Saturday, January 29, 2011

ARQUIVO HISTÒRICO - O MEU SÁBADO EM PROCURA DA HISTÓRIA DE BANGUECOQUE

Escrito: em Monday, 17 August 2009

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Sábado, Domingo e os dias da nova semana que se seguem são todos os iguais para mim. Orgulho-me de ser o único reformado do Ministério dos Negócios Estrangeiros depois de ter servido a diplomacia, em nome de Portugal, na Tailândia, ter ficado por cá.
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No passado sábado, 15 de Agosto e o dia da veneração da Nossa Senhora de Assunção, em Portugal, estou em casa sem saber aquilo que irei fazer da parte de tarde. Não me apetece mexer uma palha nem bater tecla que valha porque estou sem inspiração nenhuma.





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Por devoção à Senhora de Assunção também não vou ser má língua e insurgir-me com os meus rivais, desta praça, que seguem demasiadamente cansados e com a cabeça feita em água de tantas investigações políticas e culturais dos seus dias e dias a passearem nos corredores das grandes superfícies comerciais onde a frescura do ar condicionado é de borla.
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Preguiçosamente inclinei o corpo para as costas do cadeirão que a minha mulher me comprou há uns cinco anos e tem se portado com resistência admirável na estrutura e nas quatro rodas na base.
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Fechei os olhos por um momento e quando me preparava para entrar nas brasas chegou-me à memória um templo ao ar livre e a história viva de Banguecoque depois de meados do século -XIX e princípios do XX.


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O lugar poderá ser macabro para alguns, dado que todo aquele espólio histórico está dentro de um cemitério, mas para mim não tem esse significado pelo amor à história e às coisas do passado.
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Trata-se do Cemitério Protestante, na Chalerm Krung Road e ali foram sepultadas as grandes figuras, estrangeiras, que elas se deve, hoje, a cidade de Banguecoque e o modernismo da Tailândia.
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Levanto-me do cadeirão pego na Nikon D70, verifico as baterias e toca a dirigir-me para a Chalerm Krung e verificar como as coisas se quedavam e o terreno, frequentemente alagado motivado pela subida do caudal do Rio Chão Prya. Estava seco o solo em alguns locais e outros ainda alagados mas com pé para se caminhar.
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Quando visitei Banguecoque, pela primeira vez, há 32 anos e viria a ficar para sempre, a cidade encerrava ainda muito daquilo que tinha sido havia 150 anos.


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Casas de madeira de teca, na moderna rua da Silom, nas avenidas Sathorn e Sukhumvit. Na zona ribeirinha, apenas o velho Oriental Hotel, os correios Centrais, a residência dos embaixadores de Portugal, uma casa velha, desabitada, sino portuguesa, na Captain Bush Lane (que nunca cheguei a descobrir que ali teria vivido) e a seguir os armazéns da empresa fundada pelo Louis Leonwens (filho da famosa escritora Anna Leonwens).
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O cemitério protestante da Chalerm Kkung está carregado de história e nele repousam as individualidades, estrangeiras, que contribuíram para a modernização da cidade de Banguecoque e a Tailândia.
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Quando a terceira capital, Banguecoque, foi transferida de Ayuthaya em 1782 entrou numa nova era. Já me referi, anteriormente, que a cidade cresce com as navegações a vapor que da Europa e dos Estados Unidos entram na embocadura do Rio Chão Praya em procura das muitas riquezas de um Reino do Sião rico. Foi o fim dos centenários juncos chineses.
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Seria longa a história e preenchia inúmeras páginas se aqui a fosse contar no seu todo. Vamos porém resumi-la. A partir da década 30 do século XIX, chegaram a Banguecoque os missionários protestantes americanos de que viriam a influenciar S.M. Majestade o Rei Mongkut, antes de ser entronizado Rei Rama IV, que viria não só a expressar-se fluentemente na língua inglesa com obter conhecimentos sobre os hábitos do
ocidente.



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Na década de 50, do século XIX, já existe uma comunidade, estrangeira numerosa em Banguecoque e foi aumentando até aos dias de actuais.
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Empresas estrangeiras estabelecem-se num quarteirão, não muito distante da margem esquerda do Rio Chão Prya e numa extensão de uns quinhentos metros que se situava entre o princípio do “China Twon” até bifurcação da Chalerm Krung com a Silom Road.
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Mas entre as pessoas, estrangeiras que geriam empresas ou exerciam suas actividades dentro das mesmas, há outras contratadas pelo S.M. o Rei Mongkut , para modernizarem o reino no estilo da administração ocidental. Porém dada a insalubridade de Banguecoque e a disposição da cidade em solo alagadiço estava a nova capital sujeita a pandemias como a febre tifóide e a cólera que não poupava classe étnicas e uma esperança de vida muito limitada e pouco além de meio século de vida.
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Onde há vida existe a morte e, com os hábitos das comunidades estrangeiras onde se incluem, a chinesa e muçulmana com a tradição de enterramento dos corpos, a Coroa siamesa doou-lhes terrenos para enterrarem os seus defuntos.
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As concessões são oferecidas conforme a etnia a que pertenciam. São assim implantados os cemitérios Protestante, na extensão da Chalerm Krung, o Católico, Ortodoxo e o chinês, na Silom Road em talhões separados. O três bairros portugueses; Senhora do Rosário, Santa Cruz e da Imaculada Conceição têm os seus próprios cemitérios paroquiais que desapareceu, o do Rosário e o de Santa Cruz sendo o terreno ocupado com construções para a Igreja Católica.
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O católico da Silom Road, também desapareceu e apenas ficou o talhão chinês e uns espaços, particulares, que pertencem a famílias chineses abastadas, que não consentem que naqueles espaços, bastante, largos a profanação do espaço onde dormem seus antepassados, praticamente desde a fundação de Banguecoque em 1782.
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Toda a história, viva, da fundação da cidade perdeu-se e difícil poder fazer-se um
inventaria dos que ali foram enterrados que foram um quinhão que contribuíram para edificar a grande cidade, de Banguecoque, que é hoje.
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Mas o Cemitério Protestante da Silom Road já está dado como monumento da cidade e vai ficar para sempre. Há uns quatro anos descobrimo-lo, fizemos umas poucas imagens, mas não podemos caminhar pelo meio das sepulturas dado que o terreno, que se afunda ano por ano, estava completamente alagado. O capim alto também dificultava para ler os nomes dos epitáfios que parte deles completamente apagados.


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Pelas arvores, com as raízes protegidas, estendidas pelo chão, me pareceu que aquele campo histórico vai ser transformado em Parque e os nomes, esculpidos no granito ou em mármore fina de Carrara, e trabalhava por artistas italianos que viviam em Banguecoque vão ser avivados e dar a oportunidade que sejam lidos os nomes das importantes figuras que ali dormem.
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O meu objectivo é o poder encontrar o nome de duas pessoas para que possa completar a investigação sobre suas vidas e obras.
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As fotografias inseridas bem dão conta das proeminentes figuras que ali foram enterradas entre elas o Almirante Bush, o nome da rua onde se situa a Embaixada de Portugal em Banguecoque.
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Digno de realce que pelos bons serviços que prestaram ao Reino Sua Majestade o rei Chulalongkorn mandava-me erigir um monumento como prova de gratidão aos seus bons serviços.
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Voltarei de quando aquele monumento nacional ao ar livre esteja transformado em parque, os nomes nos epitáfios avivados e continuar a minha investigação. Mas já recolhi vários nomes que me eram familiares, entre eles membros da família do médico Campbell e outras que deixaram nome em Banguecoque.
José Martins

Monday, January 17, 2011

CELESTINO XAVIER - PORTUGUÊS ILUSTRE NA CORTE DO REINO DO SIÃO

Escrito: Wednesday, August 29, 2007

CELESTINO XAVIER - Português Ilustre na Corte do Reino do Sião

Celestino Maria Xavier um luso-descendente ilustre no Reino do Sião no final do século XIX e princípio de XX.
Desempenhou cargos importantes na Corte do Rei Chulalongkorn desde, diplomata, Sub-Secretário de Estado a Vice-Ministro das Finanças.
Foi uma personalidade proeminente nos meios civis e oficiais da cidade de Banguecoque. Vamos assim
descrever a história de Celestino Xavier, que obteve da Corte o título honorífico Phya Paipat Kosa.
Há uns 25 anos entrei, por curiosidade, num cemitério na rua da Silom a cerca de 500 metros da "New Road"; a primeira via construída na capital do Sião e adjacente ao rio Chao Praya. A minha curiosidade seria se por lá haveria gente, sepultada, portuguesa e luso-descendente.

Na rua principal daquele campo de repouso e a uns 30 metros da entrada do portão principal erguia-se um mausoléu de enormes proporções. Um pouco abaixo da cúpula uma inscrição em letras largas: XAVIER.
Celestino Xavier, Phya Phipat Kosa (a) entre as personalidades, proeminentes, da Corte do Rei Chulalongkorn

Pensei desde logo que aquele nome deveria ser português e dentro estivesse gente, lusa, sepultada, emigrada de Goa, Macau ou mesmo de Portugal. Não ficou de fora a hipótese a certeza de pertencer uma "clã" de família. importante, de negócios de Banguecoque.



O Mausoléu da "clã" Xavier foi edificado no cemitério da Rua da Silom, possivelmente, na década de sessenta do século XIX e teria sido depois do falecimento de Lucia Phuang Xavier, em 1863, com a idade de 17 anos. A foto do lado direito é como hoje se encontra no cemitério, católico, da Santa Sé, na província de Nakhon Pathon e a uns 40 quilómetros do centro de Banguecoque. O mausoléu e as ossadas foram transladas em 2004.
NOMES DESIGNADOS NAS PLACAS DENTRO DO MAUSOLÉU
1. Joachim Maria Xavier (o patriarca) Nasceu em 1793 - Faleceu a 22.7.1881, com a idade de 88 anos e correcto o registo do assento de falecimento do Consulado de Portugal)
2. Catharina Ti Xavier - Nasceu em 1811 - Faleceu em 10.10.1876
3. Luiz Maria Xavier - Nasceu em 1840 - Faleceu em 15.2.19024.
4.Lucia Phuang Xavier -Nasceu em 1846 - Faleceu em 1863
5. Adeodato F. de Jesus - Nasceu em 1841 - Faleceu em 1885
6. Leopoldina Maria de Jesus - Nasceu em 1850 - Faleceu em 1890
7. Joachim Maria Xavier JR - Nasceu em 1857 - Faleceu em 27.2.1898
8. Luiz Maria de Jesus - Nasceu em 1879 - Faleceu em 1883
9. Julia Antonio de Jesus - Nasceu em 1883 - Faleceu em 21.10.1896
10. Joaquim Maria Xavier - Nasceu em 1901 - Faleceu em 1902
11. Henriqueta M. Xavier - Nasceu em 6.9.1908 e Faleceu em 28.04.19o9
12. Koon Ying Bairm - N. em 1 de Out. de 1871 - F. em 8 de Abril de 1912
13. Celestina Maria Xavier - N. em 7 de Julho de 1911 - F. em 8 de Janeiro de 1998
14. CELESTINO MARIA XAVIER (PHYA BIBADH KOSHA) - NASCEU EM 18 DE OUTUBRO DE 1863 - FALECEU EM 30 DE OUTUBRO DE 1922
"THY WILL BE DONE" (Transcrita fielmente a inscrição da placa)
15. KHUNING SRISAR VACHA (HARSARET LIN XAVIER) NASCEU A 25 DE MAIO DE 1868 (Ilegível a data do falecimento) - Aventamos a hipótese que Khuning Srisar Vacha. deveria ser a esposa de Celestino Maria Xavier, dado ao título honorífico que ostentava, só conferido a senhoras esposas de proeminentes figuras ligadas à Corte. Costume que nos dias de hoje se mantém.

No cemitério da rua Silom, há 20 anos, estavam por lá muitas sepulturas (iremos tratar, este assunto próximamente) bem cuidadas, flores, em jarras, frescas e lápides com nomes portugueses.

Entre essas duas abandonadas divididas por cerca de um metro, pertenciam a dois cônsules portugueses: Luis Leopoldo Flores e do Dr. Joaquim Campos.
Desde que as encontrei, pela primeira vez, nunca mais ficaram desprezadas. Encarreguei uma "mulherzinha" já velha que andava por ali a limpar sepulturas para, retirar os "cacos" partidos de jarras que se encontravam espalhados pelo chão e as ervas em redor. Com uma "mark pen" preta avivei as letras de seus nomes nas placas. Estavam por ali esquecidos os dois cônsules de Portugal e até deu para meditar:

"Tudo neste mundo existe enquanto há vida e depois de terminar vai-se a memória de vida, enquanto foram vivos, dos que partiram. Nem sempre a glória ou desaire da presença do Homem Português (já que mais não fosse o prestígio de ter ser sido português) na Ásia, lhe chegou depois da morte. Ficaram por aí esquecido e valha-nos, ainda, os poucos túmulos, com os epitáfios, existentes, para que alguém interessado na história investigue a vivência de sua passagem por terras do Oriente".
Voltei uns dias depois para fotografar as sepulturas com os nomes portugueses. A porta do mausoléu da Família Xavier estava segura por um arame, desengonceio-o e entrei dentro. Uma família completa, dormiam o sono eterno nos túmulos cavados no solo do mausoléu e cobertos com placas de granito.
Lápides apostas nas parede aparador de mármore sem jarros e há muito ninguém ali tinha colocado uma flor que fosse ou mesmo de matéria plástica.

Ontem quando o visitamos, mesmo murcha que fosse, não se quedava naquela mesa, uma flor e à sua volta apenas o ambiente de um silêncio sepulcral. Porém, fora daquele mausoléu e uma vaidade necrópole (porque não os vivos, enquanto vivem, se não devem orgulhar, do que hajam sido em vida depois da morte?), árvores, jacarandeiras, cuja ramagem chegavam à cúpula daquele pequeno palácio, do silêncio.

Porém na ocasião que o vi, em verdade, não liguei demasiada importância ao facto e, dentro, estaria, mais uma família portuguesa, ou lusa-descendente, extinguida numa cidade onde a esperança de vida era curta. A cólera a malária, a fraca qualidade de conservação dos alimentos terminava com a vida, das pessoas muito cedo.
A minha investigação em procura da procedência e raizes da família Xavier ficou esquecida por mais de duas décadas.

Tive conhecimento, entretanto, através da leitura que L. Xavier tinha sido proprietário de uma fábrica de descasque de arroz algures em Banguecoque e junto à margem do rio Chao Prya (Klong Kut Mai).

A informação chegou-me graças a um livro adquirido em 1994 "Twentieth Century Impressions of Siam: Its History, People, Commerce, Industries, and Resources" - Arnold Wright - Oliver T. Brakspear - Edição de 1908 e editado, há anos pela "White Lotus" ( www.whitelotuspress.com ) da cidade de Banguecoque.

Uma obra com interesse e muito útil a todos os investigadores interessados na história do antigo Reino do Sião, que recomendamos adquiri-la.
Para facilitar a informação aos historiadores e, para que a nossa tradução livre possa, inocentemente, deturpar a história, vamos transcrever o texto em língua inglesa e inserir as fotos relativas à fábrica de descasque de arroz.



L. XAVIER RICE MILL

"His Excellency Phya Phipat Kosa, The Permanente Under-Secretary of the State for Siam, is the head of one of oldest European families in the country. His ancestors came from Portugal do Bangkok upwards of a hundred years ago, and members of the family have held important posts under the Government almost continuously since that time. His Excellency´s father, Mr. Luiz Xavier - for Xavier is the family name, although the subject of this sketch is now generaly known by his official title of Phya Phipat Kosa - held the post od Deputy-Minister of Finance, and also that of honorary Consul of Portugal. After spending the best years of his life in the Governemnt service, he retired in orden to have more time to devote to his many private business interests, which were requiring his personal Bangkok, and educated in England and on the Continent. Having completed his studies, he entered the Foreign Office, and was shortly afterwards attached to the Royal Siamese Legation in Paris. On returning to Siam his promotion was rapid, and he soon attained the responsible position he now holds. In addition to official responsabilities he has the control of importante business interests, for he owns a rice mill and a considerable amount of land property. The mill is situeted on the Klong Kut Mai, and is noted for the high quality of white rice it turns out. His Excellency has just completed the construction of the granulating mill further down the river, wich is the second only of its kind in Bangkok. The mills are known by the name of the L.Xavier Rice Mills".


Após ter feito a descoberta que a família Xavier era de descendência portuguesa, fui procurar na reduzida informação em minha posse.
Nas cópias extraídas de um livro de assentos de nascimento,casamento e óbito do Consulado de Portugal em Banguecoque vamos encontrar no registo número 37 o seguinte:

"Falecimento de Joaquim Maria Xavier, com 88 anos, em 4/10/81, natural de Macau, comerciante, viúvo, morreu de senilidade. Foi sepultado no cemitério da Igreja do Rosário. Lavrou o óbito o missionário E.B. Dessalles e certifica-o o cônsul Henrique Prostes".


Na continuação da nossa "vasculhação" abrimos a obra "Portugal na Tailandia", escrita pelo Padre Manuel Teixeira, editada em Maio de 1983 (consulado do Embaixador Melo Gouveia), pela Imprensa Nacional de Macau. e vamos encontrar na página 259 o seguinte:


LUIS MARIA XAVIER - Vice-Cônsul

No Arquivo do Consulado Português de Bangkok encontrámos vários dados sobre Luis Xavier, que completamos com outros respigados nos Arquivos de Macau.Num documento de Agosto de 1902, lemos: " Joaquim Maria Xavier, natural de Macau, faleceu há muitos anos; deixou três filhos e duas filhas: - 1. Luis Maria Xavier, que foi Vice-Cônsul - 2. Joaquim Maria Xavier - 3. Viriato Maria Xavier - 4. Leopoldina Maria Xavier - 5. Alexandrina Maria Xavier".

Joaquim e Viriato faleceram em tenra idade já há alguns anos; Luis há mais dum ano e meio, deixando um filho legítimo, Celestino (Phya Piapat Kora; Leopoldina faleceu há algum tempo, deixando 5 filhas e 3 filhos: 1. Maria Francisca de Jesus - 2. Guilhermina Antónia Inês de Jesus - 3. Amélia Maria de Jesus - 4. Emília de Jesus - 5. Libânia Victória Leopoldina - 6. José de Jesus - 7. Guilherme F. Jesus - 8. Adeodato Francisco, que está em Paris como adido da legação siamesa.

Libânia Victória Leopoldina casou em 1903 com Germano Egídio de Jesus, nasceu a 1-9-1875 em Bangkok, filho de Filomeno Manuel de Jesus e de Micaela Antónia da Silva, de quem teve um filho, Victor Germano Egídio de Jesus; este casou em segunda núpcias, em 1905, com Guilhermina Antónia Inês. Sobre Joaquim Maria Xavier, irmão de Luis Maria Xavier, aparece no Consulado este documento:

Uma foto rara (1905) do terreno do Consulado de Portugal, com o mastro e a bandeira das quinas a flutuar no vento. O pau de bandeira, foi por muitos anos o ponto de referência, da navegabilidade dos canais em direcção ao Rio Chao Prya. A doca de Banguecoque quedava-se a cerca de 300 metros, a jusante (ainda nos dias de hoje existe o edifício da alfãndega em ruinas) e onde todo o tráfego marítimo, cargas e descargas de mercadorias locais e estrangeiras se processava.

"Que pela morte do aludido Joaquim Maria Xavier (troco) tendo ficado dele um terreno situado quase ao pé d´este consulado e confrontado por nascente com o terreno do Governo siamês pelo poente terreno do consulado geral de Portugal, norte da Bush Lane e sul missão americana, terreno em que existem três pequenas casas de madeira cobertas de folhas de palma, sendo duas pelo lado ocidental e uma pelo lado oriental, e mais uma ao centro também de madeira pertencente ao aludido Phya Pat que a mandou levantar não pode ser materialmente dividida em três partes iguais, vista a situação dos prédios já mencionados. Que por estes mesmos outorgantes, de comum acordo, resolveram que o mesmo terreno seja vendido em hasta pública, perante este consulado geral, para ser o produto dividido na razão do direito de sucessão em três partes, sendo uma delas sub-dividida entre os representantes do 3º ramo - Leopoldina Maria Xavier.

(ass.) Luis Leopoldo Flores, Maria Francisca de Jesus, Guilhermina A.I. de Jesus, Amélia Maria de Jesus, José Maria de Jesus (ilegível, feitor de G.A. Jesus), Domingos Maria Xavier, Eusébio Sequeira", (mais um nome ilegível).

Luis Maria Xavier foi nomeado Vice-Cônsul em 6 de Agosto de 1889, sendo demitido pelo seguinte ofício de 13 de Outubro de 1894 do cônsul Frederico António Pereira:

Elenco que fez parte do Governo do Rei Chulalongkorn, em 1985. Celestino Maria Xavier (o segundo da esquerda a partir da terceira fila, em pé, não se reconhecendo a face), designado como Phraya Phipya Kosa ( Tor Chotikastira). Foto extraída do livro "A Pictoral Record of THE FIFTH REIGN)


"Tenho a honra de informar V.Exa. que, sendo altamente repreendido pelo Director-Geral dos Consulados, por ter deixado este Consulado, durante a minha ausência, entregue a V.Exa que não soube ou não se dignou cumprir com as instruções que eu lhe tinha deixado, sou obrigado a dar-lhe a sua demissão.Queira portanto V.Exa considerar-se demitido do cargo de vice-cônsul de Portugal desde a data deste" Eduardo Augusto Rodrigues Galhardo, Governador de Macau (1897-1900), visitou Bangkok em 1898. No relatório que elaborou após a visita escreve acerca desta demissão"...(Há) " um agravo e uma injustiça que está pesando sobre um cavalheiro a quem Portugal deve gratidão pelos serviços desinteressados prestados ao país, e pela protecção que tem dispensado e está sempre pronto a dispensar a todos os súbditos portugueses que se lhe acercam. Este cavalheiro é o cidadão português Luis Maria Xavier, nascido em Bangkok de pais portugueses, cavaleiro e comendador da ordem militar de Nosso Senhor Jesus Cristo, que goza de maior consideração por parte das autoridades locais e dos estrangeiros residentes, e que tem feito da sua fortuna e da sua influência pessoal largo uso a bem dos seus compatriotas.Luis Maria Xavier foi em 6 de Agosto de 1889 nomeado vice-cõnsul de Portugal em Bangkok; como tal, prestou muitos e desinteressados serviços, zelando pelos interesses dos súbditos portugueses durante o período crítico da Guerra franco-siamesa (1), e promovendo tudo o que pudesse engrandecer a sua pátria naquele país, como já anteriormente tinha feito, sendo um dos que mais trabalharam para conseguir um edifício para o nosso consulado, propriedade do Governo de Portugal e em terreno português, noq ue logrou ver coroados de êxitos os seus esforços, para o que adiantou o capital necessário, que depois lhe foi pago por decisão do governo.

A honestidade e respeitabilidade deste cavalheiro abriram uma separação entre e ele e o cõnsul Pereira, que sabia perfeitamente não encontraria no vice-cônsul aprovação ou auxílio para qualquer acto que não fosse absolutamente legal e justo e que, receando uma observação ou a representação oficial da parte de quem, residindo na localidade, a podia fazer com tantos e tão seguros elementos, evitava a todo o transe entregar-lhe o consulado.

Foi assim que, durante a ausência do cõnsul Pereira em 1890, o consulado de Portugal, em vez de ser gerido pelo vice-cônsul, ficou a cargo do cônsul da Holanda.


Na segunda ausência do cônsul Pereira em 1894, naturalmente porque o estado dos negócios do consulado era já assás conhecido e não houve cônsul estrangeiro que aceitasse o encargo, ficou a gerência entre ao vice-cônsul Xavier: se a honestidade deste lhe fazia condenar o procedimento do cônsul Pereira, o seu carácter bastante generoso calou o que viu e o que já sabia, e durante a sua interinidade só procurou acudir aos interesses dos súbditos portugueses que, naquela época anormal, reclamavam especial atenção, e sanar os atritos que da passada gerência iam surgindo.

Voltando o cônsul Pereira a retomar o seu posto, dirigiu ao vice-cônsul, em paga de não haver denunciado as suas faltas, sem haver a mais leve troca de explicações: um ofício de poucas linhas, com ele, cônsil Pereira, lhe dava a demissão de vice-cônsul e dizia que se considerasse demitido desde a data do ofício, 13 de Outubro de 1894.

Sem conhecer bem do valor da demissão nos termos em que lhe era comunicada, Luis Maria Xavier julgou-se contudo fundamente ofendido por um tão injustificado e brusco procedimento, tão oposto áquele que lhe tinha direito a esperar, e dirigiu, poucos dias depois, em 27 de Outubro, uma exposição documentada a sua excelência o ministro dos negócios estrangeiros daquela época, relatando o sucedido e esperando a satisfação que lhe era devida.


A essa exposição nunca obteve resposta, e de então para cá aquele respeitável ancião tem vivivo amargurado com a ofensa que recebeu do representante do seu país, ao qual ele tantos serviços prestou, mas nem por isso tem deixado de continuar a ser-lhe dedicado, e de espalhar favores pelos portugueses que o vão procurar, conseguindo para eles, das autoridades siamesas, graças que o cônsul nunca conseguiu por não ter influência para as obter.

(1) Refere-se à guerra de 1893: a 10 de Julho o Governo Francês avisou o príncipe Dewawongse de que as canhoneiras Inconstant e Cométe cruzariam, a 13 deste mês, a barra do rio Chào Phya a caminho de Bangkok. Sendo recebidos a tiro, conseguindo ancorar em frente da Legação Francesa. M.Develle, Min.º dos Neg. Est. da França mandou um ultimatum a 20 de Julho com pesadas cáusulas, que o Sião foi forçado aceitar.

O Governo português certamente não pode e não quer ser solidário com tão grande arbitrariedade, que revolta pela injustiça e pela ingratidão que encara: é justo que o cidadão Luis Maria Xavier, que nasceu em Bangkok, que nunca viu Portugal, e que, apesar disso, naquele recanto do mundo tem sido em toda a sua vida já longa dedicada a Portugal e aos portugueses, saiba, mesmo na velhice, que a Pátria teve conhecimento da sua dedicação, e que não é injusta para com aqueles que dela bem merecem.

Parece-me um acto de justiça, a reintegração do cidadão Luis Maria Xavier, proprietário residente em Bangkok, no cargo de vice-cônsul de Portugal naquela cidade:reparação que apenas depende da cumulação de um ofício ditado por meu espírito elucidado.


À parte de personalidades estrangeiras que o Rei do Sião contratou no estrangeiro para a organização dos serviços de administração da Corte, numerosos homens de negócios se instalaram em Banguecoque quer por sua conta ou representando empresas europeias ou dos Estados Unidos.

Como sinal de reconhecimento pelos muitos importantes serviços por ele prestados, não duvido solicitar de V.Ex.ª, acompanho-o de particular recomendação.


A 6 de Outubro de 1899, Galhardo voltava a chamar a atenção do ministro para a reparação dessa injustiça.

A 9 de Maio de 1899, F. Neiva, Ministro dos Negócios Estrangeiros, respondeu que ia propor ao rei a condecoração para o ex-Vice-cônsul Luis Maria Xavier; mas quando à sua reintegração no consulado, dependia do no cônsul, Luis Corrêa da Silva, a quem competia escolher empregados de sua confiança.

Quanto a Frederico Pereira, sugeria que se lhe fizesse um inquérito rigoroso, dada a gravidade dos factos da sua gerência (1).

De facto, a Luis Xavier doi concedida a condecoração de Comendador; e o Cônsul Luis Corrêa da Silva entregou-lhe o consulado a 9 de Setembro de 1900, em que se retirou para Portugal. Ele geriu-o até à chegada do novo Cônsul, Luis Leopoldo Flores, em 22 de Dezembro desse ano.

Assim lhe foi reparada a injustiça.


No Reino do Sião havia muito que comprar e que vender! Um país de recursos naturais a explorar. Na linha de pensamento (herdada pelo Pai o Rei Mongkut) do Rei Chulalongkorn seguia que para o Sião voltar numa monarquia próspere teria que equiparar-se aos países do Ocidente e relacionar-se com eles.


À MARGEM

A nossa investigação em cima da família Xavier, de orígem portuguesa, residente em Banguecoque não ficou finalizada. Necessitamos de procurar se ainda vivem descendentes. Se a fábrica de descaque de arroz ainda labora, se passou para outras mãos ou se abandonada.

A família Xavier, sem termos qualquer dúvida em o afirmarmos foi a família mais antiga, portuguesa, que se instalou na nova capital do Sião. Celestino Maria Xavier, foi um dos seleccionados por S.M. o Rei Chulalongkorn, e certamente um dos priviligeado com uma bolsa de estudos para ser educado no estrangeiro. O grande Rei, além de conceder bolsas de estudo a siameses enviou seus filhos para capitais europeias para ali serem instruídos e de volta ao Sião contribuirem para o desenvolvimento da monarquia.

O Patriarca da família, Joaquim Maria Xavier, emigrou de Macau para Banguecoque (igual a outros macaenses que excerceram importante funções na Corte do Sião) e teria começado a construir o seu império de negócios, aí por volta de 1820 de quando foi doado o terreno a Portugal para construir Feitoria.

Pelo que analisamos foi um homem de grande influência junto da Corte de três Reis: Rama III,IV e V. Seus filhos, luso-descendentes, nunca deixaram de gostar de Portugal e Joaquim Maria Xavier optou por dar nomes de baptismo portugueses a seus filhos.

Não se encontram referências dos Cônsules Portugueses no Sião a enaltecerem a família Xavier e a posição de Celestino Maria Xavier, como Sub-Secretário de Estado e Vice-Ministro das Finanças. Compreendemos que certos cônsules de Portugal se deixavam envolver em "fastidiosas" intrigas de que não lhes dava para se acolmatarem aos que os rodeavam, diplomaticamente.

Pelo que transcrevemos acima, do Monsenhor Manuel Teixeira, bem razão temos para o afirmarmos, que (certo) acervos de Poder inventavam, difamavam os que os serviam, em prejuzio do país que representavam.

José Martins

P.S. Material de imagem inserido foi obtido de várias publicações da época e outro do autor.