Wednesday, March 9, 2011

REPORTAGEM-SEXTA-FEIRA SANTA NO BAIRRO PORTUGÊS DE SANTA CRUZ

Escrito na Sexta-Feira no ano de 2008
A frontaria da Igreja de Santa Cruz virada para o rio Chao Praya (Praiá). Quem navegar pelo rio acima, depois de navegados uns cinco quilómetros a seguir a Missão Diplomática de Portugal, ao seu lado esquerdo, visionará uma cúpula com um cruz no topo. Recomenda-se visitá-lo, a igreja e dar um volta pelo bairro de vielas estreitinhas. Pode sem receio algum de tirar fotos, visitar as "fabriquetas" caseiras de queques portugueses. E que digam as pessoas ou crianças que é "portuguete" (nome porque é pronunciado na língua thai Portugal)... Vão gostar de as ouvirem.
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Lá vão muitos anos que a minha Sexta-Feira Santa, o fim da tarde é despendido no velho bairro português de Santa Cruz. Por norma visito-o umas três ou quatro vezes por ano. Faço o mesmo de quando em quando ao Bairro da Imaculada Conceição até porque tenho um especial carinho por aquele pequeno aglomerado populacional. Fundado pelos portugueses um século antes da caída de Ayuthaya nos anos de 1767. Ainda, e a pouco mais de duzentos metros da Embaixada de Portugal, há outro bairro luso de nome Senhora do Rosário.
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Neste já não existe qualquer vestígio da pernanência de portugueses e lusos tailandeses. Desapareceram e os bairros, como as pessoas, igualmente, morrem. Se não houver alguém que se debruce sobre a história e os conheceu ainda vivos a memória desaparece e os vindouros pouco ou nada ficam a conhecer sobre como eram os bairros e as gentes que por lá nasceram e fizeram suas vidas.
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Voltando e agora referindo-me mais uma vez Bairro da Imaculada Conceição que há duas dezenas de anos visitei-o pela primeira vez, portugueses ou luso-descendentes, naquele pequeno nucleo não encontrei alma que fosse ali residente. Mas achei o segundo livro, da paróquia, de assentos e nascimento, casamentos e óbitos e deu-me a certeza que o bairro da Imaculada Conceição é genuínamente luso. O primeiro livro de registo tinha desaparecido.
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O segundo com muitas páginas amarelecidas e em péssimo estado de conservação consegui fazer-lhe cópias em papel A3.
Muitas horas perdidas, depois de copiadas as páginas e com muita paciência tornei aquele livro, com 375 páginas, legível.
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Porém a história de Portugal na Tailândia, por várias vezes tem sido deturpada em que aparece sempre alguém a clamar os bairros para êles (países). O livro de 375 páginas e com numerosos assentos de nascimento, casamentos e baptisados os nomes ali designados são puramente portugueses.
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Fiz questão para que minha filha Maria Martins fosse na igreja da Imaculada da Conceição (1987) fosse junto da pia de água benta baptizada. No bairro ainda lá está o cemitério com gente sepultada portuguesa. E dois mausoleos por ali estão, um de uma senhora grada, portuguesa, que nasceu e faleceu no bairro em completa ruina.
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Valeria a pena a quem de direito, perguntar à administração da paróquia da Imaculada Conceição a fim de poder ser restaurado o jazigo e, pelo menos, ficava a memória respeitada da senhora e a de Portugal.


O antigo cenitério do bairro de Santa Cruz (que conheci) deu lugar a esta construção. O campo de repouso foi construido após a fundação do bairro (1767). Foto lado esquerdo: "os priores da paróquia" conforme vai terminando sua vida terrena descansam, eternamente, nas traseiras da igreja.

No bairro de Santa Cruz muitas das suas características, dentro do contexto da urbanização, desapareceram. O cemitério deu lugar a uma grande construção para os serviços de administração da paróquia. Ao lado direito a construção de apartamentos onde residem umas centenas de pessoas.

Quando conheci o bairro a demografia não era significativa. Cresceu no decorrer de 20 anos e, no bairro de Santa Cruz frequentam as escolas centenas de crianças nos estudos primários. Por isso pensamos que o cemitério teria sido "profanado" (não a contento de muitos residentes e o desagrado noticiado na imprensa local); foram transferidas as ossadas para um cemitério, propriedade da Igreja do Vaticano, a 40 quilómetros do bairro e na província de Nakhon Phatton.

No interior do bairro pouco haja sido mudado. As pessoas, a maior parte delas, católicas, praticam a religião de tal forma que me impressiona. É gente simpática e podemos caminhar, que ninguém nos molestam. As crianças olham os "farangs" (estrangeiros para os tailandeses) com um sorriso de hospitalidade. Não nos pedem nada e que se fique aqui a saber: as raízes tradicionais dos tailandeses é o orgulho de ofereceram e não pedirem.

Qualquer visitante que visite a Tailândia poderá encontrar pedintes, sentados nos passeios, a pedir esmolas. Esses pobres, a maioria, entraram clandestinamente no território de outros países e controlados por "gangues".


A senhora, residente no bairro de Santa Cruz embala os queques portugueses. Na foto do lado esquerdo expostos para venda ao público.

Os residentes são pessoas de vivência modesta, ocupando-se, os jovens ao balcão de grandes superfícies, vendedores de roupas nas bancas de mercados que abundam pelas cidade. Outras há que têm as suas indústrias caseiras. Uma delas é o fabrico de doçaria tailandesa onde estão incluídos os queques portugueses.
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Os queques, o fio de ovos, o Tong Ion e o Tong Ip (bolas ovais de doce de ovos e açucar) foram as primeiras indústrias caseiras de sobreviência que surgiram no bairro desde a fundação. Os fios de ovos, o Tong Ip, o Tong Ion deixaram de ser fabricados no bairro.
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Ainda sou do tempo que uma velha senhora possuía uma "fabriqueta" de cozinha e onde produzia, praticamente, quantidades industriais. De queques existia só uma "fabriqueta",na margem do rio quando visitei o bairro pela primeira vez. A confecção era absolutamente artesanal e do tempo dos portugueses e luso/tailandeses viviam no "Bangue Portuguete".
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O cozimento é feito a lume brando de lenha, com uma tampa de lata a cobrir os queques e esta em cima com brazas acesas para tostar levemente a superfíce do queque. O amassamento da farinha, misturada com água, farinha e ovos era efectuado pela força das mãos com uma corda enrolada à haste que no movimento de vai-e-vem fazia com que duas pás, se movimentassem no fundo do alguidar de porcelana e a massa depois de pronta colocada nas formas onduladas e em seguida estas colocadas na chapa em cima do forno, de tijolos circular onde se procedia ao cozimento.


Por dois séculos o tempo ou a formiga branca não conseguiu destruir as casas de tabuinha e já familiarizado com o caminho, onde estão, como que elas sejam coisa minha. Na fotografia da esquerda o telhado, oblíquo, em ripas de madeira de teca construído o sol. Talvez o "pé-de-cabra" no futuro, faça o ajuste de contas para dar lugar a um edíficio de ferro e concreto

Dentro do bairro caminha-se pelas vielas estreitas, estas já foram traçadas de quando os portugueses e luso/tailandeses quando ali se instalaram (1767). Os habitantes deslocados do "Bangue Portuguete", seriam (sem nunca se tenha sabido ao certo) umas três mil almas.
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Ora a fundação do "Bangue Portuguete" vinha dos anos (segundo os meus cálculos) de 1518. Em 1767, já com cerca de 250 anos e com três paróquias, erigidas três igrejas, é de prever que a população de três mil pessoas deve corresponder à veracidade. Como já por várias vezes me referi, nos vários trabalhos que escrevi relacionados com o "Bairro de Santa Cruz", o terreno do bairro foi oferecido graciosamnete, pelo General Thaksin, o libertador da Tailândia após ter corrido os "peguanos" do Reino do Sião depois de terem invadido e saqueado Ayuthaya a segunda capital em 1767.
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A dádiva do General Thaksin foi pelo facto da lealdade que os portugueses sempre hajam demonstrado. Thaksin entronizar-se-ia o primeiro Rei da era de Banguecoque, fez transportar os portugueses e luso/tailandeses para a nova capital e instala-os no terreno; oferece-lhes madeira para construirem suas residências, igreja para a prática do culto católico e com isto formar nova comunidade.
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Segundo o Dr. Joaquim Campos, um proeminente historiador, Cônsul de Portugal em Banguecoque (1936/1944 ) escreveu: "o campo de Santa Cruz não foi oferecido ao Estado Português mas à comunidade portuguesa/luso/tailandesa deslocada do Bangue Portuguete".





Ando à 20 anos a investigar a quem pertenceu esta bela e elegante casa construída de madeira de teca, que teima resistir ao tempo e à corrente do Rio Chao Praya (Praiá). Foto do lado direito: a construção de um muro de cimento e ferro, na margem do rio, para a elegante casa volte a ter jardim, plantas, a "sala" e o fontenário.

Entre as casas de tabuinhas e ripinhas do Bairro de Santa Cruz, umas ainda por ali existem que mesma velhas teimam resistir à idade e à destruição que nos dá conta que ali viveu gente de negócios, rica e grada.
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Conheci uma moradia de dois andares e nos rés do chão uma varanda virada para o rio. Um pequeno jardim junto à margem do "Chao Prya". Conheci aquela linda habitação que me fascinou o seu traço de carpinteiro de boa obra. Imaginei-me até dentro dela e sentado naquela varanda absorver o fresco do fim da tarde, a olhar o majestoso rio, ao que chamei por tantas vezes meu.
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Nunca cheguei a saber quem foram os proprietários. Há uns 14 anos uma estudante amiga, a "Pla" (peixe na língua tai) que pela manhã tomávamos café junto à margem do rio, pedi-lhe se me acompanhava na manhã de um domingo para irmos ao Bairro de Santa Cruz. A época era a das chuvas. Chegamos junto ao prédio e por desgraça minha vi desaparecer, perante os meus olhos, a elegante "Sala" (palavra portuguesa deixada na Tailândia), de tecto e cornijas rendilhadas.
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Levou igualmente para as águas do Golfo do Sião as terras do jardim, já sem plantas e um fontanário no meio. Ontem, pela viela cheguei, mais uma vez, entre as tantas que ali fui, para lhe recolher imagens. Um residente do bairro chegou-se a mim e diz-me, indicando-me o lugar junto à margem, onde poderia obter boas imagens.
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E em verdade obti aquelas que nunca tinha conseguido. A casa lá estava teimando viver. De janelas fechadas e a varanda à frente virada para o rio. E para meu contentamento vai viver por muitos mais anos (a madeira de teca é eterna), porque o Governo da Tailândia está a construir um longo muro junto às margens do Chao Prya e roubar ao rio as terras que lhe levou. Depois do muro voltarei à minha investigação quem teria sido a família que viveu naquela linda casa.


Um homem dá volta ao bairro matraqueando a matraca anunciando que o "Auto do Calvário" se aproximava. Num pátio davam os últimos retoques de maquilhagem aos actores da representação. Outros preparam a decoração das imagens, à volta da igrela para a Via-Sacra

O princípio da noite estava próximo e fui me aproximando para o adro da igreja. Às sete horas estava programado o início do espectáculo religioso do Auto do Calvário e a Paixão de Jesus Cristo. Os habitantes do bairro, já acostumados e passa de geração em geração, todos trabalham nos arranjos.

Oram enfeitam o andor onde Jesus Cristo será deitado depois de descido da cruz; surgem mulheres de todos as vielas com jarras com flores brancas. Outras enfeitam a imagem de Virgem Maria, em cima de uma mesa que vai assitir a descida do crucificado filho. O som de música sacra chega ao ouvido de todos.

Um homem dá volta ao bairro matraqueando uma matraca. Um objecto, velho e que me fez recordar aquela matraca que em miúdo matraqueei nas ruas da minha aldeia. Num pátio maquilhavam o bom e o mau ladrão com tinta vermelho vivo para lhe dar o toque. de golpes, de sangue fresco. Senhoras maquilhavam a Maria e Maria de Madalena e o José. A outro lado a guarda Pretoriana. Não vi o Juda e não sei se já se tinha pendurado numa "árvore" pelo pescoço pela conspiração.

O guardas Pretorianos, José, Maria e Maria Madalena, aguardam a descida de Jesus da cruz. Nos lugares de honra e (a) (b) os embaixadores de Portugal Maria da Piedade e António de Faria e Maya. (os primeiros embaixadores de Portugal que assistiram a esta cerimónia)


Chega José de Arimatéia ladeado de mais cinco samaritanos, que vão fazer descer, piadosamente, Jesus Cristo da Cruz. O palco decorado com uma pintura do Monte das Oliveira em Jerusalém. Os alto-falantes através do som sopram o vento. O momento é de silêncio e de reflexão. ~
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Os devotos sentados no chão, com os dedos tapam os ouvidos porque sabem não tarda o rebentamento de petardos que são os trovões e as iras do céu contra os que crucificaram Jesus Cristo. Aquela imagem pregada na cruz não representa só a sua pessoa mas a de outros Cristos que ao de cima da terra estão sujeitas à "pata" do poder, às injustiças e ao despotismo.
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Ao lado lá estão os dois malfeitores, os ladrões bíblicos, que deveriam ser uns ladrões, naquele tempo "pilhas" galinhas.Um era o bom o outro mau que não conseguimos definir qual dos dois seria o melhor e o simpático ladrão.


Maria e Maria de Madalena e atrás três guardas Pretorianos

A descida de Jesús aproxima-se. José de Arimatéia e seus samaritanos ajoelham-se aos pés da imagem de Virgem Maria. Jesus no alto da cruz com a cabeça tombada sobre o peito. A religiosidade dos samaritanos de mãos postas perante Maria transmitem-lhe que vão trazer o seu filho às mãos e dar-lhe a condigna sepultura.
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Troa os som das batidas do martelo no lenho para retirar das mãos os cravos com que foi crucificado Jesus. Conforme vão retirando os ferros que prendem Cristo vêm ofertar, de joelhos, a Maria. Ela é uma das imensas Maria/mulher, do Mundo, que sofrem pela morte dos filhos. O acto é de reflexão para todos que presenciam a generosidade de José de Arimatéia.

Jesus arriado da cruz que depois será transportado para um andor e depois ali deitado

Jesus deitado na cama de um andor, em procissão, acompanhado pelos moradores do bairro de Santa Cruz e outros peregrinos que ali vieram para assistir ao Auto do Calvário e a descida de Jesus Cristo da Cruz
A cerimónia acabou junto às nove horas da noite. Lá estaremo para o ano de 2009
José Martins (fotografias do autor do texto)

Wednesday, March 2, 2011

AYUTHAYA DOS PORTUGUESES - ALDRABAR A HISTÓRIA É MUITO FEIO...!!!

Thursday, February 24, 2011

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AMIZADE LUSA-TAILANDESA 500 ANOS DE EXISTÊNCIA - Por António Cambeta

Clique: http://cambetabangkokmacau.blogspot.com/2011/02/amizade-lusa-tailandesa-500-anos-de.html

"O director do museu explicou que é seu o desejo de poder construir um novo edifício para este museu, "talvez no próximo ano", estando neste momento "à procura de um financiamento junto do Governo tailandês". E falou de contactos com a Fundação Gulbenkian com vista a "uma possível ajuda neste orçamento".
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A construção em vista custaria perto de 160 mil euros (edifício), mas o director reconhece que precisa de juntar a essa soma mais 100 a 120 mil euros para cobrir todos os custos em vista.
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O novo museu ficaria situado entre o actual e o rio, e passaria a expor artefactos ali encontrados que estão guardados na reserva do museu da cidade, a não muitos quilómetros de distância, e que, por enquanto, não estão em exposição.
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Não muito longe do local, uma recente campanha arqueológica revelou as fundações do que se pensava ser a igreja jesuíta. O director do museu atribui contudo as estruturas agora descobertas a um antigo templo budista (segunda imagem).
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A terceira igreja, franciscana, continua ainda por localizar. Recentemente, agricultores acharam ossadas na zona que se pensa corresponder ao local onde terá existido em tempos.
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O terreno é hoje, contudo, uma propriedade privada. Pelo que a possibilidade de eventuais escavações existe, mas exigirá esforços oficiais para as viabilizar.
Publicada por Nuno Galopim em Domingo, Julho 19, 2009"
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Clique em cima das imagens para as aumentar

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Em verdade não conhecia a peça transcrita, acima, pelo meu amigo, de longa data, António Cambeta. No texto há erros e deturpação da história e má informação, escrita por Nuno Galopim, em 19 de Julho de 2009, não pode ficar em vão a verdade. Mentir ou informar mal, a história, é muito feio.
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Não me vou aprofundar, demasiadamente, em cima da história do "Ban Portuguet" (Aldeia dos Portugueses), dado que já escrevi tudo que tinha a escrever e informar.
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Conheço a parcela de terreno há 30 anos, acompanhei as escavações que foram obra do Embaixador Mello Gouveia e financiadas, em parte, pela Fundação Caloust Gulbenkiam e "Fine Arts Department" da Tailândia.
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Anexo um mapa do Ban Portuguet, elaborado ou mandado elaborar, pelo Cônsul Dr. Joaquim Campos no ano de 1939, onde estão assinaladas as igrejas de S.Paulo dos Jesuitas, São Domingos e a de São Francisco.
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Mas anexo outro mapa, miniatura, elaborado por um desenhador francês depois de meados do século XVII onde estão, como no do Dr. Joaquim Campos as três igrejas Portuguesas.
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Por fim a história de um país não é feita ou escrita em cima do joelho ou ao sabor de oportunidades e esquemas. A história é coisa muito séria e esta terá que ser feita por amor e não em procura de ocupar hoteis de boa cama, melhor mesa e passeios turísticos.
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Poderia adiantar-me mais e "pano para mangas" teria para mais me alongar e colocar a legalidade dos factos no sitio certo. Fico por aqui, por enquanto, mais tarde lá vou.
José Martins

Tuesday, February 22, 2011

O TRIUNFO DOS PORCOS

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Os porcos antes de ser abatidos também triunfaram, inseridos na vara, entre a floresta de azinheiras e focinharam, no solo, em procura de bolota.
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Grunhiram e morderam o guardador da vara. Há porcos que a vara deles é aquela onde podem mastigar bolota, graúda, ou mergulhar, dentro de cortelhos, nas pias de melhor vianda.
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Todos os porcos cumpriram, entre o lamaçal dos cortelhos ou no montado, a sua missão e esta termina quando feitos em presuntos, chouriças, farinheiras e costeletas panadas.
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Este é o triunfo dos porcos.

BAIRRO PORTUGUÊS DE SANTA CRUZ EM BANGUECOQUE

Thursday, February 17, 2011

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Hoje dia 17 de Fevereiro de 2011, fui visitar a casa, em Banguecoque, o meu amigo "do peito" António Cambeta. O motivo da minha visita, além de lhe pagar a que fez a minha casa na noite de consoada, seria, também para me emprestar um livro, valioso, com imagens, antigas, sobre o Bairro Português de Santa Cruz, fundado em 1767, após a queda da segunda capital, Ayuthaya, do Reino do Sião. Não conhecia o livro, publicado em língua tailandesa.
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O meu amigo Cambeta, um residente na Ásia na proximidade de meio século e reformado de Oficial da Marinha de Macau, além dos vastos conhecimentos sobre o ex-território administrado por Portugal, sua história antiga e contemporânea é sem dúvida o português que mais tem viajado, e conhece e divulgado, melhor que ninguém do Norte ao Sul a Tailândia, suas belezas, seus templos budistas e quando sabe que algo de português lá está a investigar.
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O amigo Cambeta quando teve conhecimento que existia o Bairro Português de Santa Cruz, em Banguecoque, sem saber a sua localização, meteu-se, mais a esposa e três filhas, luso tailandesas, num táxi, em sua procura, foi encontrado, falou com residentes (Cambeta fala, lê e escreve chinês/cantonês, tailandês, inglês e como alentejano das quatro costelas, sabe contar umas quantas anedotas, saborosas, dos "compadres", da região de Évora de onde é natural.

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Um residente do Bairro de Santa Cruz ofereceu a Cambeta um livro que eu nunca consegui e conhecer quem o teria editado. Desejou oferecer-mo, não aceitei, porque livros preciosos nem se emprestam, nem se dão, mas desde logo lhe disse que iria digitalizar as imagens e fazer uma cópia do livro a preto e branco, para figurar na minha modesta biblioteca. (Blogue de António Cambeta: http://cambetabangkokmacau.blogspot.com/
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Durante quase 30 anos fui colhendo imagens daquele espaço, que fui guardando nos meus arquivos. Escrevi alguma coisa e peças minhas foram publicadas em jornais de quando eventos no bairro que entravam na linha, noticosa, da Lusa.
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Tenho apontamentos que fui guardando e os mantenho arquivados em cadernos. Mas que se entenda e bem por aí que eu nunca me debrucei sobre a história de Portugal na Tailândia em procura de mordomias, ser conhecido ou que tenha esmolado para comprar um filme, revelá-lo depois e vender imagens.
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Nada disso. Também nunca tive ambições de ser um especialista de pedir uns "trocos" para escrever um livro, por que perfil de académico não tenho e preferi, sempre, oferecer o que sabia aos académicos e eles que colhessem frutos do meu trabalho e informações.
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Sempre reneguei as mordomias e lamber ou polir a "botas" do poder. Mas já que falo em académicos, academias e seus afins, há sábios, também, entre os letrados, a sacanagem, que enveredam pelo caminho de historiadores, mas com outros objectivos, que nada têm a ver com história.
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Os sacanas, académicos (não são nada deuses) é de fugir deles a sete pés porque, alguns, já cedo trairam os que ajudaram e, sem escrúpulos, ainda mais, um que ajudei, o sentei à minha mesa, enchi-lhe a "pança" de comida e de vinho de quando já me tinha traído e viria a meter-me dentro de uma intriga (a maior embutida na Embaixada de Portugal em Banguecoque desde fundada em 1820) que até merecia, por tão suja acção, umas valentes lambadas, com pau de marmeleiro, no costelado e perdiam-se aquelas que caissem no chão por falta de acerto.
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Por agora ainda é cedo para me pronunciar em cima das imagens inseridas nesta peça.
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Mais tarde dar-lhe-ei o relevo merecido, por que estas imagens muito me ajudarão ao meu trabalho de investigação.
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Certamente a minha idade não vai permitir, escrever uma obra, mas outros que venham, mais tarde e que vão à Siam Society procurar (da qual agremiação prestigiosa vocacionada para a cultura sou sócio há 23 anos, com o número 1842) a informação, por que todo o meu espólio de uns milhares de livros e documentos serão, muito próximamente, doados.
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Os livros e a história de uma comunidade, luso descendente, residente na Tailândia há 500 anos, não se vende, mas ofererece-se, com orgulho à Siam Society.
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Ou melhor: "só se vendem livros, se for necessário, para matar a fome ao proprietário, mas felizmente até que desta vida parte comida haverá para me alimentar, mulher e filha"
José Martins

JUDITE DE SOUSA: ADEUS À RTP - A JUDITE E EU.

Monday, February 28, 2011

A jornalista Judite de Sousa também faz parte da história da Embaixada de Portugal na Tailândia
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Judite de Sousa: Adeus à RTP
Prestes a trocar a RTP pela TVI, Judite de Sousa despediu-se através do Facebook: “Comecei a trabalhar na RTP com 18 anos. Entrei p
or concurso público. Conheci o pai do meu filho na RTP. Conheci o meu actual marido na RTP. Fui operada em Hong Kong quando trabalhava para a RTP. Foram 32 anos da minha vida. Decidi que é chegado o momento de mudar. De arriscar. De viver novas experiências. De conhecer novas pessoas. De renascer. Saio com a consciência de que fui uma boa trabalhadora. Leal e empenhada. Conto com a vossa amizade e carinho.” Fonte Correio da Manhã
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À MARGEM: Judite de Sousa também faz parte da História de Portugal na Tailândia!
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Foi a primeira jornalista que realizou um excelente documentário da série “Portugal Sem Fim”, em cima da história de Portugal na Tailândia e em Malaca em Agosto de 1986, na gerência do Embaixador Mello Gouveia.
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Foi o seu primeiro trabalho, para a RTP, realizado no estrangeiro. Fui eu que prestei toda a assistência a Judite de Sousa, durante a sua permanência na Tailândia. Deslocamo-nos aos três bairros portugueses que ainda existem de nome em Banguecoque: Santa Cruz, Senhora do Rosário e Imaculado Conceição e algo, ainda, havia de quando fundados e um pouco de sangue, diluido, luso.
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No bairro da Imaculada Conceição, enquanto o operador de câmara fazia imagens a dois irmãos, residentes no bairro dizia-me ela: “impressionante estes homens têm parecênças a homens transmontanos...!!!
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Depois dos bairros de Banguecoque, fomos para Ayuthaya e no Ban Portuguet (Aldeia dos Portugueses) de quando as escavações tinham terminado havia pouco tempo. Tivemos a graciosa ajuda do Director do “Fine Arts Department”, em Ayuthaya o meu velho amigo Patipat.
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A Judite de Sousa realizou um excelente trabalho e avivou a história de Portugal na Tailândia entre os portuguese residentes em Portugal e no Brasil. A Judite de Sousa uma jovem, franzina, mas pela minha frente tinha uma grande mulher, inteligente jornalista. Mal saberia eu que seria uma das maiores comunicadoras de televisão portuguesa.
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Treze depois, em 1999 a Judite de Sousa veio à Tailândia acompanhada do marido Prof. Fernando Seara e foi à embaixada visitar-me. Fora da chancelaria, entrei e não dei pelo casal. A Judite acompanhada de seu filho, seu segundo marido o prof. Fernando Seara estavam na parte da Secção Consular a perguntar por mim. Um português que ao acaso estava na chancelaria foi ao meu quarto de trabalho e diz-me: sr. Martins está lá fora a Judite de Sousa a perguntar por si.
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Fui ao encontro dela e dei-lhe um abraço e vejo nos olhos daquela franzina e grande mulher os olhos húmidos. Era a gratidão e a emoção do encontro com um amigo que colaborou com ela no seu primeiro trabalho, no estrangeiro, para a Rádio Televisão Portuguesa.
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A noite convidei os três para jantar na esplanada do Hotel Royal Orchid, na margem do rio Chão Praya e aquele que conhecia e navegou para realizar o documentário da série “Portugal Sem Fim”.
José Martins

Tuesday, March 1, 2011

LOP BURI (TAILÂNDIA) O ESPLENDOR DA REPRESENTAÇÃO DA HISTÓRIA DO REI NARAI

Sunday, February 20, 2011

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Por um dia e uma noite que permaneci em Lop Buri, distante de Banguecoque, 150 quilómetros. A finalidade da minha viagem, seria para assistir à exibição de um evento, ao vivo, que retrata a vida do Rei Narai e de quando o Rei Luis XIV com suas ambições pretendia a todo custo colonizar o Sião.
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As fotografias abaixo inseridas, mostram parte do que foi um grandioso espectáculo cuja representação foi efectuada por actores locais. Tenho a agradecer à organização a amabilidade com que eu e minha mulher recebemos, nos ter sentado na parte VIP destinada a especiais convidados.
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Sem esta préstima colaboração seria impossível ter feito cerca de 400 fotografias do evento. Não tive a oportunidade de obter um melhor trabalho, dado que milhares de pessoas, tailandesas, estiveram presente e não me permitiram ângulos de imagens desejados.
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Para os interessados na história do Rei Narai, presença portugueses no Sião, Maria Guiomar e seu marido Constantino Falcão estão 5 endereços, ao terminar esta reportagem, da internet para clicar. Talvez haja alguns erros, históricos, que mais tarde serão corrigidos.
José Martins


O hotel Lop Buri Inn, honrou a Maria Guiomar, luso japonesa, com uma das salas principais. Ruinas do palácio de Constantino Falção com o grande salão onde se realizaram grandes festas com a comunidade internacional. Era uma forma, diplomática, de relacionamento do Reino do Sião com os países europeus.

Imagem do lado esquerdo a entrada principal do Palácio do Rei Narai. Um guarda à entrada e um grupo para o revezar.
De Portugal, dentro das muralhas do Palácio do Rei Narai, era eu e a camisola das quinas, vestida por um miúdo, que certamente era admirador do Cristiano Ronaldo. Imagens seguintes: uma bonita jovem tailandesa vestida, como na época do Rei Narai, um actor que ir representar um japonés no evento conversa com uma senhora no papel de indiana.

Imagem do lado esquerdo: Jovens raparigas tailandesas, divertem-se no relvado do exterior do palácio entre as muralhas.Lado direito um sabor da moda, europeia, do século XVI.

Junto à residência do Rei Narai, no jardim, esmeradamente decorado, damas e senhores da época passeiam ao fim da tarde, fazendo lembrar o tempo auspicioso do Rei Narai e de quando os franceses se introduziram. O objectivo de França seria, colonizar a Tailândia e o pêndulo da balança entre os ingleses que dominavam a Índia e os holandeses a Batávia (Indonésia). Gorou-se a intenção e até hoje, os siameses desde que se identificaram como povo nunca foram colonizados por nenhuma nação ocidental.

A moda das senhoras nobres francesas, residentes, estão em Lop Buri. Jovens e belas tailandesas trajam ao sabor da época.


Imagem da esquerda e direita: figurantes que aguardam o início do espectáculo. Duas jovens sentam-se numa janela dos estábulos, reais, dos elefantes, do Palácio do rei Narai.


A imagem ao centro: um actor que representa o papel de um missionário, jesuita, das Missões Estrangeira de Paris. Tiveram um papel preponderante nas relações entre os franceses e a Corte do Rei Narai. Chegaram ao Sião em meados do século XVII.São uma parte do conflito gerado e a causa da morte de Constantino Falcão. Corre o boato em Lop Buri que o Rei Narai se tinha convertido ao catolicismo. Um missionário, jesuita, estava introduzido no palácio e este o motivo do General Petraja, sobrinho de Narai, usar como pretesto de prender Constantino Falção e, depois intronizar-se como Rei do Sião, depois da morte de Narai.


Justamente para os visitantes obter fotografias aos actores antes do evento começar.

Antes do grandioso, espectáculo ao vivo, em palanquins, lá seguem membros da comunidade estrangeira, residente, em Lop Buri. Menciono que os portugueses não tiveram um papel importante, na Corte do Rei Narai, em Lop Buri, durante a presença francesa. Porém, certamente, que houveram portugueses, na Corte do Rei Narai, como guardas e soldados artilheiros, outros na prestação de serviços. Rei Narai, durante o ano, passava 8 meses em Lop Buri, a 60 quilómetros da capital do Reino Ayuthaya, Historiadores referem o estado de saúde do monarca, enquanto outros, afirmam que Rei Narai deslocava-se, de Ayuthaya, durante a humidade e a calmaria dos meses de Maio a Agosto. Lop Buri é cercado por montanhas ao norte e com água potável que chegou a ser canalizada pelos franceses para o Palácio Real.

Actores e figurantes a postos. A representação não tarda a começar... As lanças o material de defesa que se misturava com as armas de fogo que os portugueses, foram os primeiros a dá-las a conhecer e ensinar-lhes a arte do manejo.


A cidade de Lop Buri é famosa pelos macacos que gozam de absoluta liberdade. A sua presençã é milenária e vindos com a civilização khmer. Lop Buri foi o encontro da religião hindu e a budista, que se fundiram e harmoniosamente têm vivido na paz plena, Os lótus são uma parte da vida dos siameses e além de a semente ser comestível com as flores adornam-se os altares do Lorde Buda.


Imagem da esquerda: Rei Narai, junto a uma dama indiana. Em Lop Buri, no reinado de Narai, viveu uma comunidade multirracial, aliás como sempre existiu no Reino do Sião, cujos monarcas foram tolerantes na divulgação de outras religiões. Os portugueses foram os primeiros a integrarem o catolicismo, pouco depois de chegarem ao Sião e a Ayuthaya em 1511. O três embaixadores, enviados especiais, siameses à Corte de Luis XIV, junto a Constantino Falção, posam para a fotografia, antes da respresentação.


Em Lop Buri, o luxo e as rendas, existiram, na época de Constantino Falcão e esposa Maria Guiomar. Constantino possui-a um raro perfil de diplomata. Nunca teve a ambição de fazedor de fortuna, mas elevar o Reino do Sião no contexto internacional das nações da Europa. A sua dedicação e amor ao Reino levou-a à desgraça e morte por degolamento, fora dos muros da cidade de Lop Buri. Considerado conspirador e inimigo do Sião, não teve a dignidade de a sua cabeça ser separada do corpo entre os muros da cidade. Seu corpo, não teve sepultura, mas lançado, aos abutres da selva.


Antes do início do espectáculo histórico, os actores que vão representar a magnífica peça, histórica, apresentam-se ao público para a fotografia. Na imagem do lado esquerdo Constantino Falção e a luso japonesa Maria Guiomar. Apresentei-me como português e falamos sobre o destino trágico, por que haja passado em Lop Buri. Poder, grandezas e miséria!


Imagem do lado esquerdo: Um junco chinês, chega a Lop Buri com mercadoria, estrangeira. Constantino Falcão, discute com o capitão da embarcação, antes descarregada, composta de caixas e pacotes. Imagem do lado direito, Constantino deixa o junco chinês, protegido pelos seus guardas.


Nobre da Corte do Rei Narai, dá instruções ao chefe da delegação de três embaixadores do Rei Narai, antes de se despedirem do monarca, cujo o destino será França e apresentarem-se ao Rei Luis XIV. Na imagem do lado direito, de joelhos, os embaixadores, despedem-se da comunidade estrangeira residente em Lop Buri.


Maria Guiomar à porta de seu palácio, recebe colares de jasmins que senhoras nobres da Corte do Rei Narai. Constantino Falcão (entre dois guardas que olham pela sua segurança), caminha a passos largos, onde se lhe nota austeridade, de líder, no rosto.


Os convidados, estrangeiros e de várias nacionalidades, fora do palácio de Maria Guiomar e Constantino. De notar e a realidade da época (século XVII), os convidados com copos de vinho tinto nas mãos. Nas grande festas e nos almoços e jantares oferecidos por Constantino e Maria Guiomar, não faltava o vinho à mesa e avultadas encomendas do francês chegavam a Lop Buri, para a garrafeira do palácio.


Actores que permaneciam no palácio do Rei Narai, para entretenerem o monarca, onde se incluiam chineses exibem a sua arte em frente à sala da recepção de uma das festas que Maria Guiomar e Constantino, enquanto o casal assiste à entrada da porta.


A "arraia-miúda" e súbditos do Rei Narai vêem mostrar-se aos convidados de Maria e Constantino. Gente feliz e crianças com os seus brinquedos da época uma folha de banana, entre as pernas e correndo como se montassem a cavalo. O povo siamês, sempre haja vivido sob o signo da abundância. Assim o relatou o nosso Fernão Mendes Pinto, na sua obra de dois volumes a "Peregrinação".


Passam, em palanquins aos ombros de guardas, as princesas reais, filhas do Rei Narai, em frente à sala da festa oferecida por Maria Guimar e Constantino Falcão, para assim se apresentarem à comunidade internacional, residente em Lop Buri


Dançarinas da Corte de Rei Narai, fora do palácio de Constantino Falcão exibem-se com a dança das unhas para obsequiarem os convidados.


Maria Guiomar e Constantino Falcão, entre os convidados, depois da faustosa festa, onde dançaram ao som da valsa, despedem-se do público. Imagem do lado direito, a bela Maria Guiomar com o seu esposo Constantino que não tarda a ser preso a ordens do General Petraja que nunca viu com bons olhos que um estrangeiro seja elevado a Primeiro-Ministro e pessoa próxima a Rei Narai.


Constantino Falcão (de costas) grego, Primeiro-Ministro de Rei Narai, que pretendeu criar relações comerciais com países estrangeiros, recebe ordem de prisão pelos soldados do General Petraja. Vítima da intriga, de invejas e nunca bem olhado pelos siameses ligados à Corte do Rei Narai.


As princesas, filhas de Rei Narai, cheias de dor, aguardam novas sobre o estado de seu Real Pai. Rei Narai está moribundo. Chega, entretanto, o médico da corte e anuncia o Rei está morto.
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Rei Narai, está morto, as princesas e suas aias retiram-se, absolutamente desoladas. O Grande Rei e o que deu início à continuação da moderna Tailândia dos dias actuais.

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http://www.portugal-linha.pt/legado/voriente/psiao9.html