Escrito: Wednesday, August 29, 2007
CELESTINO XAVIER - Português Ilustre na Corte do Reino do Sião
Desempenhou cargos importantes na Corte do Rei Chulalongkorn desde, diplomata, Sub-Secretário de Estado a Vice-Ministro das Finanças.
Foi uma personalidade proeminente nos meios civis e oficiais da cidade de Banguecoque. Vamos assim descrever a história de Celestino Xavier, que obteve da Corte o título honorífico Phya Paipat Kosa.
Há uns 25 anos entrei, por curiosidade, num cemitério na rua da Silom a cerca de 500 metros da "New Road"; a primeira via construída na capital do Sião e adjacente ao rio Chao Praya. A minha curiosidade seria se por lá haveria gente, sepultada, portuguesa e luso-descendente.
Na rua principal daquele campo de repouso e a uns 30 metros da entrada do portão principal erguia-se um mausoléu de enormes proporções. Um pouco abaixo da cúpula uma inscrição em letras largas: XAVIER.
A minha investigação em procura da procedência e raizes da família Xavier ficou esquecida por mais de duas décadas.
Para facilitar a informação aos historiadores e, para que a nossa tradução livre possa, inocentemente, deturpar a história, vamos transcrever o texto em língua inglesa e inserir as fotos relativas à fábrica de descasque de arroz.
Após ter feito a descoberta que a família Xavier era de descendência portuguesa, fui procurar na reduzida informação em minha posse.
Nas cópias extraídas de um livro de assentos de nascimento,casamento e óbito do Consulado de Portugal em Banguecoque vamos encontrar no registo número 37 o seguinte:
"Falecimento de Joaquim Maria Xavier, com 88 anos, em 4/10/81, natural de Macau, comerciante, viúvo, morreu de senilidade. Foi sepultado no cemitério da Igreja do Rosário. Lavrou o óbito o missionário E.B. Dessalles e certifica-o o cônsul Henrique Prostes".
Na continuação da nossa "vasculhação" abrimos a obra "Portugal na Tailandia", escrita pelo Padre Manuel Teixeira, editada em Maio de 1983 (consulado do Embaixador Melo Gouveia), pela Imprensa Nacional de Macau. e vamos encontrar na página 259 o seguinte:
LUIS MARIA XAVIER - Vice-Cônsul
No Arquivo do Consulado Português de Bangkok encontrámos vários dados sobre Luis Xavier, que completamos com outros respigados nos Arquivos de Macau.Num documento de Agosto de 1902, lemos: " Joaquim Maria Xavier, natural de Macau, faleceu há muitos anos; deixou três filhos e duas filhas: - 1. Luis Maria Xavier, que foi Vice-Cônsul - 2. Joaquim Maria Xavier - 3. Viriato Maria Xavier - 4. Leopoldina Maria Xavier - 5. Alexandrina Maria Xavier".
Joaquim e Viriato faleceram em tenra idade já há alguns anos; Luis há mais dum ano e meio, deixando um filho legítimo, Celestino (Phya Piapat Kora; Leopoldina faleceu há algum tempo, deixando 5 filhas e 3 filhos: 1. Maria Francisca de Jesus - 2. Guilhermina Antónia Inês de Jesus - 3. Amélia Maria de Jesus - 4. Emília de Jesus - 5. Libânia Victória Leopoldina - 6. José de Jesus - 7. Guilherme F. Jesus - 8. Adeodato Francisco, que está em Paris como adido da legação siamesa.
Libânia Victória Leopoldina casou em 1903 com Germano Egídio de Jesus, nasceu a 1-9-1875 em Bangkok, filho de Filomeno Manuel de Jesus e de Micaela Antónia da Silva, de quem teve um filho, Victor Germano Egídio de Jesus; este casou em segunda núpcias, em 1905, com Guilhermina Antónia Inês. Sobre Joaquim Maria Xavier, irmão de Luis Maria Xavier, aparece no Consulado este documento:
Uma foto rara (1905) do terreno do Consulado de Portugal, com o mastro e a bandeira das quinas a flutuar no vento. O pau de bandeira, foi por muitos anos o ponto de referência, da navegabilidade dos canais em direcção ao Rio Chao Prya. A doca de Banguecoque quedava-se a cerca de 300 metros, a jusante (ainda nos dias de hoje existe o edifício da alfãndega em ruinas) e onde todo o tráfego marítimo, cargas e descargas de mercadorias locais e estrangeiras se processava."Tenho a honra de informar V.Exa. que, sendo altamente repreendido pelo Director-Geral dos Consulados, por ter deixado este Consulado, durante a minha ausência, entregue a V.Exa que não soube ou não se dignou cumprir com as instruções que eu lhe tinha deixado, sou obrigado a dar-lhe a sua demissão.Queira portanto V.Exa considerar-se demitido do cargo de vice-cônsul de Portugal desde a data deste" Eduardo Augusto Rodrigues Galhardo, Governador de Macau (1897-1900), visitou Bangkok em 1898. No relatório que elaborou após a visita escreve acerca desta demissão"...(Há) " um agravo e uma injustiça que está pesando sobre um cavalheiro a quem Portugal deve gratidão pelos serviços desinteressados prestados ao país, e pela protecção que tem dispensado e está sempre pronto a dispensar a todos os súbditos portugueses que se lhe acercam. Este cavalheiro é o cidadão português Luis Maria Xavier, nascido em Bangkok de pais portugueses, cavaleiro e comendador da ordem militar de Nosso Senhor Jesus Cristo, que goza de maior consideração por parte das autoridades locais e dos estrangeiros residentes, e que tem feito da sua fortuna e da sua influência pessoal largo uso a bem dos seus compatriotas.Luis Maria Xavier foi em 6 de Agosto de 1889 nomeado vice-cõnsul de Portugal em Bangkok; como tal, prestou muitos e desinteressados serviços, zelando pelos interesses dos súbditos portugueses durante o período crítico da Guerra franco-siamesa (1), e promovendo tudo o que pudesse engrandecer a sua pátria naquele país, como já anteriormente tinha feito, sendo um dos que mais trabalharam para conseguir um edifício para o nosso consulado, propriedade do Governo de Portugal e em terreno português, noq ue logrou ver coroados de êxitos os seus esforços, para o que adiantou o capital necessário, que depois lhe foi pago por decisão do governo.
A honestidade e respeitabilidade deste cavalheiro abriram uma separação entre e ele e o cõnsul Pereira, que sabia perfeitamente não encontraria no vice-cônsul aprovação ou auxílio para qualquer acto que não fosse absolutamente legal e justo e que, receando uma observação ou a representação oficial da parte de quem, residindo na localidade, a podia fazer com tantos e tão seguros elementos, evitava a todo o transe entregar-lhe o consulado.
Foi assim que, durante a ausência do cõnsul Pereira em 1890, o consulado de Portugal, em vez de ser gerido pelo vice-cônsul, ficou a cargo do cônsul da Holanda.
Na segunda ausência do cônsul Pereira em 1894, naturalmente porque o estado dos negócios do consulado era já assás conhecido e não houve cônsul estrangeiro que aceitasse o encargo, ficou a gerência entre ao vice-cônsul Xavier: se a honestidade deste lhe fazia condenar o procedimento do cônsul Pereira, o seu carácter bastante generoso calou o que viu e o que já sabia, e durante a sua interinidade só procurou acudir aos interesses dos súbditos portugueses que, naquela época anormal, reclamavam especial atenção, e sanar os atritos que da passada gerência iam surgindo.
Voltando o cônsul Pereira a retomar o seu posto, dirigiu ao vice-cônsul, em paga de não haver denunciado as suas faltas, sem haver a mais leve troca de explicações: um ofício de poucas linhas, com ele, cônsil Pereira, lhe dava a demissão de vice-cônsul e dizia que se considerasse demitido desde a data do ofício, 13 de Outubro de 1894.
Sem conhecer bem do valor da demissão nos termos em que lhe era comunicada, Luis Maria Xavier julgou-se contudo fundamente ofendido por um tão injustificado e brusco procedimento, tão oposto áquele que lhe tinha direito a esperar, e dirigiu, poucos dias depois, em 27 de Outubro, uma exposição documentada a sua excelência o ministro dos negócios estrangeiros daquela época, relatando o sucedido e esperando a satisfação que lhe era devida.
A essa exposição nunca obteve resposta, e de então para cá aquele respeitável ancião tem vivivo amargurado com a ofensa que recebeu do representante do seu país, ao qual ele tantos serviços prestou, mas nem por isso tem deixado de continuar a ser-lhe dedicado, e de espalhar favores pelos portugueses que o vão procurar, conseguindo para eles, das autoridades siamesas, graças que o cônsul nunca conseguiu por não ter influência para as obter.
(1) Refere-se à guerra de 1893: a 10 de Julho o Governo Francês avisou o príncipe Dewawongse de que as canhoneiras Inconstant e Cométe cruzariam, a 13 deste mês, a barra do rio Chào Phya a caminho de Bangkok. Sendo recebidos a tiro, conseguindo ancorar em frente da Legação Francesa. M.Develle, Min.º dos Neg. Est. da França mandou um ultimatum a 20 de Julho com pesadas cáusulas, que o Sião foi forçado aceitar.
O Governo português certamente não pode e não quer ser solidário com tão grande arbitrariedade, que revolta pela injustiça e pela ingratidão que encara: é justo que o cidadão Luis Maria Xavier, que nasceu em Bangkok, que nunca viu Portugal, e que, apesar disso, naquele recanto do mundo tem sido em toda a sua vida já longa dedicada a Portugal e aos portugueses, saiba, mesmo na velhice, que a Pátria teve conhecimento da sua dedicação, e que não é injusta para com aqueles que dela bem merecem.
Parece-me um acto de justiça, a reintegração do cidadão Luis Maria Xavier, proprietário residente em Bangkok, no cargo de vice-cônsul de Portugal naquela cidade:reparação que apenas depende da cumulação de um ofício ditado por meu espírito elucidado.
À parte de personalidades estrangeiras que o Rei do Sião contratou no estrangeiro para a organização dos serviços de administração da Corte, numerosos homens de negócios se instalaram em Banguecoque quer por sua conta ou representando empresas europeias ou dos Estados Unidos.
Como sinal de reconhecimento pelos muitos importantes serviços por ele prestados, não duvido solicitar de V.Ex.ª, acompanho-o de particular recomendação.
A 6 de Outubro de 1899, Galhardo voltava a chamar a atenção do ministro para a reparação dessa injustiça.
A 9 de Maio de 1899, F. Neiva, Ministro dos Negócios Estrangeiros, respondeu que ia propor ao rei a condecoração para o ex-Vice-cônsul Luis Maria Xavier; mas quando à sua reintegração no consulado, dependia do no cônsul, Luis Corrêa da Silva, a quem competia escolher empregados de sua confiança.
Quanto a Frederico Pereira, sugeria que se lhe fizesse um inquérito rigoroso, dada a gravidade dos factos da sua gerência (1).
De facto, a Luis Xavier doi concedida a condecoração de Comendador; e o Cônsul Luis Corrêa da Silva entregou-lhe o consulado a 9 de Setembro de 1900, em que se retirou para Portugal. Ele geriu-o até à chegada do novo Cônsul, Luis Leopoldo Flores, em 22 de Dezembro desse ano.
Assim lhe foi reparada a injustiça.
No Reino do Sião havia muito que comprar e que vender! Um país de recursos naturais a explorar. Na linha de pensamento (herdada pelo Pai o Rei Mongkut) do Rei Chulalongkorn seguia que para o Sião voltar numa monarquia próspere teria que equiparar-se aos países do Ocidente e relacionar-se com eles.
À MARGEM
A nossa investigação em cima da família Xavier, de orígem portuguesa, residente em Banguecoque não ficou finalizada. Necessitamos de procurar se ainda vivem descendentes. Se a fábrica de descaque de arroz ainda labora, se passou para outras mãos ou se abandonada.
A família Xavier, sem termos qualquer dúvida em o afirmarmos foi a família mais antiga, portuguesa, que se instalou na nova capital do Sião. Celestino Maria Xavier, foi um dos seleccionados por S.M. o Rei Chulalongkorn, e certamente um dos priviligeado com uma bolsa de estudos para ser educado no estrangeiro. O grande Rei, além de conceder bolsas de estudo a siameses enviou seus filhos para capitais europeias para ali serem instruídos e de volta ao Sião contribuirem para o desenvolvimento da monarquia.
O Patriarca da família, Joaquim Maria Xavier, emigrou de Macau para Banguecoque (igual a outros macaenses que excerceram importante funções na Corte do Sião) e teria começado a construir o seu império de negócios, aí por volta de 1820 de quando foi doado o terreno a Portugal para construir Feitoria.
Pelo que analisamos foi um homem de grande influência junto da Corte de três Reis: Rama III,IV e V. Seus filhos, luso-descendentes, nunca deixaram de gostar de Portugal e Joaquim Maria Xavier optou por dar nomes de baptismo portugueses a seus filhos.
Não se encontram referências dos Cônsules Portugueses no Sião a enaltecerem a família Xavier e a posição de Celestino Maria Xavier, como Sub-Secretário de Estado e Vice-Ministro das Finanças. Compreendemos que certos cônsules de Portugal se deixavam envolver em "fastidiosas" intrigas de que não lhes dava para se acolmatarem aos que os rodeavam, diplomaticamente.
Pelo que transcrevemos acima, do Monsenhor Manuel Teixeira, bem razão temos para o afirmarmos, que (certo) acervos de Poder inventavam, difamavam os que os serviam, em prejuzio do país que representavam.
José Martins
P.S. Material de imagem inserido foi obtido de várias publicações da época e outro do autor.
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