, which were requiring his personal Bangkok, and educated in England and on the Continent. Having completed his studies, he entered the Foreign Office, and was shortly afterwards attached to the Royal Siamese Legation in Paris. On returning to Siam his promotion was rapid, and he soon attained the responsible position he now holds. In addition to official responsabilities he has the control of importante business interests, for he owns a rice mill and a considerable amount of land property. The mill is situeted on the Klong Kut Mai, and is noted for the high quality of white rice it turns out. His Excellency has just completed the construction of the granulating mill further down the river, wich is the second only of its kind in Bangkok. The mills are known by the name of the L.Xavier Rice Mills".


Após ter feito a descoberta que a família Xavier era de descendência portuguesa, fui procurar na reduzida informação em minha posse.
Nas cópias extraídas de um livro de assentos de nascimento,casamento e óbito do Consulado de Portugal em Banguecoque vamos encontrar no registo número 37 o seguinte:

"Falecimento de Joaquim Maria Xavier, com 88 anos, em 4/10/81, natural de Macau, comerciante, viúvo, morreu de senilidade. Foi sepultado no cemitério da Igreja do Rosário. Lavrou o óbito o missionário E.B. Dessalles e certifica-o o cônsul Henrique Prostes".


Na continuação da nossa "vasculhação" abrimos a obra "Portugal na Tailandia", escrita pelo Padre Manuel Teixeira, editada em Maio de 1983 (consulado do Embaixador Melo Gouveia), pela Imprensa Nacional de Macau. e vamos encontrar na página 259 o seguinte:


LUIS MARIA XAVIER - Vice-Cônsul

No Arquivo do Consulado Português de Bangkok encontrámos vários dados sobre Luis Xavier, que completamos com outros respigados nos Arquivos de Macau.Num documento de Agosto de 1902, lemos: " Joaquim Maria Xavier, natural de Macau, faleceu há muitos anos; deixou três filhos e duas filhas: - 1. Luis Maria Xavier, que foi Vice-Cônsul - 2. Joaquim Maria Xavier - 3. Viriato Maria Xavier - 4. Leopoldina Maria Xavier - 5. Alexandrina Maria Xavier".

Joaquim e Viriato faleceram em tenra idade já há alguns anos; Luis há mais dum ano e meio, deixando um filho legítimo, Celestino (Phya Piapat Kora; Leopoldina faleceu há algum tempo, deixando 5 filhas e 3 filhos: 1. Maria Francisca de Jesus - 2. Guilhermina Antónia Inês de Jesus - 3. Amélia Maria de Jesus - 4. Emília de Jesus - 5. Libânia Victória Leopoldina - 6. José de Jesus - 7. Guilherme F. Jesus - 8. Adeodato Francisco, que está em Paris como adido da legação siamesa.

Libânia Victória Leopoldina casou em 1903 com Germano Egídio de Jesus, nasceu a 1-9-1875 em Bangkok, filho de Filomeno Manuel de Jesus e de Micaela Antónia da Silva, de quem teve um filho, Victor Germano Egídio de Jesus; este casou em segunda núpcias, em 1905, com Guilhermina Antónia Inês. Sobre Joaquim Maria Xavier, irmão de Luis Maria Xavier, aparece no Consulado este documento:

Uma foto rara (1905) do terreno do Consulado de Portugal, com o mastro e a bandeira das quinas a flutuar no vento. O pau de bandeira, foi por muitos anos o ponto de referência, da navegabilidade dos canais em direcção ao Rio Chao Prya. A doca de Banguecoque quedava-se a cerca de 300 metros, a jusante (ainda nos dias de hoje existe o edifício da alfãndega em ruinas) e onde todo o tráfego marítimo, cargas e descargas de mercadorias locais e estrangeiras se processava.

"Que pela morte do aludido Joaquim Maria Xavier (troco) tendo ficado dele um terreno situado quase ao pé d´este consulado e confrontado por nascente com o terreno do Governo siamês pelo poente terreno do consulado geral de Portugal, norte da Bush Lane e sul missão americana, terreno em que existem três pequenas casas de madeira cobertas de folhas de palma, sendo duas pelo lado ocidental e uma pelo lado oriental, e mais uma ao centro também de madeira pertencente ao aludido Phya Pat que a mandou levantar não pode ser materialmente dividida em três partes iguais, vista a situação dos prédios já mencionados. Que por estes mesmos outorgantes, de comum acordo, resolveram que o mesmo terreno seja vendido em hasta pública, perante este consulado geral, para ser o produto dividido na razão do direito de sucessão em três partes, sendo uma delas sub-dividida entre os representantes do 3º ramo - Leopoldina Maria Xavier.

(ass.) Luis Leopoldo Flores, Maria Francisca de Jesus, Guilhermina A.I. de Jesus, Amélia Maria de Jesus, José Maria de Jesus (ilegível, feitor de G.A. Jesus), Domingos Maria Xavier, Eusébio Sequeira", (mais um nome ilegível).

Luis Maria Xavier foi nomeado Vice-Cônsul em 6 de Agosto de 1889, sendo demitido pelo seguinte ofício de 13 de Outubro de 1894 do cônsul Frederico António Pereira:

Elenco que fez parte do Governo do Rei Chulalongkorn, em 1985. Celestino Maria Xavier (o segundo da esquerda a partir da terceira fila, em pé, não se reconhecendo a face), designado como Phraya Phipya Kosa ( Tor Chotikastira). Foto extraída do livro "A Pictoral Record of THE FIFTH REIGN)


"Tenho a honra de informar V.Exa. que, sendo altamente repreendido pelo Director-Geral dos Consulados, por ter deixado este Consulado, durante a minha ausência, entregue a V.Exa que não soube ou não se dignou cumprir com as instruções que eu lhe tinha deixado, sou obrigado a dar-lhe a sua demissão.Queira portanto V.Exa considerar-se demitido do cargo de vice-cônsul de Portugal desde a data deste" Eduardo Augusto Rodrigues Galhardo, Governador de Macau (1897-1900), visitou Bangkok em 1898. No relatório que elaborou após a visita escreve acerca desta demissão"...(Há) " um agravo e uma injustiça que está pesando sobre um cavalheiro a quem Portugal deve gratidão pelos serviços desinteressados prestados ao país, e pela protecção que tem dispensado e está sempre pronto a dispensar a todos os súbditos portugueses que se lhe acercam. Este cavalheiro é o cidadão português Luis Maria Xavier, nascido em Bangkok de pais portugueses, cavaleiro e comendador da ordem militar de Nosso Senhor Jesus Cristo, que goza de maior consideração por parte das autoridades locais e dos estrangeiros residentes, e que tem feito da sua fortuna e da sua influência pessoal largo uso a bem dos seus compatriotas.Luis Maria Xavier foi em 6 de Agosto de 1889 nomeado vice-cõnsul de Portugal em Bangkok; como tal, prestou muitos e desinteressados serviços, zelando pelos interesses dos súbditos portugueses durante o período crítico da Guerra franco-siamesa (1), e promovendo tudo o que pudesse engrandecer a sua pátria naquele país, como já anteriormente tinha feito, sendo um dos que mais trabalharam para conseguir um edifício para o nosso consulado, propriedade do Governo de Portugal e em terreno português, noq ue logrou ver coroados de êxitos os seus esforços, para o que adiantou o capital necessário, que depois lhe foi pago por decisão do governo.

A honestidade e respeitabilidade deste cavalheiro abriram uma separação entre e ele e o cõnsul Pereira, que sabia perfeitamente não encontraria no vice-cônsul aprovação ou auxílio para qualquer acto que não fosse absolutamente legal e justo e que, receando uma observação ou a representação oficial da parte de quem, residindo na localidade, a podia fazer com tantos e tão seguros elementos, evitava a todo o transe entregar-lhe o consulado.

Foi assim que, durante a ausência do cõnsul Pereira em 1890, o consulado de Portugal, em vez de ser gerido pelo vice-cônsul, ficou a cargo do cônsul da Holanda.


Na segunda ausência do cônsul Pereira em 1894, naturalmente porque o estado dos negócios do consulado era já assás conhecido e não houve cônsul estrangeiro que aceitasse o encargo, ficou a gerência entre ao vice-cônsul Xavier: se a honestidade deste lhe fazia condenar o procedimento do cônsul Pereira, o seu carácter bastante generoso calou o que viu e o que já sabia, e durante a sua interinidade só procurou acudir aos interesses dos súbditos portugueses que, naquela época anormal, reclamavam especial atenção, e sanar os atritos que da passada gerência iam surgindo.

Voltando o cônsul Pereira a retomar o seu posto, dirigiu ao vice-cônsul, em paga de não haver denunciado as suas faltas, sem haver a mais leve troca de explicações: um ofício de poucas linhas, com ele, cônsil Pereira, lhe dava a demissão de vice-cônsul e dizia que se considerasse demitido desde a data do ofício, 13 de Outubro de 1894.

Sem conhecer bem do valor da demissão nos termos em que lhe era comunicada, Luis Maria Xavier julgou-se contudo fundamente ofendido por um tão injustificado e brusco procedimento, tão oposto áquele que lhe tinha direito a esperar, e dirigiu, poucos dias depois, em 27 de Outubro, uma exposição documentada a sua excelência o ministro dos negócios estrangeiros daquela época, relatando o sucedido e esperando a satisfação que lhe era devida.


A essa exposição nunca obteve resposta, e de então para cá aquele respeitável ancião tem vivivo amargurado com a ofensa que recebeu do representante do seu país, ao qual ele tantos serviços prestou, mas nem por isso tem deixado de continuar a ser-lhe dedicado, e de espalhar favores pelos portugueses que o vão procurar, conseguindo para eles, das autoridades siamesas, graças que o cônsul nunca conseguiu por não ter influência para as obter.

(1) Refere-se à guerra de 1893: a 10 de Julho o Governo Francês avisou o príncipe Dewawongse de que as canhoneiras Inconstant e Cométe cruzariam, a 13 deste mês, a barra do rio Chào Phya a caminho de Bangkok. Sendo recebidos a tiro, conseguindo ancorar em frente da Legação Francesa. M.Develle, Min.º dos Neg. Est. da França mandou um ultimatum a 20 de Julho com pesadas cáusulas, que o Sião foi forçado aceitar.

O Governo português certamente não pode e não quer ser solidário com tão grande arbitrariedade, que revolta pela injustiça e pela ingratidão que encara: é justo que o cidadão Luis Maria Xavier, que nasceu em Bangkok, que nunca viu Portugal, e que, apesar disso, naquele recanto do mundo tem sido em toda a sua vida já longa dedicada a Portugal e aos portugueses, saiba, mesmo na velhice, que a Pátria teve conhecimento da sua dedicação, e que não é injusta para com aqueles que dela bem merecem.

Parece-me um acto de justiça, a reintegração do cidadão Luis Maria Xavier, proprietário residente em Bangkok, no cargo de vice-cônsul de Portugal naquela cidade:reparação que apenas depende da cumulação de um ofício ditado por meu espírito elucidado.


À parte de personalidades estrangeiras que o Rei do Sião contratou no estrangeiro para a organização dos serviços de administração da Corte, numerosos homens de negócios se instalaram em Banguecoque quer por sua conta ou representando empresas europeias ou dos Estados Unidos.

Como sinal de reconhecimento pelos muitos importantes serviços por ele prestados, não duvido solicitar de V.Ex.ª, acompanho-o de particular recomendação.


A 6 de Outubro de 1899, Galhardo voltava a chamar a atenção do ministro para a reparação dessa injustiça.

A 9 de Maio de 1899, F. Neiva, Ministro dos Negócios Estrangeiros, respondeu que ia propor ao rei a condecoração para o ex-Vice-cônsul Luis Maria Xavier; mas quando à sua reintegração no consulado, dependia do no cônsul, Luis Corrêa da Silva, a quem competia escolher empregados de sua confiança.

Quanto a Frederico Pereira, sugeria que se lhe fizesse um inquérito rigoroso, dada a gravidade dos factos da sua gerência (1).

De facto, a Luis Xavier doi concedida a condecoração de Comendador; e o Cônsul Luis Corrêa da Silva entregou-lhe o consulado a 9 de Setembro de 1900, em que se retirou para Portugal. Ele geriu-o até à chegada do novo Cônsul, Luis Leopoldo Flores, em 22 de Dezembro desse ano.

Assim lhe foi reparada a injustiça.


No Reino do Sião havia muito que comprar e que vender! Um país de recursos naturais a explorar. Na linha de pensamento (herdada pelo Pai o Rei Mongkut) do Rei Chulalongkorn seguia que para o Sião voltar numa monarquia próspere teria que equiparar-se aos países do Ocidente e relacionar-se com eles.


À MARGEM

A nossa investigação em cima da família Xavier, de orígem portuguesa, residente em Banguecoque não ficou finalizada. Necessitamos de procurar se ainda vivem descendentes. Se a fábrica de descaque de arroz ainda labora, se passou para outras mãos ou se abandonada.

A família Xavier, sem termos qualquer dúvida em o afirmarmos foi a família mais antiga, portuguesa, que se instalou na nova capital do Sião. Celestino Maria Xavier, foi um dos seleccionados por S.M. o Rei Chulalongkorn, e certamente um dos priviligeado com uma bolsa de estudos para ser educado no estrangeiro. O grande Rei, além de conceder bolsas de estudo a siameses enviou seus filhos para capitais europeias para ali serem instruídos e de volta ao Sião contribuirem para o desenvolvimento da monarquia.

O Patriarca da família, Joaquim Maria Xavier, emigrou de Macau para Banguecoque (igual a outros macaenses que excerceram importante funções na Corte do Sião) e teria começado a construir o seu império de negócios, aí por volta de 1820 de quando foi doado o terreno a Portugal para construir Feitoria.

Pelo que analisamos foi um homem de grande influência junto da Corte de três Reis: Rama III,IV e V. Seus filhos, luso-descendentes, nunca deixaram de gostar de Portugal e Joaquim Maria Xavier optou por dar nomes de baptismo portugueses a seus filhos.

Não se encontram referências dos Cônsules Portugueses no Sião a enaltecerem a família Xavier e a posição de Celestino Maria Xavier, como Sub-Secretário de Estado e Vice-Ministro das Finanças. Compreendemos que certos cônsules de Portugal se deixavam envolver em "fastidiosas" intrigas de que não lhes dava para se acolmatarem aos que os rodeavam, diplomaticamente.

Pelo que transcrevemos acima, do Monsenhor Manuel Teixeira, bem razão temos para o afirmarmos, que (certo) acervos de Poder inventavam, difamavam os que os serviam, em prejuzio do país que representavam.

José Martins

P.S. Material de imagem inserido foi obtido de várias publicações da época e outro do autor.

Sunday, November 21, 2010

CORRUPÇÃO: "PRAGA,TENTAÇÃO E COBERTA,MALICIOSAMENTE, COM BOAS INTENÇÕES..."

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UM DOCUMENTO HISTÓRICO QUE TERÁ QUE FIGURAR NESTA PÁGINA

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EMBAIXADA DE PORTUGAL EM BANGUECOQUE – SUSPEITA DE CORRUPÇÃO,PASSIVA, DIPLOMÁTICA

Clique a seguir:

Sunday, June 22, 2008

MEMÓRIAS DO TEMPO IDO!

Monday, June 23, 2008

NOVA ORIENTAÇÃO

E porque já por duas vezes fomos confrontados, através do telefone, com "medos" pela matéria que estavamos a inserir neste blogue

Tuesday, September 23, 2008

DIFAMAÇÃO!

Tuesday, November 11, 2008

EMBAIXADA DE PORTUGAL EM BANGUECOQUE - A OUTRA FACE DA DIPLOMACIA

Parte 3ª

Jardim de Portugal: Uma Ilha de Riqueza

Wednesday, November 12, 2008

EMBAIXADA DE PORTUGAL EM BANGUECOQUE - A OUTRA FACE DA DIPLOMACIA

Parte 4.ª

Jardim de Portugal - Uma Ilha de Riqueza

Thursday, November 13, 2008

EMBAIXADA DE PORTUGAL EM BANGUECOQUE - A OUTRA FACE DA DIPLOMACIA

Parte 5.ª

Jardim de Portugal - Uma Ilha de Riqueza

Friday, November 14, 2008

EMBAIXADA DE PORTUGAL EM BANGUECOQUE - A OUTRA FACE DA DIPLOMACIA

Parte 6.ª

Jardim de Portugal – Uma ilha de riqueza

Monday, November 17, 2008

EMBAIXADA DE PORTUGAL EM BANGUECOQUE - A OUTRA FACE DA DIPLOMACIA

Parte 7.ª

Jardim de Portugal – Uma ilha de riqueza

Friday, November 21, 2008

EMBAIXADA DE PORTUGAL EM BANGUECOQUE - A OUTRA FACE DA DIPLOMACIA

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Parte 8.ª

Jardim de Portugal – Uma ilha de riqueza

Sunday, November 23, 2008

EMBAIXADA DE PORTUGAL EM BANGUECOQUE - A OUTRA FACE DA DIPLOMACIA

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Parte 9.ª

Jardim de Portuga – Uma ilha de riqueza

Wednesday, November 26, 2008

EMBAIXADA DE PORTUGAL EM BANGUECOQUE - A OUTRA FACE DA DIPLOMACIA

Parte 10.ª

Jardim de Portugal – Uma ilha de riqueza

, 2008

EMBAIXADA DE PORTUGAL EM BANGUECOQUE - A OUTRA FACE DA DIPLOMACIA

Parte 11.ª

Thursday, December 11, 2008

EMBAIXADA DE PORTUGAL EM BANGUECOQUE - A OUTRA FACE DA DIPLOMACIA

AQUI TAILÂNDIA: EMBAIXADA DE PORTUGAL EM BANGUECOQUE - A OUTRA FACE DA DIPLOMACIA.

Parte 12

Tuesday, November 16, 2010

J.ANTÓNIO É PORTUGUÊS E O MAIOR FOTÓGRAFO NO REINO DO SIÃO EM FINAL DO SÉCULO XIX E PRINCÍPIO DO XX

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No restaurante, de comida portuguesa a "Tasca do Luis" onde o Dr. Morbey, ofereceu a mim e ao amigo Cambeta, um excelente almoço de comida lusa.Drªa Leonor Seabra, foi ali para se encontrar comigo, me cumprimentar e entregar-me umas lembranças para mim, mulher e filha Maria Martins

Sobre a descendência de Joaquim António

I Apolinário António de Paula António, nasceu em Macau (Freguesia de S. Lourenço) em 09.02.1836 ; faleceu em Hong Kong
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Em 28.04.1857 casou em Macau na Igreja da Sé, com Firmiana Francisca do Rosário, nascida em Macau 1835; faleceu em 08.09.1889 em Hong Kong, filha de Manuel do Rosário e de Ana Maria
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Filhos:
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1(II) Joaquim António, nasceu em 05.08.1857, na freguesia da Sé em Macau; faleceu em Bangkok em 28.12.1912, de ataque apoplético, na sua residência, sem deixar testamento; sepultado em 29.12.1912; testemunho de Frederico G. de Jesus e Elmínio Maria Sequeira
Fotógrafo; desenhador (1890)
Autor do Guide to Bangkok and Siam, Bangkok, 1904
Membro da Sociedade de Geografia de Lisboa e da Commercial Geographical Society of Paris.

Em 1876, casou em Macau com Francisca Michaela de Almeida Marques António, que nasceu em Macau em 1854 e faleceu no Hospital de S. Rafael Macau em 12.12.1927, onde esteve internada por demência desde 1899.
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Fonte: MORBEY, Jorge: THAI - PORTUGUESE FAMILIES (em preparação).
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O Joaquim António o maior fotógrafo do final do século XIX e principio de XX, foi uma figura de que me apaixonei há muitos anos e, aconteceu, desde que comei a ver suas fotografias publicadas.
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Cheguei mesmo a dá-lo como português. Consultei papeis velhos na Secção Consular da Embaixada de Portugal, em Banguecoque, (fiz cópias, mas não se diga, como já o disseram, por aí, que fui um “larápio” de papeis, porque se fiz e tenho essas cópias tive autorização, por despacho do Palácio das Necessidades) e, apenas encontrei um registo com o nome de J.António, mas não me dá a certeza ser o fotógrafo português ou luso descendente.
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Porém, graças ao Dr. Jorge Morbey, um dos grandes investigadores da História dos Portugueses na Tailândia, ex-Conselheiro Cultural da Embaixada de Portugal em Banguecoque e actualmente professor universitário da Universidade de Tecnologia de Macau, na minha última visita a Macau (9-18 Outubro) e anfitrião o meu amigo António Cambeta, Dr. Morbey, simpaticamente forneceu-me aquilo que me faltava para ter a certeza que o Joaquim António era português.
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Um documento, histórico, valioso e para que o Joaquim António, o maior fotógrafo, sem ponta de dúvida, de todos os tempos que surgiu de quando a nova capital do Sião regurgitava de progresso.
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Já o descrevi um artista fotógrafo, com uma rara sensibilidade de premir o botão da máquina fotográfica, desenhador e um mestre em artesanato. Mas o que mais me surpreende é a modéstia do artista que nunca assinou seu nome (parece-me que em uma) imagem que haja tirado.
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O seu espólio fotográfico histórico e rico, está espalhado pelos quatro cantos do mundo. Foi publicado em muitas revistas da época, que o Joaquim António teria vendido, oferecido ou mesmo publicadas sem sua autorização.
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Era de uma humildade enorme o Joaquim António que deve ser ainda mais estudado e revelado para que não fiquei esquecido na Tailândia, como outros “bons” portugueses que neste Reino serviram dois países Portugal e a Tailândia e ficaram no rol dos grandes abandonados.
José Martins

J.ANTÓNIO É PORTUGUÊS E O MAIOR FOTÓGRAFO NO REINO DO SIÃO EM FINAL DO SÉCULO XIX E PRINCÍPIO DO XX

Saturday, July 21, 2007 - 1ª Parte

J. António: O Fotógrafo Português no Reino do Sião

Há uns dez anos numa livraria do aeroporto internacional de Banguecoque encontrei um livro, antigo, onde nas suas páginas as fotos estavam assinadas por J.António. Numa foto o estabelecimento, estúdio de fotografia. Não o adquiri, por achar que o preço era excessivo e certamente, aventei a hipótese na altura, na livraria onde costumo comprar livros o iria encontrar com o desconto habitual a um preço mais acessível.
Enganei-me aquele livro além de ser o único exposto estava esgotado no mercado livreiro!

Voltei, mais tarde, à livraria do aeroporto e já tinha sido vendido. Esqueci a raridade e nunca mais me lembrei dela. No sábado passado (dia 21 de Julho) estive num almoço na "Siam Society", a mais prestigiosa instituição cultural de toda a Ásia e onde na sua biblioteca as prateleiras são ocupadas com uns largos milhares de livros. Posso afirmar com toda a convicção que toda a história, desde a fundação de Banguecoque em 1782 ali se encontra, desde livros aos primeiros jornais que foram publicados na capital do Reino do Sião.

Raramente lá vou desde há duas décadas que me inscrevi com sócio. Porém quando tenho "fome" de livros visito-a e vejo o que foi editado. Só adquiro, ali, livros com informação, histórica, relativa à Tailândia, países do Sudeste Asiático ou sobre a expansão portuguesa, na Ásia e Extremo Oriente.
Desta vez que visitei a "Siam Society" encontrei dois livros que não conhecia: "The Siam Society A CENTURY" (Um Século da Siam Society) 1 e "Siam Undiscovered - Checo-Thai encounters betweem the 16th and 21th centuries: rare documentos, old photographs, royal visits" (Siam Desconhecido encontros entre a Checlosváquia no século 16 e 21, documentos raros, velhas fotografias e vistas reais). Qualquer uma destas duas obras tiveram a colaboração de proeminentes académicos, historiadores tailandeses e estrangeiros.

As duas obras trazem-me novas informações, históricas entre as quais, estão várias fotografias de J.António. Vamos, pois, transcrever (em língua inglesa) na integra o designado na 2ª página da edição "The Siam Society A CENTURY" sobre o fotógrafo J.António: "These development are reflected in the first guidebook to Bangkok and a few outlying provinces, also published in 1904 by J. Antonio, a residente who was probably of Portuguese descent and who ran a photographic studio on New Road. Details of António´s life remain obscure, but he was clearly a man of unsual talents. His photographs (often reprinted without credit in later books) are not only technically superb but provide a revealing glimpse of ordinay Thai life as well the more celebrated sights of the capital. On the title page, he list himself as a member of the Geographical Society of Lisbon and of the Commercial Geographical Society of Paris, suggesting broader interessts than nere photography and no doubt accountig for his presence among those at Siam Society´s inaugural meeting"

O J. António foi uma fotógrafo activo, profissional e famoso no final do século XIX e princípio do século XX. Fotógrafo do Palácio Real e também solicitado pelas empresas estrangeiras, estabelecidas junto à zona ribeirinha, personalidades locais e estrangeiras residentes. Possuia um estúdio, na rua Chalerm Krung (New Road) não muito distante do Consulado de Portugal e de outros consulados. Além de ser um fotógrafo profissional, cedia fotos a colegas, estrangeiros, que visitavam Banguecoque.

Cedeu trabalhos seus ao fotógrafo checo Enrique Stanko VRÁZ que no princípio do século XX passou por Banguecoque. Entre as fotos adquiridas há uma de S.M. o Rei Chulalongkorn, a Rainha, os Príncipes e as Princesas, durante uma cerimónia na Estação Central dos comboios. Esta fotografia foi agora inserida no livro: "Siam Undiscovered...." que acima nos referimos. Se pode analisar que o fotógrafo J. António além de possuir um estúdio de fotografia fazia reportagem para os jornais que principiavam a nascer em Banguecoque.
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A fotografia estava a nascer na capital do Reino do Sião. S.M. o Rei Chulalongkorn foi um entusiasta na arte de fotografia e pode ver-se várias imagens, em publicações da época o monarca com máquinas fotográficas . Transmitiu aos Princípes seus filhos o gosto pela fotografia. Seu neto S.M. o Rei Bhumibol, o monarca actualmente, reinante sempre o vimos, nas suas visitas, aos meios rurais, com a inseparável Canon pendurada ao pescoço.
. Ora o J.António publicou, em 1904, o primeiro Guia de Bangkok e por isso se pode avaliar que era um homem de ideias, modernas, ou aproveitou os ensinamentos da comunidade estrangeira que desde o Reinado de S.M. o Rei Mongkut, Rama IV (depois de meados do século XIX), chegou ao Sião, estabelecendo-se com sucursais de suas empresas, ou contratados pela corte do Sião cuja finalidade era a de modernizar o Reino.
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Chegado a casa depois do almoço na "Siam Society" e entusiasmado em investigar se J.António seria ou não português ou mesmo luso-descendente. No entanto estou inclinado, depois de averiguar em papeis velhos que o famoso fotógrafo teria nascido em Macau e logo ficou de fora a hipótese de ter nascido em Banguecoque.

Vasculhei as cópias do livro de Assentos de Nascimento do Consulado Português de 1860 a 1929 e não encontrei nenhum nome J.António. Encontrei de facto Antónios/as, macaenses e funcionários da Corte do Sião.
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Mas vou encontrar o Título de Nacionalidade Nº 15, em nome de José António Lívio Barros, passado em 16 de Fevereiro de 1916, com a validade de um ano. O mesmo documento é revaliado em 22 de Julho de 1919. Na altura o José António tinha 37 anos, o que nos diz que em 1904 tinha de idade 23 anos. O documento não designa o modo de vida a que se dedica o português.

O documento foi assinado pelo Chanceler (assinatura ilegível) e no consulado de Alfredo Casanova (Enviado Extraordinário e Ministro Plenipotenciário da República Portuguesa no Reino do Sião). O Cônsul Casanova veio em comissão de serviço a Banguecoque, pouco depois da morte do Cônsul Luis Leopoldo Flores, para colocar os assuntos do consulado em dia dado que não tinham corrido pelo melhor durante sua gerència de 17 anos.


Não nos surpreende que o J. António tenha sido sócio da Sociedade de Geografia de Lisboa, dado que Elmínio Maria Sequeira, um funcionário superior da Administração do Porto de Banguecoque, trocou correspondência com a Sociedade Geografia de Lisboa e recebeu uma medalha dessa instituição cultural. O Elmínio nasceu em Macau no ano de 1863, estudou em Hong Kong, chegou a Banguecoque em 1880 (um ano antes de José António ter nascido).

Elmínio Maria Sequeira é uma personalidade influente em Banguecoque, foi amigo do José António e incentivou-o e foi o seu proponente para a sua admissão na Sociedade de Geografia de Lisboa. Sobre o Elmínio Maria Sequeira, Monsenhor Manuel Teixeira, no sei livro "Portugal na Tailândia", Imprensa Nacional de Macau 1983, pag 118/119 escreve: Elmínio Maria Sequeira nasceu em Macau a 5-8-1863, sendo baptizado em S. Lourenço. Fez os seus estudos em Hong Kong, partindo em 1880 para Bangkok. Ali trabalhou em diversas firmas, nomeadamente na Fusco and Cº. e na Canal´s Co. Em Abril de 1905 entrou para o serviço do Governo, empregando-se na Repartição do Porto. Pelo seu zelo e assiduidade, foi condecorado pelo Rei Rama VI (Rei Varjirayudh) com a Ordem de V Classe - Cavaleiro da Muito Honorável Ordem da Coroa do Sião - em 11 de Março de 1911, que era o 121-º dia do seu Reino. Anos depois, recebe também a Ordem de V Classe do Elefante Branco do Sião. Aposentou-se em Abril de 1926, vindo a falecer em 1 de Junho de 1947. Recebeu também uma medalha da Sociedade de Geografia de Lisboa".

Entretanto arriscamos que o José António e mesmo Elmínio Maria Sequeira (este já um cidadão, português, muito respeitado na Corte e na Sociedade Siameza da época pela honraria de suas duas condecorações do Palácio Real), se teriam afastado da "clã" Flores (pai,filho e sobrinho), senhores omnipotentes do Consulado de Portugal e, mesmo, os tenham criticado pela forma de tratamento a "pente fino" dado aos nacionais portugueses e aos chineses imigrantes, estes embora tivessem o privilégio da nacionalidade gozavam da protecção consular, ao abrigo do artigo 9º do Tratado de 10 de Fevereiro de 1858 assinado entre Portugal e o Reino do Sião.

Voltaremos ao assunto e continuar a investigação se o fótografo, famoso, José António se foi de facto a pessoa que pensamos.

José Martins

J.ANTÓNIO É PORTUGUÊS E O MAIOR FOTÓGRAFO NO REINO DO SIÃO EM FINAL DO SÉCULO XIX E PRINCÍPIO DO XX

Sunday, September 16, 2007

J. António: O Fotógrafo Português no Reino do Sião (Segunda parte)

Há muitos portugueses que foram esquecidos nas páginas da História de Portugal na Ásia e Oriente. O fotógrafo português J. António, entre os tantos, foi um dos "grandes" ignorados!


S.M. O Rei Chulalongkrorn



Porém historiadores estrangeiros e apreciadores da arte de "bem fotografar" por diversas vezes mencionaram o seu nome e a sua arte, fina, de obter imagens. Esta figura, nascido no século XIX (sem ainda se conhecer, exactamente, se abriu os olhos ao mundo no antigo Reino do Sião, em Macau ou em Portugal), excerceu a profissão de fotógrafo dentro de uma humildade que impressiona.



S.H. o Príncipe Damrong - Ministro do Interior

O J. António teve certamente um mestre que, preliminarmente, lhe ensinou a focar a imagem, enquadrá-la e depois a arte, já nascida com ele, viria depois.


António´s Concept of a Peasant Girl

São inúmeras fotografias e, outras transferidas para postais ilustrados que a comunidade, estrangeira, residente na cidade de Banguecoque, no príncipio do século XX, enviavam aos familiares e amigos, pelo correio, marítimo, transportado pelos barcos a vapor. O J. António, fotógrafo português, em parte a ele se deve a divulgação do Reino do Sião. Foi J. António que editou o primeiro "roteiro" de Banguecoque e do Reino do Sião no princípo do século XX: "The 1904 Traveller´s Guide to Bangkok and Siam".



O famoso sorriso siamês

Obra que mesmo passados mais de 100 anos encontra-se absolutamente actualizada. Pode hoje sem ponta, alguma, de dúvida estar actualizada no que se refere à topografia dos locais aonde J. António foi carregando a máquina e o tripé e colocá-lo no lugar certo para recolher em imagens os cenários que os seus olhos observavam.



Um estudo em cima de duas idades

Imaginamos o J. António a viajar navegando, em almadias, pelos rios e canais, de comboio (há pouco tempo em circulação no Reino do Sião) puxados por máquinas a vapor fumarentas e nas províncias em carros puxados por búfalos.O fotógrafo português não foi só um artista que vislumbra o cenário exterior e deseja inseri-lo nos sais de brometo de prata colados à chapa de vidro que a visão da lente vai fixar a imagem.

Músicos


O J. António no Reino do Sião é o fotógrafo oficial da Corte do Grande Rei Chulalongkorn. Fotografa Suas Majestades o Rei , a Raínha, príncipes e princesas, altas individualidades oficiais e outras da sua época. O J. António, fotógrafo português, não é privado de recolher as imagens que pretende obter. Recolhe e publica fotografias no seu "roteiro" tudo que melhor lhe parecer sem a mínima censura.




Raparigas da Birmânia em Banguecoque


Assim vamos encontrar na página 68, da sua obra uma imagem com a legenda "An Old Style Execution" de um condenado à pena capital.Numa das primeira páginas do Guia, editado por J.António, informa-nos: Member of the Geographical Society of Lisboa and of the Commercial Geographical Society of Paris, &C., &C., Já me referi na primeira peça sobre o António (inserida neste blogue em 21 de Julho de 2007) em cima de pertencer, como sócio, à prestigiosa instituição portuguesa e à francesa.


Mohn mulher (peguana) - Senhora siamesa em traje moderno - Mulher siamesa da província

Outro português, seu contemporânio, em Banguecoque, Elmínio Maria Sequeira, foi igualmente como o J. António membro da Sociedade de Geografia de Lisboa. Não está fora de hipótese que os dois foram amigos.Estamos convencidos (e não paramos) enquando não conseguirmos saber a verdadadeiras raizes de família de António. Seguimos um trabalho de investigação, minucioso, na "Siam Society" para onde vamos aos sábados, "passar a pente fino" o único jornal, salvo, filmado para micro filme, "The Bangkok Times", edições a partir de 1888 até depois do século XX.

Um estudo fotográfico idealizado para o conhecimento das mulheres camponesas

Será um trabalho moroso, ler os factos principais passados em Banguecoque, em letra "miudinha" e alguma já ilegível. Já encontramos, inseridas, notícias interessantes e relativas à comunidade, portuguesa residente, num Banguecoque, ainda pacato e a nascer para o modernismo e desenvolvimento. Além de ir encontrar notícias que me digam algo sobre o J. António, o fotógrafo português, sei de antemão que ali tenho fontes informativas relacionadas com os portugueses da época.


Períodos de vida de mulheres siamesas

Presença desconhecida que os parcos meios de comunicação na altura, ou por outras razões, os representantes de Portugal no Reino do Sião, de então, não deram conta de homens de valor, como o J. António, fotógrafo português, que foi, como tantos outros, um quinhão da Diáspora portuguesa na Ásia.Antes de encontrarmos a verdadeira história de António, vamos, por ora, cingirmo-nos à informação da introdução do livro: "The 1904 Travel´s Guide to Bangkok and Siam" do Dr. Walter E. J. Tips, em Setembro de 1996. Introdução escrita em língua inglesa que traduzo, livremente, alguns trechos:



Preparando folhas de betel para mascar


Os detalhes da vida do autor deste livro, J. António, continua obscura e de momento uma obra, publicada, entre os muitos autores da segunda metade do reinado do rei Chulalongkorn. Há muita razão para que isto aconteça. Em primeiro lugar, foi a sua simpatia que teve para com a gente comum e em segundo o seu talento como fotógrafo. Produziu excelentes fotografias e pensa-se, pelo seu passado, anterior, de vida, como um obscuro desenhador ao serviço da "Royal Railway Department", designado no jornal "Bangkok Times" (1894) "Director for Bangkok and Siam", com esta profissão e desconhecida as suas habilitações na arte de fotografar. Na edição do deu "roteiro", J.António revela ser membro da "Sociedade de Geografia de Lisboa". Provavelmente é descendente de família portuguesa. Charles Buls, um viajante belga (1901), fez-lhe uma visita no princípio do ano de 1900 e comprou-lhe larga quantidade de fotografias para ilustrar o seu livro "Croquis Siamois".

Outro estudo sobre o músico itinerante

J.António deve ter iniciado a aprendizagem da fotografia no estúdio da firma Lenze e Kleingroth, estabelecida em Banguecoque em 1894. Possui estúdios em Singapura e na Indonésia. O Bulls visitou o estúdio da Lenze, em Banguecoque, em 16 de Fevereiro de 1900, e relata que o fotógrafo não se encontrava e a porta encerrada. É de crer que as fotografias que o Bulls possui nos "Arquivos da Cidade de Bruxelas" são trabalhos de J.António e não do estúdio de Lenze e Kleingroth. Entretanto na sua obra "Croquis Siamois" não dá a conhecer o verdadeiro nome do autor.

Mulheres preparam folhas de palmeira para livros

Largo número de imagens de J.António são aproveitadas, reimprimidas e inseridas em outras obras suas: "Siameses Sketchs", bem como o modo de vida das pessoas, ordinárias, siamesas no livro "In Siam" (editada por Jotttrand and Jottrand, 1905) e depois viria a contribuir com fotografias para ilustrar a edição (da monumental obra que descreve, globalmente o Siam, no princípio do século XX e a qual possuímos na nossa biblioteca particular), "Twenttieth Century Impressions of Siam: Its History, People, Commerce, Industries, and Resources"(Wright and Brakspear, 1908).

Um monge com os acessórios para a prática da religião budista


Os olhos de J.António estão virados para os costumes das pessoas, comuns, do reino e pretende, nas suas imagens, mostrar a forma de estar no mundo dos siameses. J.António é um mestre na arte de bem fotografar no "Charoen Krung Photographic Studio". Entretanto não abandona o desenho de projectos de topografia, de arquitectura e engenharia, que lhe são encomendados. Está envolvido nas duas profissões. Apaixona-se pelos cenários rurais e pelos ribeirinhos. A uns duzentos metros do estúdio tem o majestoso rio Chao Prya (Chao Praiá) e os canais, afluentes e toda aquela poesia que as margens encerram e a vida quotidiana dos banguecoquianos. O rio e os canais são os meios de comunicação, principal, da capital do Sião, onde apenas nessa altura tinha sido aberta, havia 20 anos, a primeira artéria, a Charoen Krung e onde se estabelecia o J.António e outras empresas locais e estrangeiras. J.António anunciou a abertura de uma filial, na cidade, o que se presume ter sido instalado um estúdio na área do Palácio Real (como já descrevemos J.António foi fotógrafo oficial na Corte do rei Chulalongkorn).

Um peregrino chega ao final do seu destino


Anos depois J.António teve pela frente a concorrência com a abertura de novos estúdios e estes situam-se a escassos metros do seu. Entre essas lojas de fotografia está uma importante: "Ta Tien Dispensáry", propriedade do Dr. E. Reytter, médico belga, que viu no negócio da fotografia rentável. A fotografia principía a popularizar-se no Sião e os siameses apreciam ser fotografados. A partir dessa data a população de Banguecoque ganha o gosto pela imagem e mantém-se nos dias actuais.

Um monge (noviço) budista

"Bem me lembro, de quando há 30 anos, visitei pela primeira vez Banguecoque e não havia rua nenhuma que não tivesse uma loja e estúdio de fotografia. Foi, a ironia do destino, que me deu a oportunidade, numa dessas lojas, de conhecer a minha mulher, chinesa, de já de uma união de 27 anos. Pertencia a uma família, onde três irmãos seus eram (e são) estabelecidos, em várias áreas de Banguecoque, no ramo da fotografia"

J.António no seu "roteiro" incluiu publicidade em língua francesa e informa pertencer, como membro, da "Commercial Geographic Society of Paris". Igualmente refere, com humildade, ter sido galardoado com medalha de prata na exposição: "Hanoi Exhibition 1902-1903". Mas em campos diferentes J.António foi galardoado com outras medalhasÇ Eduardo Fornori, "Grand Prix", duas medalhas de prata; "General Importers and exporters" uma medalha de bronze; Kim Sen lee & Co., empresa proprietária de serrações de madeira, de fábricas de descasque de arroz, confere-lhe uma medalha de ouro.

Um grupo, tradicional, de camponeses siameses

Fool Loong oferece-lhe uma medalha de prata, pelos desenhos encomendados a que dá o título ao seu trabalho; "Furniture made from any design". A publicidade inserida no seu "roteiro" é de muita utilidade para os investigadores, onde dá conta de uma drogaria, em Korat (nordeste do Sião e a cerca de 300 quilómetros de Banguecoque) cujo propietário é o estrangeiro, Michael Franford. E ainda, numa vila, nas proximidades da cidade de Korat, encontra-se o inglês Dr. L. Verkley com uma farmácia. Figuram, também, no guia, páginas completas a anunciar o fabrico de gelo, engarrafamento de refrigerantes: Coca Champagne, Cherry Cider, Strabewyad, Stone Ginger Beer, Rasperryby Champagne, Shand Gaff - bebida seca para os climas tropicais - que se supõe ser a salsaparrilha. Continuarão as investigações em cima da vida e obra do J.António, que supomos e a julgá-lo português.

José Martins

P.S. Fontes informativas e fotografias: "The 1904 Travel´s Guide do Bangkok and Siam" J.António

J.ANTÓNIO É PORTUGUÊS E O MAIOR FOTÓGRAFO NO REINO DO SIÃO EM FINAL DO SÉCULO XIX E PRINCÍPIO DO XX

Thursday, September 20, 2007

J. António: O Fotógrafo Português e a Rua Charoen Krung (New Road)-Terceira Parte.

Hoje de manhã, dia 20 de Setembro, pelas sete da manhã,tirei a Nikon D70, as lentes e o "flash", da bolsa,do assento de trás do Honda Civic, companheiro de 12 anos, assim como outra aparelhagem de obter imagens.
Tenho a "tara" de fotografar o nascer e o pôr do sol e qualquer motivo interessante que se depara no meu caminho.
Não sou por aí além um amador com qualidade.
Absolutamento um jeitoso.



A Loja estúdio de J.António, por cerca de 1905. Foto lado direito: alguns estabelecimentos ainda,como memória, conservam os frontispícios antigos.


Capto imagens para mim e sou o crítico das mesmas.
Arrumo-as em CD Rom e não tenho coragem de destruir uma que seja. São como filhos nascidos perfeitos ou defeituosos merecem-me o mesmo carinho.Bem, estou a desviar-me do tema, vamos lá "carrilar" e ao assunto a tratar seria para encontrar vestígios, antigos, na Charoen Krung (New Road) e se ainda, alguns que houvessem, do tempo do J.António.
A Charoen Krung começou a ser construída no ano de 1851 e finalizada em 1865.
A designação do nome, em siamês, da rua, transmite: " A próspere cidade". Vamos então contar qual a razão porque a Charoen Krung foi aberta. Na altura a capital do Reino Sião, fundada em 1782, tinha 99 anos de vida. Durante meio século os siameses criam as estruturas, com ajuda de uma pequena comunidade estrangeira: chinesa, portuguesa e malaia.

Entrada da travessa Captain Bush Lane. Uma hortaliceira, tradicional, de rua transporte os vegetais para o mercado de porta-em-porta. Uma casa de esquina secular.

Gente que tinha chegado de Ayuthaya depois da invasão do exército peguano que a viria destruir em Abril de 1767.
O libertador do Sião, General Thaksin, doa terrenos, junto à margem do rio Chao Prya (Chao Praiá), primeiro em Thomburi, às comunidades: chinesa, portuguesa e malaia, para que se instalassem e principiassem a reconstruir nova vida.
Em 1820 um terreno é doado a Portugal, na margem oposta a Thomburi, para que instalasse uma Feitoria com a finalidade de Portugal fosse a nação que desenvolvesse o comércio entre o Reino do Sião e os países do ocidente.
O Sião é um país de largos recursos naturais, agrícolas e de florestas, virgens, de árvores de madeira de Teca.
Madeira, apenas, usada pelos siameses para construir suas casas e veículos puxados pelos búfalos.


A travessa Captain Bush Lane. Ao lado direito a entrada para a Embaixada de Portugal em Banguecoque

Um Sião rico mas estagnado, em permutas comerciais, com o ocidente. Estas faziam-se, praticamente com os países da Ásia.
Os juncos e as lorchas, embarcações chinesas, seculares, que sulcaram os mares de toda a Ásia têm os dias contados. A máquina a vapor, aplicada aos barcos veio a reduzir a navegabilidade dessas embarcações empurradas pela força do vento.


A Embaixada de França. À direita o caminho para os serviços alfandegários siameses


Banguecoque, dividido ao meio pelo grande rio, o terreno é alagadiço e a força braçal foram abertos canais que servissem não só para drenar as terras e estas produzirem arroz e o meio de comunicação à população em direcção à via fluvial, principal, que vai ligar ao mar e às terras do norte e oeste do reino.
Nos anos de 1850 os barcos a vapor, de menos calado (os de maior porte ficam ancorados nas águas profundas um pouco mais além da foz do Chao Prya),lançam ferro no porto, que se situa a duzentos metros a jusante da Feitoria de Portugal.
Com os barcos a vapor no porto de Banguecoque a cidade margens mudam completamente a face e voltam num meio cosmopolitano.
Países estrangeiros, onde se incluem a Inglaterra, a Itália, a França, a Holanda e os Estados Unidos, enviam para Banguecoque os seus representantes.



O velho e imponente edifício da alfândega siamesa, abandonado há muitos anos, vai reviver com a instalação de um hotel e com arquitectura do século XIX, quando foi construído


A Europa e os Estados Unidos, já estão bem ao corrente do desenvolvimento das modernas tecnologias que emergiam no mundo de então e com hábitos bem diferentes dos que existiam no Sião, sugerem ao Rei Mongkut (Rama IV) que mandasse alargar a Charoen Krung, (iniciada,rudimentarmente, em 1851 e finalizada em 1865) e que ficasse nos modos das construídas no ocidente. Em 1890 automóveis e riquexós circulam na Charoen Krung de lado a lado. Porém o Vice-Rei Pin Klao, o irmão mais novo do Rei Mongkut, não gostou nada do alargamento e protestou que além do aumento do trilho foi estendida até às portas do Grande Palácio, residência, oficial de Sua Majestade o Rei e fácil ao inimigo o atingir.A sua preocupação era pelo facto de facilitar uma chegada mais pronta do inimigo em atacar o palácio e a Família Real.

Uma janela do edifício da alfândga decorado com plantas plantadas em vasos e cascas de cocos

Fica a Charoen Krung com cerca de oito quilómetros e meio.
O coração comercial da Charoen Krung é entre a travessa Captain Bush Lane (onde está sitiada a Embaixada de Portugual desde que foi fundada a Feioria), até junto à bifurcação da hoje Silom Road (Rua da Silom). Cerca de uns 500 metros da Charoen Krung partem travessas, de uns 250 metros de comprimento, em direcção ao Chao Prya.




Trinta homens de negócios, estrangeiros, residentes no Reino do Sião, fim do século XIX. Representantes de empresas de seus países ou fundadodres de empresas. Na foto do lado direito (centro com o número 1) está Louis T. Leonwens, importante homem de negócios na Captain Bush Lane. É filho da Anna Leonwens a professora de inglês na Corte do Rei Mongkut. Viria a escrever o livro "Romance no Haren" e, mais tarde deu aso ao filme "O Rei e Eu".

O comércio é florescente e nessas vias ribeirinhas, constroem-se edifícios para bancos, para agências de representações; o legendário hotel Oriental; os consulados de França, este país a dominar o comércio dos países da Indochina que colonizava; de Inglaterra, com largos interesses nos territórios: Hong Kong, Birmânia, Birmânia, Singapura e território malaio, (pouco depois o edifício é negociado pelo Governo Simês em troca de um outro terreno e instalam-se os Correios Telegrafo e Telefones).
O hotel Oriental com toda a sua imponência, arquitectónica e luxúria no princípio do século XX

Na margem a duzentos metros um imponente edifício é edificado e virá ser os serviços administrativos da alfândega de Banguecoque. A uns 800 metros ao sul a "Doca de Bangkok" para reparar navios. Abrem vários estabelecimentos na Charoen Krung com produtos importadas da Europa e dos Estados Unidos, tanto para abastecer os siameses como a comunidade estrangeira.

O requinte de várias salas do Hotel Oriental. A fama de então (passagem por três séculos) chegou aos dias que correm que o tornou um dos hoteis mais famosos do mundo.

Para o lado sul pequenas lojas de comerciantes chineses e para o lado norte, direccionado ao palácio do Rei Mongkut, está a comunidade chinesa, já com largos milhares de comerciantes, onde se comerciam: bujigangas; ouro, vinho de arroz, ópio importado de Hong Kong; os quartos de fumo para os opiómanos; a casa de "porta aberta" da senhora "Sampengue" a que viria, depois a ser dado o nome ao "China Town", como é conhecido pelos estrangeiros.

Casa de "tabuinhas" a memória de um passado que os herdeiros não se querem desfazer delas.

Mas entre os tailandeses "Sampengue" é um apelido feio, nos dias de hoje, se a uma senhora de boas virtudes, durante uma discussão, se lhe for dirigidas a palavra: "Sampengue" é igual ao chamamento de p******.
Na China a fama corria que o Reino do Sião era a terra de leite e mel e a Banguecoque chegava toda a qualidade de gente: a honesta, a delinquente e os piratas em procura da fortuna. A polícia, tailandesa, chegava a mandar de volta milhares, de chineses, como gente indesejável. Chineses vindos da colónia inglesa de Hong Kong e de Macau (umas poucas centenas território administrado por portugueses), que depois de obterem um passaporte, evidentemente a troco de dinheiro, chegavam a Banguecoque. Chineses que aportavam nos juncos e nas lorchas no Chao Prya, unicamente com uma esteira para estenderem o corpo e um travesseiro para posar a cabeça e dormirem.Gente que foi usada para os mais humildes serviços, inclusivamente, o puxarem riquexós; carregar e descarregarem os barcos.

Outra casa da era da Charoen Krung que se mantém em pé. Assenta em espaço que vale "peso de oiro" para construir uma torre de cimento. Porém os sentimentos de quem a herdou, prefere conservar a memória dos que partiram do que o dinheiro.

Chineses que nunca se lhe conheceu o segredo do sucesso que de uma esteira um travesseiro, fundaram do nada impérios comerciais e industriais. No Sião é um exemplo.O J.António (sem ainda conhecermos as suas orígens não deixaremos de o considerar português), teria sido "mandarete ou até puxador de riquexós antes de vir a ser um desenhador e um fotógrafo que a todos tira fotografias e além do mais coloca a câmara escura, grátis, aos turistas e a outra gente que dela necessitar. O J.António, cremos que com um empréstimo e ajuda de amigos abriu a loja e o estúdio de fotografia na Charoem Krung. Quanto à sua disponibilidade, franca, de oferecer gratuitamente a sua câmara escura aos turistas, por aqui avaliamos que aquela alma aberta e sem ambição pessoal é "portuguesa concertesa".

O prédio e a frontaria do século XIX lá está conservada e pintada na Charoen Krung

O podemos considerar um homem que deseja servir todos os que o visitam com hospitalidade e franqueza. Foi essa abertura e a sua honestidade que aventureiros europeus que embarcados como turistas nos barcos a vapor, compraram ou lhe foram oferecidas, graciosamente, pelo J.António umas centenas de fotografias que viriam a ilustrar livros que publicaram. Porém essas fotografias o J.António pouco ambicioso não as assinou e quem lhas levou, compradas, dadas ou plagiadas também não designaram o nome do autor. O Banco francês L´Indo-Chine na Charoen Krung. A França já uma potência económica no Sudeste Asiático. Ao lado esquerdo o colégio da Senhora Assumpção

Depois de um estudo que fizemos ao estilo do J.António de colher imagens não nos resta dúvidas que todas as fotos inseridas em livros e jornais, publicados, na última década do século XIX e a primeira do século XX são do J.António.Vamos continuar a nossa investigação e voltar a dar o seu a seu dono!

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À MARGEM

A Charoen Krung, a Captain Bush Lane, onde se situa a Embaixada de Portugal são duas artérias muito minhas! Todos temos a nossa rua aquela onde nascemos e no correr da vida outras. A Chaoren Krung é um quinhão de minha vivência. São passados 30 anos desde a primeira vez que por ela fui transportado por um, já bem rodado, táxi Datsum "Blue Bird" que nos socalcos, do desnível das artérias, batia chapa e tremia toda aquela estrutura.Desde 1977 nunca mais deixei de passar por ela, de pé ou de automóvel. Fui o meu caminho, todas as manhãs, quando me diriga para exercer as minhas funções de "manga de alpaca" na Embaixada de Portugal em Banguecoque. Conheci-a ainda com muitos edifícios do tempo do J. António. Durante o dia, era eu que ía aos Correios Centrais deitar as minhas cartas. No meu caminhar encontrava mulheres, que por anos as conheci a assarem pernas e asas de galinha; outras confeccionaram doçaria, tradicional tailandesa. Junto aos correios, conhecia, uma "mulherzinha" que fazia bolinhos de tapioca que cozia em cima de uma chapa colocada nas brasas de um fogareiro a carvão. Depois de prontos quedavam-se de cor de violeta e perfumavam as narinas dos transeuntes. Comprei-lhe várias vezes a sua especialidade. Uma manhã, ainda cedo, a uns metros antes de voltar o carro para a Captain Bush Lane, vejo um círculo de pessoas à volta de um corpo que um carro lhe tirou a vida. No meio da manhã fui aos correios e não vi a "mulherzinha", tinha sido atropelada mortalmente e morreram, para sempre, aqueles bolinhos que eu gostava de saborear e de lhe comprar. Andavam, também, por ali uns indianos a vender amendoins torrados, com piri-piri, que vendiam uns copos de lata por cinco bahts. Tabuleiros, em cima de rodas de bicicleta, que todas as manhãs preparavam os pequenos almoços para os funcionários dos correios: troços de tapioca, cozido, embebidos com mel; os fritos de farinha "patong-kó" que até eu comprava por dez bates a meia dúsia que me faziam recordar as filhós portuguesas. A Chareon Krung, agora já não era a rua onde o quotidiano dela já não era o ponto de passagem da comunidade estrangeira, de homens de negócios vestidos a rigor e calçavam botas à "federico". Havia sim alguns nomes de empresas antigas que tinha passado para a administração dos tailandesas. A lei da vida não perdoa. As pessoas partiram do Sião para as suas terras ou para os cemitério da rua da Silom ou para o protestante da Charoen Krung. Junto aos correios ainda estavam dois dentistas chineses com máquinas, antigas de burilar dentes, os alicates de os extrair e as dentaduras postiça exposto todo este material, dentário, na montra. Um alfaiate chinês de excelente trabalho, em bom pano, que executava balalaicas de óptimo corte, fatos e alfaiate que foi de diplomatas, homens de negócios e meu também por alguns anos. O artista partiu para a última morada no cemitério chinês, num caixão "pomposo" e ladeado, em cima de uma carrinha aberta de oito mulheres vestidas de serapilheira.As pessoas das que conheci e convivi foram-se! Partiram, igualmente, para outros sitíos as duas casas de massagens moravam na Charoen Krung que eu de quando em quando lá ia para relaxar e entregar o meu corpo às mãos macias de uma jovem tailandesa.Pouco já vai havendo na Charoen Krung do meus velhos tempos.A Charoen Krung continua no mesmo sitío! E eu a caminhar por ela. Já lá vão 30 anos. Continua a ser a minha rua e, uma parte, da minha juventude.

José Martins
Fontes: Texto e fotos (não todas) do autor. Outras fotos: da obra "Twentieth Century Impressions of Siam - It´s History, People, Commerce. Industries, and resources. (Que pensamos pertencerem ao J.António, dado que não foi referido o nome do fotógrafo.